PS aprova listas com Governo em peso

As listas de candidatos já foram aprovadas. Na sua elaboração houve cuidado com o familygate. Mas houve votos contra, entre eles o de Joaquim Barreto, presidente do PS-Braga, e os da minoria liderada por Daniel Adrião.

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Carlos César, presidente do PS, não é candidato, António Costa e Ana Catarina Mendonça Mendes são cabeças de lista em Lisboa e Setúbal LUSA/MÁRIO CRUZ

As listas eleitorais do PS foram aprovadas terça-feira à noite pela comissão política nacional e caracterizam-se pelo peso significativo de membros do Governo, bem como pela continuidade de muitos dos candidatos de há quatro anos. Só há quatro ministros que não são candidatos.

A ordenação final das listas e a sua composição só foi fechada na reunião da comissão política. Na votação secreta em urna, a aprovação excedeu os 80%. Antes da reunião começar estava já anunciado que contra as listas iriam votar os dez membros da comissão política eleitos pela minoria liderada por Daniel Adrião, que representam 15% dos 65 membros efectivos. Nesta votação tiveram também direito de voto os 35 membros por inerência.

O motivo da rejeição prende-se com o facto de terem defendido a realização de primárias para a escolha de candidatos e esta solução não ter sido acolhida. Além disso, no sábado passado, dirigiram uma carta aberta ao secretário-geral, António Costa, subscrita por 122 dirigentes, militantes e simpatizantes do PS, pedindo para serem incluídos nas listas.

Perante o silêncio da direcção, optaram por votar contra. Antes da reunião, Daniel Adirão afirmou ao PÚBLICO que “não houve diálogo” e declarou mesmo: “Como líder da minoria, competia ao secretário-geral ter tido uma palavra para comigo relativamente ao processo eleitoral.”

Contra a lista de Braga votou o presidente da federação distrital de Braga, Joaquim Barreto, quarto candidato da lista encabeçada pela deputada Sónia Fertuzinhos e que tem como candidatos a seguir o secretário de Estado José Mendes e a líder da JS, Maria Begonha. A lista de Braga era aquela que à partida mais problemas apresentava. Depois da contestação dos militantes do distrito, António Costa decidiu avocar a lista para afastar três dos nomes propostos por Joaquim Barreto: Pedro Sousa, Daniel Bastos e Dora Gaspar. Deste, só Dora Gaspar está na lista final, mas em lugar não elegível.

Familiares de fora

A direcção do PS tirou ilações do familygate ao elaborar as listas, esta é um das conclusões que se tira da análise das escolhas. Há dois presidentes de federação que não serão deputados devido a ligações de tipo familiar com outros candidatos. Esta ausência é rara no PS, já que, por tradição, os líderes das federações são sempre candidatos a deputados em lugar elegível.

Tal como há quatro anos, António Mendonça Mendes, secretário de Estado e líder do PS no distrito de Setúbal, ficou de fora. Só que há quatro anos não presidia à federação como agora. Mas António Mendonça Mendes é irmão de Ana Catarina Mendonça Mendes, a secretária-geral adjunta que encabeça a lista naquele círculo, sendo também directora da campanha eleitoral. O outro presidente de federação que dificilmente entrará no hemiciclo de São Bento, pois está em lugar não elegível é o do Algarve, Luís Graça, já que a sua mulher, Jamila Madeira, é cabeça de lista por Faro.

Há outros dois presidentes de federação que não são candidatos, mas por motivos diversos. Duarte Cordeiro, presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa e secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, não quis entrar nas listas por razões pessoais. Pedro Fonseca não é candidato porque se demitiu da liderança da federação da Guarda, na sequência do chumbo dos nomes que propôs pela comissão política distrital​.

Outro ângulo de análise das listas permite aferir a integração de ex-membros do secretariado do anterior líder, António José Seguro, pela direcção de António Costa, que os chamou ao Governo. Além de Jamila Madeira, o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, é o segundo em Castelo Branco. Quanto a Miguel Freitas, secretário de Estado das Florestas, não é candidato, mas também já não o foi há quatro anos. Quanto a Jorge Seguro Sanches, ex-secretário de Estado da Energia, é agora inspector-geral da Defesa Nacional, pelo que estava automaticamente excluído.

