Carlos Moedas: UE não podia ter “melhor” do que Ursula von der Leyen

Sobre o próximo comissário europeu em representação de Portugal, Carlos Moedas sublinhou que “o mais importante é ter alguém que se consiga impor no colégio”.

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"Um político até pode ser bom a nível nacional, mas não ter “credibilidade” no jogo internacional, disse Carlos Moedas Daniel Rocha

O comissário europeu Carlos Moedas considerou nesta sexta-feira, num debate na vila portuguesa de Sintra, que a União Europeia (UE) não podia ter “melhor representação” do que Ursula von der Leyen, a alemã eleita presidente da Comissão Europeia.

“Não podíamos ter melhor representação da Europa. É uma mulher, nasceu em Bruxelas, é alemã, tem preocupações sociais e fez um discurso mais verde do que algum Governo alguma vez fez”, comentou, num debate com a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, que precedeu a entrega do Prémio de Jornalismo Fernando de Sousa, que distinguiu trabalhos feitos por jornalistas do PÚBLICO e do Diário do Alentejo e por estudantes da Universidade Lusófona do Porto.

Ursula von der Leyen, ex-ministra da Defesa alemã e uma das vice-presidentes da União Democrata-Cristã (CDU, a força política da chanceler Angela Merkel), foi eleita para a presidência da Comissão Europeia pelo Parlamento Europeu, na terça-feira, com 383 votos a favor, 327 contra, 22 abstenções e um nulo.

Sobre a escolha do próximo comissário europeu em representação de Portugal, Carlos Moedas sublinhou que “o mais importante é ter alguém que se consiga impor no colégio” e, para isso, é fundamental que “fale diferentes línguas” e seja “uma pessoa aberta ao mundo”.

“Um político até pode ser bom a nível nacional, mas não ter a qualidade e a credibilidade necessárias no jogo internacional”, distinguiu.

Carlos Moedas espera que Portugal escolha “uma área que possa ter influência noutras áreas”, como é o caso da que comissariou durante cinco anos (Investigação, Ciência e Inovação).

O comissário não escondeu que gostava de ver Portugal representar algum dos “grandes desafios” para a Europa, que, na sua opinião, passam pelo clima e pela transformação digital e tecnológica, “pastas com influência global e para o futuro”.

Já a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, no mesmo debate, realizado no NewsMuseum, em Sintra, destacou que Portugal poderia desempenhar um bom serviço em áreas sociais ou económicas, ou ainda no orçamento. “Há candidatos com muita qualidade”, asseverou Ana Paula Zacarias.

Os comissários europeus designados pelos governos nacionais dos 28 Estados-membros para o executivo comunitário passarão por audições nas respectivas comissões do Parlamento Europeu, que votará o colégio, como um todo, em Outubro.

Avisando que essas provas são “duras e complexas”, Carlos Moedas tem apenas um conselho para deixar ao seu sucessor ou sucessora: “aproveitar cada dia para fazer o bem”.

Sublinhando que “não é preciso mudar o mundo a fazer grandes coisas, mas pequenas coisas, com impacto no dia-a-dia”, Carlos Moedas realçou que o cargo de comissário “talvez seja a posição política mais interessante que se pode ter”, porque tem acesso a “instrumentos para mudar” que não existem a nível nacional.

Populismo e extremismo

Por outro lado, a “busca de consenso contínuo” exige uma actuação diferente, referiu, dando um exemplo: “será que, em Portugal, podia ter estabelecido a relação que tive com Marisa Matias, uma eurodeputada de um partido [Bloco de Esquerda] com o qual não me identifico, mas com quem trabalhei tanto e tão bem?”.

“A Comissão é um colégio de comissários, não é a senhora Ursula von der Leyen”, frisou Ana Paula Zacarias, satisfeita por ter havido uma decisão sobre a liderança, que assim afasta o cenário de paralisação da Europa.

“Este processo pode não ter sido o mais transparente, para o cidadão comum, mas não deixa de ser democrático, todos os chefes de Estado e de Governo foram eleitos democraticamente”, assinalou.

Tanto Zacarias como Moedas concordam que a evolução poderá passar pela eleição de listas transnacionais, que representem a Europa no seu todo.

Até porque, reconheceu o comissário, “os riscos da nacionalização das eleições europeias, como voto de protesto contra os governos nacionais”, existem. “Os maiores obstáculos são o populismo e o extremismo, não sabemos como resolvê-los ainda”, disse, recordando, porém, que “a participação eleitoral nos países mais ameaçados aumentou”.

Ao mesmo tempo, o diálogo com os cidadãos tem de ser reforçado, defendeu a secretária de Estado, afirmando que “ou é a Europa dos cidadãos ou não será uma boa Europa” e que identificou o clima como o principal desafio, alertando que “os jovens acordaram para este problema e, se a União não conseguir dar resposta aos jovens, não terá futuro”.

Carlos Moedas realçou que é preciso “treinar os funcionários europeus” – que “são os melhores funcionários públicos do mundo” – “a terem um discurso diferente, porque foram treinados para terem uma linguagem redonda”.

Ao mesmo tempo, as instituições europeias devem comunicar com as novas gerações “sem complexos”, recorrendo às ferramentas que os jovens usam para fazer chegar a mensagem até eles, defendeu.

“Se isso implicar uma série de televisão ou uma novela, pois que seja” disse Moedas.

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