Como deve ser o Museu de Arte Popular? “Um museu vivo”

Ministra apresentou estratégia para relançar o museu. Programa nacional de artesanato vai ter sede em Belém.

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Graça Fonseca esta terça-feira no MAP Manuel Almeida/Lusa
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Artesão Fernando Pereira trabalha o vime com estudante da Escola de Verão Manuel Almeida/Lusa

Com um projecto dos arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, o novo Museu de Arte Popular, em Lisboa, poderá abrir portas em 2021 tendo no seu coração uma zona de oficinas.

O estudo prévio entregue recentemente pelo atelier do Porto à ministra da Cultura, Graça Fonseca, retoma a entrada original do edifício desenhado em 1940 como um pavilhão efémero para a Exposição do Mundo Português, que uns anos depois António Ferro, responsável pela política cultural do Estado Novo, transformou em Museu de Arte Popular (MAP).

Como disse Graça Fonseca num encontro com os jornalistas no MAP, está previsto que a entrada passe a ser feita pela porta voltada para o Padrão dos Descobrimentos, criando um acesso mais nobre numa das zonas de Lisboa com mais turistas.

Com uma vida atribulada, nomeadamente com um período em que chegou a estar encerrado dez anos, o museu passou a estar no centro da política de Graça Fonseca para o artesanato, tendo sido apresentado esta terça-feira como uma espécie de quartel-general do Programa Nacional do Saber-Fazer Português.

Desde Fevereiro, numa colaboração com o ministério da Economia e do Trabalho, que a estratégia nacional para o artesanato está a ser pensada em articulação com o relançamento do MAP, disse a ministra. Para isso foi criado um grupo de reflexão, com 17 personalidades, desde antropólogos a empresários, passando por artistas e historiadores de arte, nomes como João Leal, Catarina Portas, Joana Vasconcelos ou Raquel Henriques da Silva, explicando Graça Fonseca que algumas das questões lançadas já encontraram respostas. “O que deve ser um museu de arte popular? Um museu vivo”, diz a ministra, acabada de sair de uma reunião de trabalho com o grupo de reflexão.

“Quem entra, vê logo um espaço de oficinas, onde vão estar pessoas a trabalhar. Criámos este espaço de trabalho para que alguns projectos possam ser desenvolvidos. Esta sala vai ser uma montra do que se faz no país”, revela Graça Fonseca, acrescentando que as oficinas querem assegurar a transmissão do saber-fazer às novas gerações, com programas de aprendizagem, incubação e estágio. O MAP vai candidatar-se aos apoios comunitários do programa Portugal 2020, esperando obter 900 mil euros de financiamento.

Novas funções para velhos materiais

Numa espécie de antecipação do que se pode passar no “relançamento” do museu, o MAP tem a decorrer desde 15 de Julho uma Escola de Verão em que dez estudantes de seis países diferentes, de cursos de Belas-Artes e de Design, aprendem técnicas de cestaria ensinadas por cinco mestres artesãos portugueses, numa colaboração com duas fundações, uma suíça e outra portuguesa, a Michelangelo Foundation for Creativity and Craftsmanship e a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva. Nesta terça-feira, já eram visíveis algumas novas funções para velhos materiais e técnicas, como um quebra-luz que nasceu da técnica de fazer esteiras, alterando apenas o espaçamento com que as fibras vegetais são atadas. Era o resultado da colaboração entre o mestre Manuel Ferreira, de Santarém, e Francisca Patrocínio, uma estudante de escultura do Porto.

“Felizmente agora encontrou-se uma linha correcta para o MAP”, defende António Gomes Pinho, que faz parte do grupo de trabalho e não concordou com projectos que quiseram aqui instalar o Museu da Língua, apresentado em 2006 e que sofreu uma forte contestação. Este coleccionador de olaria e antigo presidente da Fundação de Serralves, acha que é sobretudo de louvar a metodologia: “Há uma reflexão de gente muito diversificada, sem entrar em visões muito político-ideológicas, para que este espaço retome a sua função ligada à arte popular com uma dimensão contemporânea. Um espaço vivo, ligado à arte e ao design e que possa contribuir para valorizar o estatuto do artesão e esta riqueza imensa.”

O edifício do museu, que está classificado pela Direcção-Geral do Património Cultural desde 2012, foi objecto de uma profunda recuperação patrimonial entre 2002 e 2010, sendo actualmente um pólo do Museu Nacional de Etnologia (MNE). Passou a ter uma programação regular de exposições temporárias a partir do final de 2016, mas o objectivo é voltar a expor a colecção permanente com 11 mil peças no relançamento do MAP.

Paulo Ferreira da Costa, director do MNE e que também faz parte do grupo de trabalho, vê com grande expectativa o que se está a passar. “O projecto que se está a desenhar implica meios em termos de recursos humanos que não existem no museu. Temos uma equipa de 20 pessoas, precisaríamos do dobro ou mais.”

A futura equipa do MAP, reconhece a ministra, é uma das “grandes questões” que o grupo de trabalho ainda não fechou.

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