Manifestantes apoiam líder do PSD-Açores, constituído arguido na Operação Nortada

Alexandre Gaudêncio foi investigado pela PJ por suspeita de violação de regras de contratação pública, de urbanismo e ordenamento do território, na autarquia que dirige na Ribeira Grande.

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O presidente do PSD-Açores, Alexandre Gaudêncio, no XXIII Congresso Regional do PSD-Açores, São Miguel EDUARDO COSTA/PÚBLICO

Centenas de pessoas manifestaram-se esta segunda-feira, na Ribeira Grande, para demonstrar apoio ao líder do PSD-Açores e presidente da Câmara da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, depois de este ter sido constituído arguido na Operação Nortada.

O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande e líder do PSD-Açores, que está a ser investigado no âmbito do processo que investiga crimes de peculato, prevaricação, falsificação de documentos e abuso de poder, não compareceu na manifestação, mas enviou uma mensagem aos seus apoiantes, através do seu pai, Norberto Gaudêncio, que disse que o seu filho agradece o apoio e que espera que “a Justiça cumpra o seu dever, que seja justa e que a verdade venha ao de cima”.

Muitos dos manifestantes foram prestar um apoio “pessoal”, como é o caso de Filipe Tavares, que conhece o autarca desde a infância e que deposita nele a sua “confiança": “Venho aqui prestar apoio e solidariedade enquanto amigo, desde a infância, e também porque percebo o trabalho que tem feito ao nível da autarquia e o percurso que tem vindo a desenhar de preparação para esta possível eleição a nível regional, e ele é merecedor da nossa confiança”.

Os manifestantes começaram, entretanto, a entoar “PSD! PSD!” e Filipe Tavares reforçou que o seu apoio é pessoal e que não se juntaria aos restantes apoiantes nos cânticos, mas considerou que “até que se prove que, efectivamente, há ilegalidade, ele não deve ser condenado na praça pública” e, por isso, foi até ao Largo Conselheiro Artur Hintze Ribeiro, ao final da tarde de segunda-feira.

A solidariedade de Duarte Varão também transcende o apoio partidário, garantiu, afirmando que não tem partido e que vota “nas pessoas”. Veio da freguesia do Rosário, no concelho da Lagoa, autarquia liderada por uma socialista: “A minha presidente é a Cristina Calisto, eu adoro a Cristina Calisto. Eu não quero saber de partidos, os partidos para mim é zero, eu quero é as pessoas”, afirmou, acrescentando que Alexandre Gaudêncio “é boa pessoa”. “Se, realmente, ele fez alguma coisa, pois, há-de ser julgado pela Justiça. Agora, isso não tira o meu apoio a ele”, prosseguiu.

Já Sandra Cabral e Zélia Moniz nem admitem essa possibilidade. As autoras dos cartazes onde se liam frases de apoio como “Insista, persista, mas nunca desista! Porque um dia você conquista” ou “Viva ao nosso presidente!” depositam “muita, muita confiança nele” e garantem que “ele é inocente”. Questionadas sobre a hipótese de demissão do autarca, a resposta é simples: “Nunca. Ele não sai. Ele é nosso, ele não sai”.

O autarca, que lidera também a estrutura regional social-democrata, é investigado por, entre outros, crimes de peculato, abuso de poder e falsificação de documentos, o mesmo tipo de acusações que o levou a pedir a demissão da directora regional do Turismo, Cíntia Martins, e do assessor técnico Joaquim Pires, que foram constituídos arguidos num processo em que são investigados por crimes de corrupção e administração danosa.

Agora, recusou a hipótese da sua demissão da autarquia e pôs o seu lugar na liderança do partido à consideração da comissão política, a qual decidiu, por larga maioria, pela sua continuação.

Questionado sobre a posição que Gaudêncio assumiu em Maio, em relação à Sociedade de Promoção e Reabilitação de Habitação e Infra-estruturas (SPRHI), Rui Tavares, militante do partido, considera que “são duas situações diferentes”.

“A primeira é uma nomeação e, como nomeação, há um responsável que o nomeou e, se ele sentir que já não tem confiança nessa pessoa, pode, ou não, demitir esta pessoa. No caso de Alexandre Gaudêncio, ele foi eleito pelo povo, neste caso, da câmara, pelos cidadãos da Ribeira Grande, e só eles é que podem demovê-lo enquanto presidente da câmara. Teríamos que esperar por novas eleições e, se o povo entendesse que ele não merece a confiança, seria destituído. Enquanto presidente do PSD regional, será a mesma fórmula. Os militantes é que irão ditar se ele deve continuar ou não. Enquanto presidente do PSD-Açores, deverá respeitar o que os militantes entenderem”.

Esta é uma posição partilhada por Alberto Ponte, presidente da Junta de Freguesia da Lomba da Maia, do concelho da Ribeira Grande, que diz que “são coisas diferentes, porque, quando ele pediu [a demissão da administração da SPRHI], foram pessoas nomeadas e não pessoas por voto. São coisas completamente diferentes”.

O líder dos sociais-democratas açorianos foi alvo de uma investigação da PJ por suspeita de violação de regras de contratação pública, de urbanismo e ordenamento do território, na autarquia que dirige.

Um dos motivos da investigação prende-se com um contrato com o artista brasileiro MC Kevinho para um concerto ocorrido em Abril no município açoriano. O concerto provocou polémica na Ribeira Grande devido aos valores envolvidos: em Abril, o Açoriano Oriental revelava que em causa estariam 123 mil euros entre remuneração e organização, valores aos quais se juntou a receita de bilheteira a favor do artista brasileiro.

A autarquia destacou, na altura, a divulgação e promoção da Ribeira Grande “a nível nacional e internacional” que a organização do concerto trouxe.

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