Morreu o eurodeputado André Bradford: “Sempre pugnou pelos valores socialistas”

PS-Açores recorda “um açoriano de corpo inteiro, que se dedicou apaixonadamente à causa pública”.

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André Bradford (à direita) com Zacarias Costa, então ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, em 2012 EDUARDO COSTA/Arquivo

O eurodeputado do PS André Bradford morreu nesta quinta-feira, confirmou o PÚBLICO.

De Bruxelas, a delegação socialista no Parlamento Europeu, presidida por Carlos Zorrinho, enviou uma nota às redacções a comunicar, “com pesar, o falecimento do deputado André Bradford" e a confirmar que morreu nesta quinta-feira no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada.

“À família enlutada a delegação socialista portuguesa no Parlamento Europeu expressa sentidos pêsames e manifesta a mais profunda dor e solidariedade. Prestamos, neste momento, a mais honrada das homenagens ao homem, ao político e deputado europeu que sempre pugnou pelos valores socialistas quer a nível regional, nacional e internacional”, lê-se.

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LUSA/EDUARDO COSTA

No passado dia 8, o eurodeputado terá sofrido, recorda a agência Lusa, um episódio de síncope e paragem cardiorrespiratória durante a madrugada. ​​Estaria em coma induzido desde então.

André Bradford, 48 anos, era natural de Ponta Delgada e licenciado em Comunicação Social e Cultural pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica de Lisboa, e mestre em Teoria e Ciências Políticas. Em 2000, tornou-se assessor de imprensa da secretaria regional do Ambiente do Governo dos Açores, desempenhando depois funções de assessor político e de secretário regional.

Como deputado à Assembleia Legislativa Regional dos Açores, exercia funções de líder do grupo parlamentar do PS até ter sido indicado pela estrutura regional do partido para ocupar o quinto lugar da lista nacional do PS nas últimas eleições europeias.

Tinha tomado posse recentemente no Parlamento Europeu, numa sessão em Estrasburgo, e sido indicado para a Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, para a Comissão das Pescas e para a delegação para as Relações com os Estados Unidos. Era ainda membro suplente da Comissão do Desenvolvimento Regional e da delegação para as Relações com o Canadá.

Voto de pesar

O Presidente da República também já afirmou ter sido “com profunda consternação e emoção” que tomou “conhecimento da morte tristemente prematura do deputado do Parlamento Europeu André Bradford”. Numa nota no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa refere que, “depois de servir Portugal e a sua região, os Açores, André Bradford tinha agora um novo desafio e a nobre missão de continuar uma carreira de serviço público no Parlamento da União Europeia”.

“Teria certamente muito ainda para dar à sua família, amigos, à democracia e ao nosso país. Por isso, o Presidente da República lamenta profundamente, em nome de Portugal, o seu desaparecimento extemporâneo”, lê-se.

Os deputados à Assembleia da República eleitos pelos Açores, quer do PS quer do PSD, também já anunciaram um voto de pesar conjunto, que será aprovado na sexta-feira. Será apresentado pelo líder parlamentar e presidente do PS, Carlos César, que se desloca ainda nesta quinta-feira para S. Miguel. 

No voto de pesar, deputados do PS e PSD lembram “uma vida de entrega e empenhamento cívicos”. Recordam que “André Bradford foi jornalista do Diário de Notícias e do periódico mais antigo em publicação, Açoriano Oriental” e sublinham que a morte do político, “em condições tão súbitas e inesperadas, deixa a maior consternação em todos quantos o conheceram e junto do povo açoriano em geral”.

“Distinguiu-se, sempre, pelas suas qualidades de afabilidade, inteligência e de oratória, associadas a uma formação cultural e pessoal de grande exigência ética. O seu contributo para o seu partido, para a qualidade do debate político, para a democracia e para a valorização da autonomia política Açoriana é, por todos, reconhecido e elogiado. A Assembleia da República partilha, assim, a tristeza pelo falecimento de André Bradford, manifestando o maior pesar e a solidariedade para com a sua família, os seus amigos, os açorianos em geral e os seus colegas no Parlamento Europeu”, lê-se.

Numa nota publicado no site, também a direcção do PS refere que “os Açores foram sempre, até ao fim, a grande causa que moveu toda a sua vida política” e consideram que a “perda de um quadro tão qualificado e com tanto futuro à sua frente constitui uma perda dramática” para o partido e, em particular, para os socialistas açorianos.

