Guterres diz que seria uma “profunda estupidez” procurar “protagonismo” e “vaidade pessoal” no cargo

O secretário-geral das Nações Unidas considera que é preciso ir além das metas definidas no acordo de Paris. “Infelizmente as mudanças de clima estão a correr mais depressa do que nós próprios”, afirmou.

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António Guterres diz ser difícil convencer alguns Estados-membros a aceitar transformações nas Nações Unidas LUSA/ANDREW GOMBERT

Durante as visitas que fez ao Quénia e a Moçambique, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, respondeu às críticas que o apontam como pouco assertivo em relação aos principais conflitos mundiais: “A situação política hoje é extremamente complexa. E procurar um protagonismo que limite a minha capacidade de conseguir exercer o meu mandato por razões de vaidade pessoal seria um acto de profunda estupidez”, disse, em declarações à RTP.

As afirmações de António Guterres fazem parte de uma reportagem que será transmitida no programa Linha da Frente. Nela, o secretário-geral das Nações Unidas aborda vários outros temas, como sejam a necessidade de combater as alterações climáticas e de proceder a uma reforma política das Nações Unidas. “O que não é fácil é convencer os Estados-membros e, sobretudo, aqueles que têm hoje uma posição mais privilegiada, a aceitar essas transformações”, afirmou, referindo-se à necessidade de rever o poder de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Sobre o tema do ambiente, considerou, por exemplo, que as metas definidas no acordo de Paris já não são suficientes para responder ao problema: “Se forem cumpridas, chegaremos ao fim do século com mais três graus, o que é uma catástrofe absoluta. E, pior ainda, mesmo aquilo que foi prometido em Paris por muitos Estados não está a ser cumprido. E, portanto, há aqui uma situação paradoxal: tudo indica que as coisas estão piores do que se pensava, todas as realidades a que assistimos no mundo são piores do que as piores previsões que existiam, mas a vontade política esmoreceu depois de Paris.”

Guterres defende que “é preciso acabar com subsídios aos combustíveis fósseis, é preciso reduzir os impostos às pessoas, nomeadamente aos salários, e taxar o carbono”. Mais: “É preciso acabar com a construção de centrais a carvão que, infelizmente, ainda continuam a pulular no mundo, a partir de 2020. E é preciso tomar um conjunto de outras medidas que exigem vontade política. Infelizmente as mudanças de clima estão a correr mais depressa do que nós próprios”, afirmou.

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