Quase 700 mil fazem voluntariado, mas Portugal está muito abaixo da média da União Europeia

As horas de trabalho voluntário equivaleram a 2,9% do total de horas trabalhadas na economia portuguesa no ano passado.

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Ricardo Lopes

Dentro da União Europeia, só na Bulgária e na Roménia se faz tão pouco trabalho voluntário. De acordo com o Inquérito ao Trabalho Voluntário, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) esta sexta-feira, a taxa de voluntariado em Portugal era de 7,8% em 2018. 

Quem quiser fazer o retrato robot do voluntário formal português desenhará uma mulher, jovem, solteira, desempregada, com níveis de escolaridade mais elevados. No trabalho voluntário informal não será muito diferente. Só que a mulher será mais velha e divorciada/separada.

O estudo aponta para uma taxa de voluntariado feminina superior à masculina (8,1% vs. 7,6%). E mostra que os reformados têm menos propensão a usar o seu tempo livre nisso (4,6%). A taxa de participação é mais alta nos jovens entre os 15 e os 24 anos (11,3%) e nos adultos entre os 25 e os 44 (8,6%). E, ao que se pode ler no boletim, o voluntariado aumenta, de forma gradual, com o nível de escolaridade, alcançando uma taxa de 15,1% nos indivíduos que concluíram algum grau do ensino superior. E é maior entre desempregados (10,5%) e solteiros (9,1%).

Olhando para os números brutos verifica-se que, no ano passado, 695 mil pessoas com 15 ou mais anos participaram em, pelo menos, uma actividade formal e/ou informal de trabalho voluntário. Com uma taxa de voluntariado formal de 6,4%, Portugal está bem abaixo da média da UE a 28 (19,3%). Só a Roménia (3,2%) e a Bulgária (5,2%) se encontram taxas de participação mais baixas. “As taxas de voluntariado formal mais elevadas foram observadas no norte da Europa, com destaque para a Holanda (40,2%) e a Dinamarca (38,1%)”, lê-se no boletim.

Os peritos do INE avançam uma eventual explicação para o fraco desempenho de Portugal: “Esta posição relativa do país poderá ser explicada, em parte, pela cultura de participação em actividades de trabalho voluntário organizadas colectivamente e pelas suas condições socioeconómicas.” Tudo se torna mais claro quase se percebe que não entra na categoria de trabalho voluntário informal o apoio prestado a familiares e os serviços domésticos, que em Portugal têm muito peso.

Mesmo assim, não é de ignorar o impacto económico. Estima-se que no ano passado se tenham feito 263,7 milhões de horas a trabalho voluntário. “Tendo como referência as Contas Nacionais, as horas de trabalho voluntário equivaleram a 2,9% do total de horas trabalhadas na economia portuguesa”.

Esse peso é significativo no chamado terceiro sector. Presume-se que uns 516 mil indivíduos tenham desenvolvido acções de voluntariado em entidades privadas não lucrativas. Segundo o INE, o “maior número de voluntários concentrou-se nos serviços sociais (39,8%), seguindo-se as organizações da religião (17,3%) e as da cultura, comunicação e actividades de recreio (16,5%)”.

Portugal já tinha feito um inquérito destes em 2012. Os dados não são comparáveis, uma vez que incluíam o trabalho voluntariado prestado a familiares. 

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