O mundo em Amarante: está aí a quarta edição do Festival Mimo

Com nomes como Salif Keita, Seun Kuti ou Mayra Andrade, a quarta edição do festival Mimo em Amarante aposta forte na música africana, mas não esquece as suas raízes brasileiras nem os músicos nacionais.

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Paulo Pimenta

O festival Mimo aconteceu pela primeira vez em 2004 no município brasileiro de Olinda: tinha como intenção sensibilizar a comunidade para a importância do património através de eventos culturais de entrada gratuita, com a música a assumir um papel principal. Expandiu-se por diversas cidades brasileiras (Recife, João Pessoa, Ouro Preto, Tiradentes, Paraty e Rio de Janeiro) e, em 2016, chegou a Amarante, distrito do Porto, onde se realiza anualmente desde então, tendo já recebido nomes como Herbie Hancock, Rodrigo Amarante ou Tom Zé.

Apesar de não descurar, musicalmente, as suas raízes brasileiras, a quarta edição do Mimo amarantino, que decorre desta sexta-feira a domingo, oferece (literalmente, já que a política de gratuitidade se mantém) uma programação ecléctica, combinando géneros musicais de todo o mundo. No entanto, é notável a forte aposta na música africana, que vai de nomes icónicos do passado até talentos mais contemporâneos: um dos maiores destaques do cartaz é o maliano Salif Keita (dia 26, 0h30), reconhecido como “a voz dourada de África”, que aos 69 anos vem ao festival apresentar o seu 14.º álbum de estúdio, Un Autre Blanc ("Um outro branco”, numa referência ao seu albinismo), que, segundo diz, será o último. Nesse mesmo dia, sexta-feira, actuarão a dupla portuguesa Miramar (20h), projecto que junta Frankie Chavez e Peixe (ex-Ornatos Violeta) e que procura explorar as possibilidades de casamento entre a guitarra portuguesa e a guitarra eléctrica; os palestinianos 47Soul (23h), uma das mais promissoras bandas do Médio Oriente, parte do movimento shamstep (cruzamento de electrónica com o dabke, género de música e de dança tradicional daquele território); os brasileiros Bixiga 70 (21h30), combo de São Paulo que mistura musica brasileira com funk, samba-jazz, reggae e afrobeat; e ainda a dupla constituída por Fred Ferreira e Lívia Nestrovski (19h), apontada pela organização “como uma das maiores e mais versáteis vozes da música brasileira da actualidade”.

O segundo dia do Mimo reincide na aposta em nomes icónicos da musica africana: em palco estará o nigeriano Seun Kuti (23h), filho do lendário Fela Kuti, criador do afrobeat, que se apresenta em palco com a antiga banda do pai, os Egypt80, para dar continuidade ao legado do seu progenitor. O rapper brasileiro Criolo (0h30) é outro dos destaques deste dia, com um concerto integrado na digressão Boca de Lobo, que partilha o nome com o tema lançado em Outubro de 2018, em que o músico faz uma retrospectiva da sua carreira. Portugal estará representado com artistas como o cantautor de Tondela Samuel Úria (21h30), que no ano passado lançou o EP Marcha Atroz, o campeão mundial de scratch DJ Ride (2h) e Chico da Tina (20h), vencedor do Prémio Voto Popular, que lhe valeu esta actuação, e que vai levar ao Mimo o seu trap-pimba, misturando influencias deste estilo de rap com o humor típico da música popular portuguesa.

No derradeiro dia do festival estarão presentes talentos emergentes (e afirmados), com destaque para a cabo-verdiana Mayra Andrade (23h), um dos nomes mais entusiasmantes do afrobeat moderno, o brasileiro Rubel (21h30), que na semana passada esteve no Super Bock Super Rock, e Stereossauro (20h), autor de um dos mais entusiasmantes álbuns portugueses de 2019, Bairro da Ponte, que mistura o fado com música electrónica, hip-hop e rap, e que terá consigo em palco, como convidados, o fadista Camané e a rapper Capicua.

Mas a quarta edição do Mimo não se esgota na música: a programação paralela conta com workshops e palestras a cargo dos músicos e de outros convidados e com sessões de cinema e de poesia. Texto editado por Inês Nadais

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