A dançar salsa em direcção a um futuro melhor

A leitora Ana Torres partilha a sua experiência na Colômbia.

,Jardín
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Guatapé
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Vale de Cocora

Deixem que vos faça uma pergunta: qual é a primeira coisa que vos vem à cabeça quando pensam na Colômbia?

Eu sei o que estão a pensar... Também era a palavra que invadia a minha mente: Narcos. Ainda por cima, tenho que vos dizer que nunca acompanhei a série. Mas, mesmo assim, quem é que não ouviu falar das patifarias do Pablo Escobar, e do quão realista foi a forma como a Netflix as retratou? 8.4 de classificação no IMDB, não é? É claro que já tinha planeado averiguar por mim mesma as razões para esta popularidade.

Contudo, logo no primeiro dia que passei em Bogotá, no âmbito de uma visita, um guia fez um apelo: “Façam-nos um favor e não dêem audiência a nada que tenha como personagem principal o Pablo Escobar”. O que pensei eu quando ouvi aquilo? Bom, tenho que vos admitir que naquela altura não compreendi bem o alcance do pedido.

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Cartagena das Índias

Só que depois comecei a explorar o país. Aprendi por que é que, juntamente com Berlim, Bogotá é considerada a capital de arte de rua. Fui até ao Vale de Cocora ver as palmeiras mais altas do mundo e descobri que, afinal, ainda eram BEM mais altas do que eu imaginava! Aprendi a escolher quais os bagos de café que estão prontos para a colheita, e enchi um cesto com eles. Partilhei um Willy com mais pessoas do que a capacidade do jeep, numa viagem alucinante de divertida. Deliciei-me com truta grelhada em Salento. Tirei fotos a praticamente todas as casas coloridas de Filandia. Andei num teleférico de madeira em Jardín. Subi as escadas rolantes da Comuna 13. Vi o pôr do sol com vista para a parte histórica de Cartagena de um lado e mar combinado com uma língua de arranha-céus ao estilo de Miami no outro. Subi 700 degraus para chegar ao topo do mundo em Guatapé. Nadei com plâncton luminoso na reserva natural das ilhas do Rosário. E cheguei à conclusão que chocolate quente com queijo derretido é muito bom!

Sobretudo, fiz amigos colombianos. Amigos que me fizeram questionar sobre isto: “E se Portugal não andasse nas bocas do mundo pelo Cristiano Ronaldo, mas sim por causa de um terrorista?”. Sim, porque não nos iludamos. Alguém que manda colocar bombas em centros comerciais, ou que paga a crianças para assassinar civis, não é um mero assassino, ou traficante. É um terrorista, cuja família ainda recebe os direitos de autor da série da Netflix. Ou cujos sucessores no tráfico de droga ainda pedem ‘impostos de paz’ aos habitantes da Comuna 13 que tentam levar uma vida honesta.

Por isso, quando dei conta, ninguém teve de me repetir o apelo. Eu própria já não tinha vontade de ver a série Narcos. Porque a Colômbia é muito mais do que uma parte negra do seu passado. São os jovens de Medellín a darem espectáculos de break dance na rua. São as pessoas do bairro de Getsêmani num festejo constante. São os habitantes de Guatapé que fazem protestos pelo meio ambiente. É o recepcionista do meu hostel em Jardín que aprendeu a falar português correcto com uma aplicação porque acha a língua de Camões linda. É o velhote em Cartagena que me diz que tenho de ir à rua dele tirar uma fotografia com os chapéus-de-sol que enfeitam as casas. São os funcionários de um restaurante a ouvir fado. São os clubes de salsa em Cali.

A Colômbia é um país com imenso para dar ao mundo, desde que se veja para lá das palavras que estão programadas na nossa mente. O que penso eu quando ouço a palavra Colômbia, hoje em dia? Penso em futuro. Porque este país é toda a gente que tem uma vontade imensa de traçar um rumo melhor para a sua vida.

Ana Torres

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