Governo de coligação ou cooperação com o PSOE? Podemos deixa decisão nas mãos dos militantes

Pablo Iglesias rejeitou proposta de Pedro Sánchez para indicar ministros sem perfil político e lançou consulta interna para forçar os socialistas a uma “negociação integral”.

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Pedro Sánchez e Pablo Iglesias EPA/Juan Carlos Hidalgo

Sem acordo à vista com o Partido Socialista espanhol (PSOE), para a formação do próximo Governo, Pablo Iglesias decidiu lançar uma consulta interna nesta sexta-feira, para que sejam as bases do Unidas Podemos a decidir se a plataforma de esquerda deve aceitar a proposta de Pedro Sánchez para um executivo de cooperação ou continuar a pressionar o líder socialista a aceitar um acordo integral de coligação.

Os cerca de 190 mil militantes inscritos no Podemos são desafiados a dar conta da sua posição sobre “como devem votar os deputados e deputadas no debate de investidura”, agendado para os dias 22 e 23 deste mês, para “tornar Pedro Sánchez presidente” do Governo. 

A votação vai decorrer até às 11 horas da manhã da próxima quinta-feira – três dias antes da sessão plenária no Congresso dos Deputados – e os participantes terão de escolher entre “um acordo integral de Governo de coligação (programático e equipa), sem vetos, em que as forças da coligação tenham uma representação razoavelmente proporcional aos seus votos” ou “um Governo desenhado unicamente pelo PSOE, colaboração em níveis administrativos subordinados ao Governo e um acordo programático”.

A consulta surge como resposta à tentativa de flexibilização de posições, por parte do PSOE, depois de a última reunião presencial entre os dois líderes ter fracassado, na terça-feira. 

Sánchez retomou o contacto e desafiou Iglesias a sugerir nomes de possíveis ministros que possam entrar num executivo liderado pelo PSOE, desde de que cumpram determinados requisitos: serem independentes, terem perfil técnico e não fazerem parte da direcção do partido.

Estas exigências não foram, no entanto, recebidas com grande entusiasmo junto da plataforma de esquerda que, até pela forma como coloca as hipóteses aos militantes, quer fazer da consulta mais um instrumento de pressão sobre os socialistas. 

“Discutir um programa está relacionado com discutir as equipas de governo. A chave é fazer uma negociação integral como se faz na Europa e nos governos autonómicos. E nós temos equipas preparadas há dois meses para ter uma negociação integral”, sublinhou Iglesias.

A ligeira mudança de estratégia dos socialistas – que continuam a privilegiar um “governo de cooperação”, em vez de “coligação” – foi respaldada esta sexta-feira pela ministra da Presidência e vice-presidente do Governo. Sem se referir directamente à oferta de ministros, Carmen Calvo defendeu, porém, que “os nomes importam pouco, só importa o de Sánchez” e revelou que o PSOE está a considerar “todos os cenários possíveis” para ultrapassar o bloqueio no Parlamento.

“É obrigação do presidente considerar todos os cenários”, disse Calvo à Cadena Ser. “Temos de falar sobre o que podemos fazer, que respostas podemos dar a este país e depois abrir espaços de trabalho. Temos de falar de conteúdos e objectivos e a partir daí podemos abrir várias possibilidades.”

Na linha do que disse Pedro Sánchez na véspera, para a vice-presidente, a prioridade é alcançar acordos programáticos, que permitam às duas forças de esquerda ultrapassar as “divergências de fundo em assuntos de Estado”. 

“Partilhamos muitos elementos de política social, de solidariedade e de igualdade com o Unidas Podemos, mas distanciamo-nos noutras questões, as chamadas políticas de Estado, o plano internacional ou a questão da Catalunha”, referiu.

As legislativas espanholas realizaram-se no final de Abril, mas as principais forças políticas ainda não foram capazes de chegar a um acordo para a nomeação de um novo governo. Longe dos 176 deputados necessários para a maioria absoluta na Câmara dos Deputados – elegeu 123 – o PSOE decidiu, ainda assim, agendar o debate de investidura para os dias 22 e 23 deste mês.

Unidas Podemos (42 deputados), Cidadãos (57) e Partido Popular (66) já anunciaram que não vão votar favoravelmente à investidura de Sánchez, sendo que os primeiros não fecham a porta a um acordo com os socialistas. Desde que inclua cargos governamentais para figuras de relevo da coligação.

Se Sánchez não conseguir ser investido na data agendada, a legislação espanhola estabelece que o líder do partido mais votado tem dois meses para voltar a tentá-lo. Caso contrário, haverá novas eleições em Espanha. As quartas desde 2015.

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