Antigo alto quadro da Petróleos de Venezuela encontrado morto em Espanha

Executivo era suspeito de participar em esquema de lavagem de dinheiro que envolveria antigo embaixador espanhol. Gestor tinha prometido colaborar com as autoridades.

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A PDVSA transferiu para offshores, via Portugal, mais de 6000 milhões de euros entre 2011 e 2014 Reuters/Carlos Garcia Rawlins

Um antigo alto quadro do grupo Petróleos de Venezuela (PDVSA) durante a Presidência de Hugo Chávez, Juan Carlos Márquez, foi encontrado morto em Madrid no domingo, dois dias depois de ter sido ouvido pelas autoridades judiciárias espanholas por causa do seu alegado envolvimento num esquema de lavagem de dinheiro com fundos oriundos da petrolífera.

Na última sexta-feira, 19 de Julho, Márquez teria concordado em colaborar com as autoridades espanholas e iria voltar a ser ouvido na segunda-feira, diz a BBC. Foi encontrado morto no domingo numa vivenda em Alcobendas, na província madrilena.

O antigo executivo, de 48 anos, tinha sido detido na quinta-feira à chegada ao aeroporto de Madrid, vindo dos Estados Unidos, e foi presente ao juiz na sexta-feira. Aí, terá prometido colaborar com o Ministério Público nas investigações a desvios de fundos da PDVSA, tendo saído em liberdade com o pagamento de uma caução, escreve o El País.

O seu nome aparece ligado ao “caso Morodo”, uma investigação que tem no centro o antigo embaixador de Espanha na Venezuela entre 2004 e 2007, Raúl Morodo (fora anos antes embaixador em Portugal, entre 1995 e 1999). Neste inquérito, o diplomata é suspeito de ter recebido quantias de dinheiro com origem na petrolífera, através do filho, Alejo Morodo, que celebrou contratos de assessoria com a PDVSA na Europa na ordem dos 4,5 milhões de euros depois de o pai deixar de ser embaixador na Venezuela.

Juan Carlos Márquez foi a pessoa que em nome da petrolífera assinou os contratos com Alejo Morodo a partir de 2008. O El País escreve que Alejo Morodo celebrou cinco contratos, documentos que as autoridades suspeitam ser fictícios, porque, diz o mesmo jornal, não se conhece qualquer actividade efectiva realizada por Alejo Morodo. Uma das páginas de um contrato de Agosto de 2008 que foi reproduzida pelo mesmo diário permite ver as assinaturas de Juan Carlos Márquez e de Alejo Morodo.

Um contrato, mas de Agosto de 2011, foi celebrado entre a Petróleos de Venezuela e a sociedade Furnival Barristers Corp, sediada no paraíso fiscal do Panamá, representada por Alejo Morodo. Outra sociedade através da qual foram celebrados contratos chamava-se Aequitas Abogados y Consultores.

Uma das operações investigadas tem que ver com 180 mil euros que entraram nas contas do antigo embaixador de Espanha através de Alejo. Além da transferência, estão a ser passadas a pente fino outras movimentações e a titularidade de património imobiliário (vivendas e apartamentos). Também é visado nas investigações um sócio do filho do diplomata, Carlos Prada Gómez. Alejo e a mulher, assim como Prada e a mulher, foram detidos a 20 de Maio por suspeitas de branqueamento de capitais e corrupção.

De Portugal para offshores

Há outros ex-gestores da PDVSA a ser investigados por suspeitas de terem defraudado a companhia, com desvios de fundos através de paraísos fiscais. E uma das linhas de investigação passa por Portugal, pelo papel do “saco azul” do Grupo Espírito Santo (a ES Enterprises) e pela movimentação de dinheiro de Andorra para contas do BES na Suíça e no Dubai.

Durante vários anos, a PDVSA fez de Portugal uma praça para onde destinou importantes quantias das receitas do grupo, chegando a aplicar na Espírito Santo Internacional (ESI) perto de 5000 milhões entre 2011 e 2013.

Como o PÚBLICO revelou na segunda-feira, um núcleo de 11 entidades da PDVSA e da órbita do governo de Caracas, como o Fondo Desarrollo Nacional (Fonden), a Oficina Nacional del Tesoro ou o Banco de Comercio Exterior (Bancoex), fizeram sair de Portugal para offshores mais de 6700 milhões entre 2011 e 2014.

Por exemplo, só a Petróleos de Venezuela S.A., a “cabeça” do grupo, foi a ordenante de transferências de 2329 milhões de euros e a sucursal PDVSA Petróleo enviou cerca de 2000 milhões de euros.

Outras empresas do grupo enviaram dinheiro para contas em paraísos fiscais a partir de Portugal: a PDV Insurance Company, das Bermudas, exposta nos Paradise Papers, ordenou transferências de cerca de mil milhões; a Petrocedeño, da qual a PDVSA é accionista maioritária (60%) com a francesa Total (30,3%) e a norueguesa Equinor (9,7%), transferiu 113 milhões; a Bariven enviou 400 milhões de euros e a petroquímica Pequiven transferiu 233,6 milhões.

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