Teodoro Obiang diz que vai a Fátima, mas Portugal desconhece visita

São Bento, Necessidades e Belém não receberam informação ou pedidos sobre a visita do Presidente da Guiné Equatorial. Na sede da CPLP também não.

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LUSA/TIAGO PETINGA

O Presidente da Guiné Equatorial anunciou que está a organizar uma visita ao Santuário de Fátima, em Portugal, mas as autoridades portuguesas não têm qualquer informação sobre o plano.

A confirmar-se, seria a primeira visita a Portugal de Teodoro Obiang, Presidente da Guiné Equatorial, que há cinco anos se tornou membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Numa entrevista à agência Lusa em Malabo, a capital, publicada esta sexta-feira, Obiang disse querer “recuperar a herança cultural portuguesa” e visitar Portugal. Por isso, acrescentou, “os serviços diplomáticos” guinéu-equatorianos estão a organizar uma deslocação sua a Portugal, que incluirá o Santuário de Fátima. “Está a ser tratado pela via diplomática”, disse o ditador africano à Lusa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português, no entanto, não foi contactado pelos colegas guinéu-equatorianos. Ao PÚBLICO, o gabinete do ministro Augusto Santos Silva disse esta sexta-feira que o MNE “não está a trabalhar sobre qualquer cenário de uma próxima deslocação do Presidente da Guiné Equatorial a Portugal”. O mesmo se passa na Presidência da República. “Belém não tem conhecimento de qualquer solicitação sobre uma visita a Portugal”, disse Paulo Magalhães, assessor de imprensa do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Também para a CPLP, cuja sede é em Lisboa, não houve contactos sobre a preparação de uma visita do líder do mais recente Estado-membro da organização. A Guiné Equatorial é membro de pleno direito da CPLP desde 2014.

Quando um chefe de Estado faz uma visita privada a outro país, em férias ou por outro motivo, a tradição é informar os palácios de São Bento (Governo), Necessidades (diplomacia) e Belém (Presidência). Em muitos casos, apesar de a visita ser privada, os chefes de Estado vão cumprimentar o homólogo do país que visitam.

Quando isso não acontece, a diplomacia acaba por saber da visita de “entidades estrangeiras de relevo” na sequência de questões logísticas e de protocolo, como pedidos de reserva para a sala VIP do aeroporto ou autorização de aterragem do aviões particulares.

“A CPLP é um movimento cultural e eu tenho vizinhos que são de expressão portuguesa: tenho São Tomé tão perto, tenho afinidades com a Guiné-Bissau e Cabo Verde. Há aqui muita gente que veio de Cabo verde. Tenho laços com Angola e Moçambique. São laços culturais que temos com esses países que nos fizeram entrar na dinâmica da CPLP”, disse Obiang à Lusa. Antes da colonização espanhola, “Portugal tinha importantes recursos económicos na Guiné Equatorial, grandes roças, grandes quintas”. Obiang quer “recuperar a herança portuguesa”, diz que os guinéu-equatorianos têm “origens na civilização portuguesa” e que o seu “desejo é voltar à velha cultura” que o país “teve antigamente”.

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