Júlio Resende e a missão lunar da música portuguesa

Se, por um lado, é perfeitamente imaginável o facto de Júlio Resende programar para esta altura o lançamento do videoclipe Let's Go to the Moon Again, pois é por estes dias que se assinalam 50 anos da chegada à Lua, por outro ninguém conseguiria imaginar que no dia a seguir a um eclipse lunar também se eclipsaria aqui no P3 a única galeria online dedicada a esta vertente artística da música portuguesa. Portanto, algo de muito especial se deve passar entre a Lua e esta rubrica semanal da responsabilidade do projeto VIDEOCLIPE.PT, que assinala este mês seis anos e meio de curadoria no espaço online do PÚBLICO. Terá sido esta a missão lunar da música portuguesa? A de tentar lançar conhecimento sobre este veículo artístico que atingiu um patamar da maior importância na divulgação da música, mas que nem nas escolas é ensinado? Sobretudo, o de alertar para os desafios que a realidade comunicativa da internet impõe à sua criação?

Bem, apesar da surpresa inesperada destes factos e da óbvia tristeza inerente, alegra-nos saber que a despedida desta nossa bonita missão é efetuada com um dos mais belos videoclipes nacionais recentes. Um tema do álbum Cinderella Cyborg, que já tinha sido apresentado com outro soberbo videoclipe, também aqui destacado, o de Fado Cyborg, da autoria de Nuno Barbosa. Este mesmo realizador, que é já uma referência maior nesta área em Portugal, apresenta aqui mais uma preciosa lição de como se elevar dos constrangimentos orçamentais da música nacional e, mesmo com recursos mínimos, atingir patamares estratosféricos de graciosidade, mas com pleno de significado para com o tema musical. Se o álbum foi concebido sobre a temática da junção homem-máquina, este videoclipe foi concebido sobre a disjunção do espírito poético do ser humano para com a sua gravidade física e material. Aquele espírito do sonho, da ambição, da superação que está ao alcance de cada um para atingir o impossível, e de ser um astronauta nesta vida — não será por acaso que se percebe as referências aos gestos de um CR7, ou de um Michael Jordan. Se isto não for suficiente para demonstrar que fazer um videoclipe não é só fazer bonito, mas que é um objeto audiovisual muito particular — visa promover, mas permite expressão artística —, então a nossa missão só merece ficar pelo lado negro da Lua, o tal que só “vemos” plenamente em dias de eclipse.

O projeto VIDEOCLIPE.PT agradece ao P3, sobretudo ao Amílcar, mas também à Amanda e à Ana, por todas estas centenas de semanas em colaboração. E ao João Lopes e ao Rodrigo, por terem desafiado a sua criação, e ao Helder;  mas sem esquecer as colaborações do Rui e da Joana, que apoiaram na manutenção.

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.