Mindfulness – aprofundar a investigação para otimizar a atenção

Só com investigação científica podemos garantir que as reais potencialidades destas abordagens milenares são completamente exploradas, conferindo a capacidade de entender como funcionam, para quem estão indicadas e se existem eventuais efeitos adversos.

Temos assistido, nos últimos tempos, a uma verdadeira eclosão de notícias e práticas relacionadas com a utilização do Mindfulness em diversos contextos, potenciada, por vezes, devido ao envolvimento de algumas figuras mediáticas. Mas o que é, afinal de contas, o Mindfulness?

Podendo ser traduzido por “atenção plena”, o Mindfulness apresenta vantagens a nível cognitivo. Os programas baseados em Mindfulness envolvem um conjunto de abordagens, nas quais o praticante é convidado a prestar atenção ao momento presente, de um modo intencional e sem julgamentos. Devido aos benefícios na gestão do stress, ansiedade e depressão, surge como uma potencial ferramenta terapêutica. Para além disso, dada a capacidade de treinar a atenção, tomando consciência da tendência da mente para divagar e trazendo-a de volta à experiência do momento, tem sido proposto que o Mindfulness também seja útil no contexto educativo e empresarial, dado aumentar a capacidade de concentração.

Devido a alguma banalização da utilização do Mindfulness, surgem frequentemente notícias de que se trata de uma panaceia universal, rápida e sem efeitos secundários. Esta tendência reflete alguns dos problemas atuais da sociedade ocidental, em que rapidamente se adere a práticas que não estão fundamentadas, mostrando a importância do investimento em literacia em saúde. Como diria Francis Bacon, “o conhecimento é, em si mesmo, um poder”, e, atualmente, podemos escolher, de forma fundamentada, o que é melhor para a nossa saúde se recorremos a informação científica credível.

De modo a compreender o seu funcionamento e as situações em que possa ser mais útil, é crucial a existência de estudos científicos. Se até 2000 existiam apenas 20 artigos científicos publicados com o termo “Mindfulness” no título, a partir daí, o número aumentou exponencialmente para 3483, o que demonstra o crescente interesse científico pelo tema. Verificou-se que o Mindfulness modula a atividade de áreas cerebrais envolvidas na regulação emocional, no controlo da atenção, na autoconsciência e na génese de bem-estar. As teorias mais abrangentes sugerem que os benefícios advêm, em última análise, do aumento da capacidade de autorregulação.

É importante que a investigação científica acerca do Mindfulness continue a aprofundar as suas bases. É também relevante estabelecer se as alterações da atividade de áreas do cérebro se mantêm no tempo, e desenhar estudos de longo prazo, com grupos de controlo que sejam definidos de forma adequada e que permitam à comunidade científica chegar a conclusões consistentes.

Finalmente, é importante que os instrutores que participam no ensino do Mindfulness tenham uma formação sólida e reconhecida por programas estruturados e que divulguem o tipo e extensão da sua formação. Só com a implementação de investigação científica podemos garantir que as reais potencialidades destas abordagens milenares são completamente exploradas, conferindo a capacidade de entender como funcionam, para quem estão indicadas e se existem eventuais efeitos adversos. Caso contrário, corremos o risco de a vulgarizar, tomando-a uma simples técnica de relaxamento ou confundindo-a com práticas não baseadas em evidência científica.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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