"Paladino da democracia açoriana"

O presidente do Governo dos Açores, o socialista Vasco Cordeiro, também já expressou, em nome do executivo regional, “grande consternação” pela morte de André Bradford, um “açoriano que dignificou a actividade política”.

“Nas diversas funções políticas e executivas que assumiu ao longo de vários anos, o André Bradford imprimiu sempre à sua acção a lucidez, a inteligência e a capacidade de diálogo que permitiam construir pontes mesmo quando, por vezes, os obstáculos pareciam intransponíveis”, salientou, em nota enviada à imprensa. Para o chefe do executivo açoriano, as capacidades políticas de Bradford, “tão necessárias” a tal actividade, mas, sobretudo, as suas qualidades humanas, “mereceram o justo reconhecimento de todos aqueles que com ele tiveram o privilégio de privar”.

“Fui testemunha privilegiada do amor incondicional que o André Bradford nutria pela sua terra, um sentimento que fez com que escolhesse a política como forma e como meio de a servir no exercício de funções públicas”, sublinhou Vasco Cordeiro. E acrescentou: "Por essa razão – pelo desaparecimento prematuro de um açoriano que nunca desistiu de ajudar a sua região a ser melhor –, sinto que os Açores perderam hoje um dos seus melhores, mas que nos deixa um legado que devemos honrar – em sua memória e em nome da nossa terra”. Fonte do executivo dos Açores indicou à agência Lusa que a agenda oficial dos membros do Governo Regional está suspensa nesta fase.

O PS-Açores também já tinha salientado que Bradford era “um açoriano de corpo inteiro, que se dedicou apaixonadamente à causa pública e que, com a sua inteligência, cultura, perspicácia e argúcia serviu intransigentemente os Açores e os açorianos ao longo dos últimos anos”.

No comunicado, o PS-Açores recorda que, “ao longo do seu percurso político, André Bradford soube honrar a missão que lhe foi confiada pelos açorianos, que desde 2004 o elegeram para deputado à Assembleia Legislativa dos Açores” e que, “como dirigente político, e no exercício de diversas funções”, foi “um acérrimo defensor da coesão regional, valorizando, em simultâneo, a identidade específica de cada uma” das ilhas, as quais, consideram os socialistas, “conhecia profundamente”.

“André Bradford foi um paladino da democracia açoriana, um orador de excelência, para quem o confronto de ideias era factor de enriquecimento do debate público indispensável na procura das melhores soluções para o futuro dos Açores e para os desafios que os açorianos enfrentam como povo”, acrescentam os socialistas no comunicado, no qual se lê igualmente que, enquanto líder parlamentar do PS/Açores, “manteve sempre uma postura franca e aberta de diálogo com as várias forças políticas”.

Estes socialistas consideram ainda que, “no seu desafio mais recente, ao ser eleito deputado ao Parlamento Europeu, assumiu a responsabilidade de ser a voz dos Açores na Europa, de representar todos e cada um dos açorianos”.

PSD-Açores com bandeiras a meia haste

Também o presidente do PSD-Açores expressou “profundo pesar”, lamentando “de forma plena e sincera” a morte de André Bradford, “que é também uma perda para os Açores” e para a autonomia regional. “André Bradford foi um político leal e que lutou pela causa pública”, sublinhou Alexandre Gaudêncio, numa nota enviada às redacções.

O líder regional do PSD lembrou André Bradford como “um adversário político que exercia o seu papel de forma honrada e séria, contribuindo para a discussão democrática e para o desenvolvimento da sociedade açoriana”.

Em sinal de pesar, o PSD-Açores interrompeu todas as suas actividades partidárias, nomeadamente as jornadas parlamentares em curso na ilha das Flores, não agendando qualquer acção para os próximos dias. A nota do gabinete de imprensa do PSD-Açores indica ainda que as bandeiras da sede regional foram colocadas a meia haste.

Também o PPM, que tem Paulo Estevão como deputado único no hemiciclo açoriano, enviou uma nota, afirmando que “foi com profunda consternação” que recebeu a notícia: “O dr. André Bradford destacou-se na vida política e cívica dos Açores ao longo das últimas duas décadas. A sua inteligência e sólida formação cultural permitiram-lhe desempenhar, com notável brilho, os cargos políticos e profissionais que desempenhou.”

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