“Melhorismos” e outras quatro palavras sobre os candidatos a deputados

Rui Rio ainda não sabe se se demite ou não, caso o PSD tenha um resultado desastroso em Outubro mas sabe que não quer deixar uma falange organizada de oposicionistas com vista para S. Bento.

1. "Geringonçar". Animado pelas sondagens, o PS prossegue a estratégia de distribuir governantes como cabeças de lista por vários distritos. Até agora, sabe-se que Costa avança em Lisboa, Ana Mendes Godinho na Guarda, Alexandra Leitão em Santarém, Brandão Rodrigues em Viana do Castelo, Matos Fernandes permanece como hipótese no Porto, Centeno já se disponibilizou para integrar a lista de deputados. Pedro Siza Vieira pode estrear-se. O grande trunfo de Costa é o Governo. Resultou na lista para o Parlamento Europeu e pode resultar com mais êxito em Outubro.​

2. Ruptura. Rui Rio escolhe políticos menos conhecidos e não se importa de ficar em segundo lugar na lista do Porto. O líder do PSD apresenta esta estratégia como sinal de grande abertura e de rejuvenescimento do partido (embora não convença sequer os seus mais próximos como Castro Almeida) mas, na prática, serve para tapar muitas vagas que poderiam ser preenchidas por figuras menos alinhadas com a direcção. Rui Rio ainda não sabe se se demite ou não, caso o PSD tenha um resultado desastroso em Outubro (o que, segundo as sondagens, será o cenário mais provável) mas sabe, pelo menos, que o próximo grupo parlamentar não deixa uma falange organizada de oposicionistas com vista para S. Bento.

3. Limpeza. A CDU muda metade dos cabeças de lista relativamente a 2015. Se tiver o mesmo resultado do que há quatro anos, isso significaria que deputados como Jorge Machado, Rita Rato, Paula Santos, Heloísa Apolónia, João Ramos ou Paulo Sá não serão eleitos, alguns porque não figuram nas listas, outros porque estão em lugares de difícil eleição. Depois da experiência bem sucedida de quatro anos de “geringonça”, o PCP abre mão de alguns dos seus negociadores mais rodados? Não, não pode ser lido assim. Durante estes quatro anos, não foram os deputados a conduzir as negociações no Parlamento. O PCP mantém algumas especificidades e houve sempre delegações que integravam membros da Comissão Política do PCP (ou seja, da Soeiro Pereira Gomes) nas conversas com o PS. Quem dá a cara no Parlamento pouco importa neste caso. Pelo menos, no programa eleitoral que apresentou esta semana, o PCP deixa claro o seu orgulho na “geringonça”, salvaguardando que “só não se avançou mais porque o PS não deixou”.

4. Precipitação. CDS anunciou em Abril, ainda antes das eleições europeias, os seus principais candidatos a deputados. Eufórica e ambiciosa, Cristas julgava começar aí a caminhada triunfante para S. Bento depois de nas autárquicas de Lisboa ter sido brindada com 20% dos votos. O CDS ajusta o discurso depois do susto que levou nas eleições europeias, mas já não vai trazer mais surpresas nas caras. E o ex-ministro Luís Pedro Mota Soares que confiava que seria eleito para Bruxelas acabou por ficar de fora de um hemiciclo e do outro.

5. "Melhorismos". Pelo que se sabe até aqui, o BE é o partido que mostra mais continuidade. Mas um dos alertas que dão pistas sobre o que será a discussão interna do partido na próxima legislatura veio de alguém que já avisou que não será de novo candidato a deputado: Pedro Soares. Em entrevista ao PÚBLICO há algumas semanas, explicava que “há uma pressão grande para a institucionalização do BE, para que a sua actividade política seja sobretudo centrada na actividade parlamentar, para que haja uma atitude de proximidade em relação ao PS” e que isso tem que ser debatido. Evocando uma expressão grata a Miguel Portas, defendeu mesmo não gostar de “uma política de melhorismos”, ou seja, o BE não se deve, a seu ver, contentar em contribuir para pequenos passos mas lutar “por um outro modelo económico”. 

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