A letargia da Bolsa de Valores de Lisboa e do PSI-20

É de louvar o esforço de alguns empresários que continuam a acreditar que vale a pena manter as suas empresas na Bolsa de Valores, mas é evidente que o País tem perdido muita capacidade de investimento nacional e estrangeiro.

Relativamente a 2009, a Bolsa de Valores de Lisboa perdeu mais de metade do seu valor. Hoje em dia negoceiam-se montantes diários que raramente ultrapassam os 100 milhões de euros.

Para se ter uma comparação com outras bolsas periféricas, como a de Madrid, e o IBEX-35 que agrupa as 35 principais cotadas espanholas nesse mercado, pode-se constatar que dois ou três dos principais papeis negoceiam diariamente o valor das transações de todo o PSI-20.

Esta letargia leva a que as empresas portuguesas cotadas estejam muito abaixo do seu valor real. A falta de liquidez da maior parte dos títulos torna-os vulneráveis a operações de trade de muito curto prazo, para influenciar movimentos de subida ou descida e que permitem ganhos especulativos.

Recentemente, uma OPA sobre a EDP não se concretizou e entre as várias razões apresentadas destacava-se o valor oferecido, o qual foi rapidamente ultrapassado nas horas seguintes à sua apresentação.

Outro constrangimento associado a este marasmo é o facto de as mais-valias serem taxadas a 28%, independentemente de as ações serem detidas pelos investidores por muito ou pouco tempo. A forma de cálculo dessas mais-valias é penosa e pouco eficiente e afastou ainda mais os portugueses de aplicarem as suas poupanças em produtos de risco. Desde que se alterou a forma de cálculo das mais-valias, o PSI-20 perdeu valor todos os anos, com uma única exceção. Neste ano, o PSI-20 é dos índices que menos sobe na Europa. Assim, se o resultado pretendido era a coleta de impostos, o que se obteve foi empresas menos competitivas e capitalizadas e menos um incentivo para estimular a poupança dos particulares.

Esta situação compromete a atratividade das empresas cotadas, a sua capacidade de financiamento através da colocação de OPV (Ofertas Públicas de Venda) ou de aumentos de capital e a sua exposição a um mercado de capitais que ninguém quer estimular e encorajar.

Acrescente-se que as 18 empresas sobreviventes do PSI-20 lutam quanto ao descrédito provocado pela falência de bancos e empresas cotadas, pela falta de estímulos para se manterem neste mercado super regulado, mas que na verdade nada regula.

É de louvar o esforço de alguns empresários que continuam a acreditar que vale a pena manter as suas empresas na Bolsa de Valores, mas é evidente que o País tem perdido muita capacidade de investimento nacional e estrangeiro, porque simplesmente nada se quer fazer para utilizar adequadamente o melhor instrumento de poupança dos particulares e de financiamento dos empresários.

As medidas que se começam a conhecer dos partidos que compõem o atual arco de governação querem penalizar ainda mais quem quiser poupar ou quem quiser acompanhar e apoiar o investimento nas empresas. 

É uma situação de uma gravidade sem precedentes, tendo em atenção a fraquíssima taxa de poupança nacional e o endividamento crescente das empresas que operam em Portugal.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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