Manifestantes pró-democracia atacados em Hong Kong por mafiosos chineses

A polícia não protegeu manifestantes. Mulheres grávidas, crianças e jornalistas foram agredidos, há pelos menos 45 pessoas feridas. A chefe do governo diz que a “violência trará mais violência”

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Alguns dos rufias vistos na estação de Yuen Long Reuters/TYRONE SIU

Grupos de homens com máscaras na cara, t-shirts brancas e munidos de bastões e paus entraram na noite de domingo numa estação de metro de Hong Kong e agrediram indiscriminadamente passageiros, muitos dos quais regressavam a casa, vindos de uma manifestação contra o governo do território sob administração chinesa. Não menos de 45 foram hospitalizados, e uma pessoa ficou em estado crítico. A polícia está a ser acusada de nada ter feito para impedir as agressões.

As suspeitas recaem sobre as máfias chinesas (tríades). Muitos dos agressores tinham o corpo tatuado. Há muitos vídeos nas redes sociais que mostram as agressões indiscriminadas com bastões, nas escadas rolantes, no átrio, nas carruagens.

“As pessoas começaram a correr em todas as direcções para fugirem”, explicou sob anonimato um funcionário público de 22 anos à Reuters. “As ambulâncias não foram suficientes para tantos feridos. Vi uma mulher grávida a desmaiar, mas depois foi logo atacada”, escreveu no Twitter Galileo Cheng, um dos presentes no ataque.

“Bateram indiscriminadamente nas pessoas que estavam na carruagem, mesmo em quem estava a regressar do trabalho. Alguns homens protegeram-nos. Não retaliaram, caso contrário ainda nos teriam batido mais. Até bateram em mulheres e crianças”, explicou, entre soluços, uma mulher ao Guardian.

Muitos dos passageiros eram manifestantes pró-democracia que regressavam a casa depois de terem participado na manifestação deste domingo, em protesto contra a lei da extradição entretanto suspensa e contra o que dizem ser a influência da China sobre o território. A manifestação ficou marcada por confrontos com a polícia.

Não tardou a que vídeos de telemóveis dos acontecimentos na estação de metro de Yuen Long circulassem nas redes sociais. Num deles podem ver-se os rufias à porta de uma carruagem a bater indiscriminadamente nos passageiros com paus e bastões de metal. Noutro, um homem de camisola preta é consecutivamente agredido no estômago até cair para o chão. 

A polícia chegou já o ataque tinha terminado e os agressores abandonado o local. As vítimas começaram quase de imediato a questionar os agentes sobre o porquê de terem demorado tanto tempo a intervir, e as críticas não têm parado de subir de tom.

“Está agora Hong Kong a permitir que tríades façam o que querem, espanquem pessoas nas ruas com armas?”, questionou o deputado Lam Cheuk-ting, do Partido Democrático, aos jornalistas.

Os manifestantes pró-democracia acreditam que os rufias foram contratados para os atacar. Começou a circular nas redes sociais um vídeo, diz o Guardian em que um deputado pró-Pequim, Junis Ho, é visto a cumprimentar vários homens com t-shirts brancas à porta da estação de Yuen Long. Hu chegou inclusive a levantar-lhes o polegar.

Acusado de estar envolvido, o deputado negou em conferência de imprensa todas as acusações e explicou que se limitou a cumprimentar apoiantes seus. “A minha presença em Yuen Long é normal. Muitos dos meus eleitores vivem em Yuen Long. Vestirem-se de branco não é nenhum segredo. O que aconteceu na noite passada não teve nada a ver comigo. Não participei em nenhum plano nem fiz parte de qualquer grupo”, disse o deputado, explicando que não chamou a polícia por lhe parecerem “normais”.

Carrie Lam, a chefe do governo de Hong Kong, escolhida por Pequim, condenou o ataque, considerando-o “um desafio” à soberania nacional, e prometeu que a polícia o investigaria a fundo. Mas fez declarações ambíguas, ao condenar o comportamento violento de “qualquer tipo”. “A violência só trará mais violência”, afirmou.

A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China ocorreu em 1997 e 1999, respectivamente, e a relação de Pequim com as duas regiões tem-se baseado no princípio “um país, dois sistemas”, o que, dizem os manifestantes, está em risco.

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