As listas do PS respeitam os novos critérios da lei da paridade que obriga a que a quota mínima por género seja de 40% dos candidatos paridade. Ao nível dos cabeças de lista há sete mulheres em 22 primeiros candidatos: Ana Catarina Mendes (Setúbal), Marta Temido (Coimbra), Ana Mendes Godinho (Guarda), Alexandra Leitão (Santarém) Isabel Rodrigues (Açores) Jamila Madeira (Faro) e Sónia Fertuzinhos (Braga). Assim, nos cabeças de lista, a quota de mulheres é de 31,8% no total dos 22 círculos eleitorais, mas sobe para 38,8% nos 18 distritos do continente, sendo de 50% nas regiões autónomas. No global das listas, segundo a direcção do PS, há 46% de candidatas mulheres.

Ministros quase todos

Há uma grande presença de membros do Governo nas listas. Ao nível mais alto do Governo apenas ficaram fora das listas o ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunen, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. José António Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, não é candidato, pois optou por deixar a política institucional.

Além do primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa (Lisboa), são cabeças de lista os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva (Fora da Europa), da Saúde, Marta Temido (Coimbra), da Educação, Tiago Brandão Rodrigues (Viana do Castelo), das Infra-estruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos (Aveiro), e da Agricultura, Capoulas Santos (Évora).

O ministro do Ambiente, e Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, é terceiro no Porto, círculo eleitoral onde também concorre a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino. Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, volta a ser o segundo candidato em Setúbal.

A ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, o ministro das Finanças, Mário Centeno, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, e o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, surgem com destaque na lista de Lisboa, cujo número dois é a deputada Edite Estrela e o número três é Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, que será de novo indicado pelo PS para o cargo.

Ao nível de secretários de Estado, encabeçam listas Alexandra Leitão (Santarém) e Ana Mendes Godinho (Guarda). Mas também Fátima Fonseca, Ana Sofia Antunes e Miguel Cabrita são candidatos em Lisboa. Isabel Oneto, José Luís Carneiro e João Torres surgem em lugar elegível no Porto. José Mendes é terceiro em Braga. Eurico Brilhante Dias é o segundo em Castelo Branco. José Apolinário é o segundo em Faro. Maria do Céu Albuquerque é terceira em Santarém. João Galamba e Ricardo Mourinho Félix estão na lista de Setúbal. Anabela Rodrigues é terceira em Viana do Castelo. João Paulo Rebelo é terceiro em Viseu.

Quanto a deputados, a ex-ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa é também candidata pelo Porto. Já o seu antigo secretário de Estado, Jorge Gomes, é de novo o número um em Bragança. São também cabeças de lista os deputados Paulo Pisco (Europa), Ascenso Simões (Vila Real), Sónia Fertuzinhos (Braga), Jamila Madeira (Faro), Alexandre Quintanilha (Porto), Hortense Martins (Castelo Branco), Luís Testa (Portalegre) e Pedro Carmo (Beja), Carlos Pereira (Madeira), Isabel Rodrigues (Açores). 

O presidente da Câmara de Leiria, Raul de Castro, encabeça a lista eleitoral no círculo do distrito. Em Viseu, a lista é liderada por João Azevedo, presidente da Câmara de Mangualde. Na região autónoma da Madeira, volta a ser cabeça de lista o deputado Carlos Pereira. Pelo círculo dos Açores, estreia-se Isabel Maria Rodrigues, ex-membro do governo regional. A deputada e secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendonça Mendes, repete o primeiro lugar na lista de Setúbal, onde em sétimo lugar está a porta-voz do PS, Maria Antónia Almeida Santos. A presidente das Mulheres Socialistas, Elza Pais, é segunda em Leiria. 

Notícia actualizada às 10h39 de 24 de Julho.

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