Cartas ao director

A habilidade de João Miguel Tavares

É um verdadeiro sofista J. M. Tavares, um verdadeiro jogador de semântica. Ao dar o título ao seu artigo “Sim, há culturas que são superiores a outras” publicado ontem, aqui, no PÚBLICO, Tavares quis contrariar, quis, de certa maneira, “menosprezar” o sociólogo Paulo Mendes. O que o colaborador do PÚBLICO deveria dizer é que” há civilizações mais evoluídas que outras”. Sob o ponto de vista antropológico não tem relevância afirmar que há culturas que são superiores a outras. A cultura está, de certa maneira, ligada ao grau de civilização. Por isso “não é por acaso que não foi um zulu a escrever Romeu e Julieta, nem foi em Portugal que o iPhone foi inventado. Correcto. Mas para quê entregarmo-nos a jogos de semântica para fazer prevalecer o nosso ponto de vista?

António Cândido Miguéis, Vila Real

Não é por acaso que não foi um zulu a escrever Romeu e Julieta

Shakespeare será o expoente máximo da cultura branca ocidental que certo colunista do PÚBLICO, que gosta de nomear as pessoas nos seus artigos, sentiu a necessidade de exaltar. Mas esta história não nasceu do renascimento ocidental: Shakespeare seguiu a vaga da italianização corrente da época e baseou-se principalmente numa novela de Matteo Bandello, novela esta descendente de várias adaptações de um mito formalizado na obra Laila e Majnun em 1188 por Niẓāmi Ganjavi, um poeta... persa. Que se baseou na história de um outro poeta do séc. VII, Qays ibn Al-Mulawwah, também ele poeta e... árabe. E como Andrómeda é branca nos quadros que nos chegam desse tempo, apesar de ser uma princesa etíope, também o fado descende da música arábica e afro-brasileira - a apropriação cultural é real: aqui como em Inglaterra. Uma palavra também ao nosso Presidente da República, e meu antigo professor, e a todos o que o apoiaram na escolha do presidente das comemorações do 10 de Junho: é dia de Portugal, mas também das comunidades portuguesas e o “opinador” em causa é dos que menos fez em favor destas - o dia da raça já lá vai.

Vítor Reis, Fátima

Fátima Bonifácio

Não me lembro de em 45 anos de democracia em Portugal ter lido um texto que tanto tivesse inflamado a sociedade (ou parte dela, evidentemente, a que mais liga a estes assuntos da área da sociologia), como o da autoria de Fátima Bonifácio!. Nem quando Portugal entrou pela terceira vez no estado de bancarrota, em 2011... Isto dá-me que pensar, confesso. Para a nossa sociedade é bem mais importante o que escreve uma académica (que só vale pelo teor das palavras) do que o estado lastimável das nossas contas públicas, das quais todos dependemos, de cujo estado deplorável todos sofremos as consequências.  Sem querer de forma alguma assumir a defesa de alguém, sou levado a concluir que somos afinal uma sociedade que vive bem, que até se pode dar ao luxo de se inflamar a sério por causa de um artigo de opinião, e nem uma palha mexe perante o desvio de milhares de milhões de euros, de donativos para vítimas de brutais incêndios florestais, perante os desmandos contínuos ao nível de autarquias, de políticos de topo que são constituídos arguidos e continuam em funções.

Carlos Gilbert, Porto

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