Artes

Há 65 anos sem Frida Kahlo

Na data do aniversário da sua morte, o PÚBLICO preparou uma fotogaleria da artista mexicana — uma mulher à frente do seu tempo.

Frida Kahlo morreu a 13 de Julho de 1954 Reuters/Tomas Bravo
Fotogaleria
Frida Kahlo morreu a 13 de Julho de 1954 Reuters/Tomas Bravo

“Nunca pinto sonhos nem pesadelos. Pinto a minha própria realidade.”

Era assim que a artista mexicana Frida Kahlo se definia. A mulher latina, com sobrancelhas grossas, que viveu com espartilhos e uma coluna partida desde os 18 anos, não tinha medo de se vestir de formar inconvencional e dizer o que pensava. Ficou conhecida pelos seus auto-retratos, e telas mais excêntricas – que misturam montes e vales com figuras a boiar numa banheira – mas Kahlo sempre rejeitou a descrição de “surrealista”. A inspiração, dizia, vinha da sua vida: procedimentos médicos dolorosos, abortos, desilusões e um casamento tumultuoso. 

Neste sábado, 13 de Julho, assinalam-se os 65 anos da sua morte. Em seis décadas, a vida da pintora deu azo a inúmeros romances, filmes e exposições. Em 2019, Kahlo continua a ser das figuras mais influentes na história da arte moderna. Na data do aniversário da sua morte, o PÚBLICO preparou uma fotogaleria com a vida, obra, e fãs da artista.

A história por detrás dos auto-retratos

Magdalena Carmen Frida Kahlo nasceu a 6 de Julho de 1907, em Coyoacán, México. Apesar de ser filha de um pai alemão e de uma mãe espanhola e indígena, sempre se sentiu mais próxima das raízes da progenitora e orgulhosa da cultura mexicana. Era frequente vê-la com vestidos com padrões inspirados na cultura Maia, saias compridas e garridas, e colares tradicionais com símbolos indígenas e mexicanos. A fusão saía fora do que era considerado “a norma” na época, uma mensagem sobre o orgulho na sua identidade cultural, e uma critica ao colonialismo. 

A infância de Kahlo não foi fácil. A artista cresceu num clima de instabilidade política que, eventualmente, pôs fim a uma ditadura de quase trinta anos. Tinha apenas três anos quando estalou a revolução mexicana (iria durar nove longos anos), e com apenas seis anos sofreu um ataque de pólio. A doença fez com que a perna direita ficasse mais fina que a esquerda (facto que ela disfarçava com saias). Em adolescente, ficou gravemente ferida num acidente de autocarro (a coluna, pernas, e pés foram fracturados) e o episódio deixou-a com dores crónicas para o resto da vida. Foi nos primeiros tempos, aborrecida e incapaz de sair da cama, que começou a pintar com aguarelas para passar o tempo. A mãe mandou fazer um cavalete especial para conseguir pintar, deitada.

Em entrevistas terá descrito o acidente de autocarro, enquanto jovem, como um dos dois grandes acidentes na sua vida. O outro, o pior, diz, foi conhecer Diego Rivera. Kahlo conheceu o aclamado pintor mexicano quando lhe pediu uma opinião no seu trabalho. Rivera era 20 anos mais velho, mas apaixonaram-se rapidamente e casaram em 1929. A relação tumultuosa, marcada por traições e um divórcio (e outro casamento) pelo meio, foi tema de múltiplos trabalhos de Kahlo. O marido chamava-lhe “a grande ocultadora”

“Frida era altamente política, e o que ela fazia estava sempre em linha com aquilo em que acreditava, fosse o comunismo ou o feminismo”, resumiu Lisa Small, a curadora da exposição Appearances Can Be Deceiving, sobre Frida Kahlo, que esteve até Maio no museu de Brooklyn em Nova Iorque.

