CDS: depois da bebedeira do “poder”, a ressaca

Os números da última sondagem parecem provar que, se Cristas assumiu que a sua estratégia para o CDS falhou nas europeias, ao falhanço da estratégia sucedeu o nada

Foto
LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
Reserve as quintas-feiras para ler a newsletter de Ana Sá Lopes em que a política vai a despacho.

Uma das coisas impressionantes da sondagem SIC/Expresso divulgada este fim de semana foi a aproximação entre o CDS e o PAN – impensável para um partido cuja líder assumia em público que se “via” a curto prazo no cargo de primeira ministra. Na sondagem, os Pessoas-Animais-Natureza, um jovem partido, tem 4%; o velho CDS apenas 5%.

Os números parecem provar que, se Cristas assumiu que a sua estratégia para o CDS falhou nas europeias, ao falhanço da estratégia sucedeu o nada. Isto foi particularmente visível no debate do Estado da Nação da última semana quando Cristas evitou o confronto com o primeiro-ministro – é possível que a presidente do CDS tenha constatado que o tom dos diálogos com Costa não lhe estaria a ser favorável, e que isso poderia ser parcialmente responsável pelo resultado do CDS nas eleições para o Parlamento Europeu.

Mas substituir uma oposição aguerrida, às vezes agressiva, mas uma oposição legítima, por zero, ou quase zero, não inverte um rumo de perda. Aliás, em termos de oposição zero a direita portuguesa entre 2015 e 2019 será um dia um “case study” – a tragédia começou quando Pedro Passos Coelho, que nunca interiorizou a nova solução parlamentar que permitiu ao PS ser Governo, se perdeu na inconsistência e na visão de diabos iminentes.

Foi, em parte, o desnorte dos últimos tempos de Passos Coelho e do PSD que permitiu a Assunção Cristas obter mais de 20% dos votos na sua candidatura à Câmara de Lisboa,  ficar à frente do PSD e sonhar com um futuro dourado. Mas em Lisboa o CDS já era uma oposição mais eficaz à Câmara socialista previamente ao anúncio de Cristas.

Aqueles 20% das autárquicas de 2017 foram o melhor resultado do CDS de sempre mas tiveram um péssimo efeito colateral: os centristas “embebedaram-se” de um estranho álcool que os pôs a sonhar que um dia liderariam a direita. Ora, nem pela cabeça de Paulo Portas isso algum dia passou. O CDS não é o líder da direita, nunca foi, e o sonho de Assunção de que um dia poderia ser está agora de modo absolutamente cruel a chocar com a realidade. “A única alternativa do centro-direita”, como Cristas apresentou o CDS nesse famoso congresso do ano passado – em que ouviu gritos de que seria primeira-ministra – está a viver um dos seus piores momentos, a três meses das legislativas. Se a estratégia anterior falhou, já não há muito tempo para arranjar uma nova.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários