Airbus reconhece problema de cheiros no novo modelo, mas enjoos continuam por explicar

Fabricante detectou duas causas para o problema dos cheiros poucos habituais e arranjou medidas mitigadoras. Mas ainda não se sabe a razão do enjoos de passageiros e tripulantes durante as viagens do novo modelo Airbus 330-900neo, utilizado pela TAP. Pessoal de voo diz-se cada vez menos tranquilo.

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Fabio Augusto

Serão pequenas gotas de óleo libertadas no arranque do motor e o sistema de ar condicionado que estarão na origem dos cheiros que têm sido detectados nos novos A330 Neo comprados pela TAP. Esta é, pelo menos, a informação que foi enviada pela fabricante Airbus numa carta enviada à companhia aérea portuguesa a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso. A TAP tem ao serviço na sua frota dez aviões Airbus 330-900neo (mas encomendou um total de 21) e foi a primeira no mundo a operar o modelo .

Ao longo dos últimos meses, têm surgido relatos de passageiros e tripulantes com enjoos, tonturas e ardor nos olhos depois de voarem nestas aeronaves. O fabricante e a TAP admitiram desde logo as perturbações ao nível dos odores, mas descartaram sempre as hipóteses de serem eles a razão para o mal-estar reportado pelos passageiros e tripulantes. Nesta mesma carta, que foi enviada pela Airbus à TAP, é indicado que a fabricante tinha criado um grupo de trabalho para escrutinar com exaustão todos os problemas que estão a acontecer. Já esta manhã, aos microfones da TSF, a representante do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil disse que ia pedir mais informações à empresa, adiantado que estas notícias não eram tranquilizadoras. “Estas notícias aumentam as nossas preocupações. Isto porque as ocorrências permanecem. Não são diárias, mas continuam a chegar. Tem de haver medidas mais imediatas. Nem os tripulantes, nem os passageiros podem ficar à mercê de grupos de trabalho”, afirmou Luciana Passo.

A carta divulgada esta segunda-feira tem a data de 7 de Junho. A TAP nunca tinha revelado o conteúdo desta carta, apesar de desde logo ter admitido ter registo de “alguns odores provenientes do equipamento de ar condicionado”. No entanto, desdramatizou o caso, afirmando que o fenómeno é normal em aviões novos e que o cheiro “desaparece logo após as primeiras utilizações”. Também a Airbus afirmava que o fenómeno “é algo normal em aeronaves recentemente postas ao serviço” e que a empresa está “a trabalhar com os clientes para minimizar quaisquer perturbações”. Mas tanto a TAP como a Airbus separaram desde o início a questão dos odores do problema relacionado com os sintomas de desconforto que eram reportados pelos tripulantes.

Na carta a que o DN /Dinheiro Vivo teve acesso lê-se que a Airbus referiu ter recebido relatos de dois “efeitos diferentes: cheiros pouco comuns e sintomas de desconforto, não havendo uma correlação entre os dois factores”, refere. “Durante a fase de testes de voo, identificámos que o arranque do motor poderia gerar odores na cabina”, explicou a Airbus, acrescentando que numa utilização contínua superior a cem segundos “algumas gotas de óleo poderiam ser libertadas no compressor de alta pressão”, o que provocaria “cheiro a óleo durante a fase de táxi, descolagem e subida”.

A empresa diz ter adoptado duas medidas mitigadoras deste efeito, tanto em terra como durante a descolagem do avião, e garantiu que estes dados seriam partilhados com a EASA, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação, no final de Junho. “Durante as primeiras fases de serviço, o sistema de ar condicionado foi identificado como outra fonte de odores”, diz a Airbus. Este fenómeno está relacionado com a temperatura de saída do ar proveniente do compressor de alta pressão que interage com o revestimento (uma espécie de tinta primária anticorrosão). E explica que também esta situação já foi mitigada com tratamentos anti-calor e maior circulação de ar para os aviões em operação. “Apesar de estas duas origens terem sido solucionadas, os relatórios indicam que os odores ainda estão presentes”, com a Airbus a assumir que “não podemos descartar outras potenciais causas para o problema”.

Ao DN/Dinheiro Vivo, a fabricante europeia garante que, “no que diz respeito aos cheiros, foi formada uma task force, com a colaboração dos nossos fornecedores. As investigações técnicas estão já em curso para explorar uma lista exaustiva de potenciais causas do problema”. E acrescenta que “estão a ser adoptadas soluções mitigadoras ou permanentes”.

Já os enjoos reportados por tripulantes continuam envoltos em mistério - o sindicato dos tripulantes de bordo (SNPVAC) ameaçou avançar com uma greve caso não haja medidas efectivas para resolver o problema. “A Airbus está a trabalhar de perto com o operador [a TAP] que registou estes eventos”, é a posição oficial da empresa.

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