Kahlo morreu aos 47 anos. Os últimos anos foram marcados por uma operação à coluna, a amputação da perna direita, e uma dependência de analgésicos. A causa oficial foi embolia pulmonar, embora nenhuma autópsia tenha sido realizada. Karla Pequenino 

Frida com cinco anos, 1912 (autor desconhecido). Um ano mais tarde viria a ter um ataque de pólio, que deixou a perna direita mais magra que a esquerda
Frida com cinco anos, 1912 (autor desconhecido). Um ano mais tarde viria a ter um ataque de pólio, que deixou a perna direita mais magra que a esquerda Cortesia Museu Frida Kahlo
Frida a pintar deitada na sua cama, em 1940. De pé, ao seu lado, o pintor e caricaturista mexicano Miguel Covarrubias
Frida a pintar deitada na sua cama, em 1940. De pé, ao seu lado, o pintor e caricaturista mexicano Miguel Covarrubias Cortesia Museu Frida Kahlo
Frida Kahlo, fotografada pelo pai, o fotógrafo mexicano Guillermo Kahlo, 1932
Frida Kahlo, fotografada pelo pai, o fotógrafo mexicano Guillermo Kahlo, 1932 Guillermo Kahlo, Museu Frida Kahlo
<i>La Columna Rota</i> (português para <i>A Coluna Quebrada</i>) foi pintado em 1944, após Kahlo ter sido alvo de uma cirurgia na coluna para tentar corrigir as sequelas do acidente de autocarro em adolescente
La Columna Rota (português para A Coluna Quebrada) foi pintado em 1944, após Kahlo ter sido alvo de uma cirurgia na coluna para tentar corrigir as sequelas do acidente de autocarro em adolescente Reuters/Philippe Wojazer,Reuters/Philippe Wojazer
 Frida Kahlo recém-operada, 1946. Em 1946 Kahlo foi operada à coluna em Nova Iorque. A pintora esperava que a cirurgia resolvesse as dores crónicas e severas nas costas, mas não teve o resultado esperado. A  pintura <i>El venado herido</i>, que mostra um veado, com a cara de Kahlo, ferido com flechas, foi criado para expressar a desilusão com o procedimento médico
Frida Kahlo recém-operada, 1946. Em 1946 Kahlo foi operada à coluna em Nova Iorque. A pintora esperava que a cirurgia resolvesse as dores crónicas e severas nas costas, mas não teve o resultado esperado. A pintura El venado herido, que mostra um veado, com a cara de Kahlo, ferido com flechas, foi criado para expressar a desilusão com o procedimento médico Antonio Kahlo, cortesia Museu Frida Kahlo
Frida no hospital de Nova Iorque em 1946
Frida no hospital de Nova Iorque em 1946 Nickolas Muray, Museu Frida Kahlo
Frida a pintar o retrato de seu pai em 1951
Frida a pintar o retrato de seu pai em 1951 Gisèle Freund, Museu Frida Kahlo
Visitantes juntos a uma figura gigante da artista Frida Kahlo, durante a exposição <i>Los Colores de Frida Kahlo</i>, na Cidade do México
Visitantes juntos a uma figura gigante da artista Frida Kahlo, durante a exposição Los Colores de Frida Kahlo, na Cidade do México Luis Cortes/REUTERS
Os fãs de Frida Kahlo vestem-se como a pintora para marcar o 112º aniversário do nascimento da artista na Cidade do México, 2019
Os fãs de Frida Kahlo vestem-se como a pintora para marcar o 112º aniversário do nascimento da artista na Cidade do México, 2019 Luis Cortes/REUTERS
Um dos espartilhos de Frida Kahlo, na exposição <i>Smoke and Mirrors: Frida Kahlo's dresses</i>, no México
Um dos espartilhos de Frida Kahlo, na exposição Smoke and Mirrors: Frida Kahlo's dresses, no México Reuters/EDGARD GARRIDO
Um dos espartilhos de Frida Kahlo, na exposição <i>Smoke and Mirrors: Frida Kahlo's dresses</i>, no México
Um dos espartilhos de Frida Kahlo, na exposição Smoke and Mirrors: Frida Kahlo's dresses, no México Reuters/EDGARD GARRIDO
No inicio do século XX, o pai de Frida Kahlo (autor deste retrato de Frida, em 1926) documentou importantes obras de arquitectura no México, igrejas, ruas, marcos históricos, bem como indústrias e empresas emergentes
No inicio do século XX, o pai de Frida Kahlo (autor deste retrato de Frida, em 1926) documentou importantes obras de arquitectura no México, igrejas, ruas, marcos históricos, bem como indústrias e empresas emergentes