O problema de Rui Rio não é com as sondagens

O problema de Rui Rio não é com as sondagens que fazem sentido. Muito menos a de qualquer viciação insinuada das mesmas. O problema de Rio é com a própria lógica da política que ele se recusa a aceitar.

É certo que nem os melhores sociólogos conseguem compreender a intenção de voto e a própria volatilidade de todos os eleitores, mas mesmo os que não o são e fazem ou analisam política têm várias formas de percecionar ou prever certas intenções. Até as surpresas mais ou menos dececionantes na política de hoje podem ser sustentadas por alguma lógica. Algumas são óbvias e mais fáceis de prever, outras nem tanto. Das menos óbvias dos últimos anos, a eleição de Donald Trump em 2016, por exemplo. Das mais óbvias e recentes, uma eventual maioria absoluta do PS em outubro.  

A reação de Rui Rio às últimas sondagens que colocam o PS muito perto dessa maioria absoluta não é uma reação politica (o que a torna mais penosa) a descurar essa lógica, mas a de alguém que nunca procurou entender bem os indicadores do resultado das europeias em maio. Por isso se recusa a acreditar nas sondagens desta terça-feira. E não está sozinho. Nos dias seguintes às eleições, os seus assessores e grande parte da direita apontou ao resultado baixo do PS, comparando-o ao de há cinco anos. Tanto para o exterior como internamente passaram ao lado do mais relevante: o facto quase inédito de um governo ter ganho com facilidade as europeias e com um candidato que passou as passas do algarve durante a campanha.

Com a aceitação desta lógica, teriam percebido a partir daquele momento que não era o PS que tinha de conquistar a maioria absoluta a pairar no ar, mas muito provavelmente o PSD que a tinha de evitar. Acrescido de tudo o que isso significava de herculano para quem não tinha estratégia e caminhava para o abismo. Assim se manteve, o que tornou tudo mais penoso para quem acredita na importância de uma oposição reforçada e equilibrada à direita e se lembra bem demais dos governos de maioria absoluta.

O problema de Rui Rio não é com as sondagens que fazem sentido. Muito menos a de qualquer viciação insinuada das mesmas. O problema de Rio é com a própria lógica da política que ele se recusa a aceitar. 

Assim, e sem nenhum cataclismo no país até outubro, sairá após uma maioria absoluta do PS. É uma pena porque nem sequer chegou a ir a jogo. Pelo menos ao que interessava.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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