Caso de tráfico sexual de menores provoca demissão na Casa Branca

Secretário do Trabalho sai em resposta às acusações de que beneficiou Jeffrey Epstein, o magnata acusado de tráfico sexual de menores.

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Alexander Acosta era procurador quando Epstein foi acusado na Florida, na década passada Reuters/LEAH MILLIS

O caso do magnata norte-americano Jeffrey Epstein, acusado de liderar uma rede de tráfico de raparigas menores usadas como escravas sexuais, provocou esta sexta-feira uma baixa na Casa Branca com a demissão do secretário do Trabalho. Alexander Acosta é acusado de ajudar o milionário a escapar a uma pena pesada, em 2008, numa altura em que fazia parte do Ministério Público.

Epstein, de 66 anos, foi detido há uma semana e acusado de tráfico sexual de menores pela segunda vez em pouco mais de uma década.

Mas é uma outra tentativa da Justiça para prender o magnata dos mercados financeiros, entre 2006 e 2008, que está a transformar o caso num escândalo nacional.

Nessa altura, a polícia da Florida investigou uma acusação de abuso sexual contra Jeffrey Epstein, feita pela mãe de uma menor. Ao longo de um ano, os agentes recolheram testemunhos de dezenas de menores, muitas delas entre os 13 e os 16 anos, que acusavam o magnata de as tratar como escravas sexuais na sua mansão na Florida.

Apesar das dezenas de testemunhos considerados credíveis pelos investigadores, e de outras provas como mensagens de telemóvel ou facturas de viagens de táxi, os procuradores federais fizeram um acordo com os advogados de defesa que foi muito benéfico para o magnata. Em troca de Epstein se dar como culpado de dois crimes de solicitação de prostituição na Florida, e de se registar na polícia como abusador sexual, o Estado deixou cair a acusação de tráfico sexual de menores, um crime federal com penas muito mais graves, incluindo a prisão perpétua.

O magnata passou então 13 meses numa ala privada de uma cadeia na Florida, com autorização para sair seis dias por semana durante 12 horas por dia.

Já nessa altura se suspeitou de que o acordo poderia estar relacionado, em parte, com as relações de Epstein com personalidades influentes, como Bill Clinton, Donald Trump ou o príncipe André de Inglaterra.

Alexander Acosta, até esta sexta-feira secretário do Trabalho dos EUA, foi o procurador que acertou o negócio com um dos advogados de Epstein, e que foi mantido em segredo das vítimas – um procedimento que um tribunal federal considerou ilegal num processo decidido no início deste ano.

Em 2011, Alexander Acosta disse que aceitou o acordo para garantir que Epstein viesse a passar algum tempo na cadeia, e depois de “um ataque de um ano contra os procuradores por um exército de estrelas da advocacia”. Esse acordo está agora a ser investigado pelo gabinete de assuntos internos do Departamento de Justiça.

O anúncio da demissão foi feito pelo Presidente norte-americano, que manteve a sua confiança no secretário do Trabalho até ao fim.

“O Alex Acosta informou-me esta manhã que sentia que o martelar constante da imprensa sobre uma acusação que teve lugar há mais de 12 anos era mau para a Administração, na qual ele tanto acredita, e apresentou a sua demissão”, disse Trump no Twitter.

Mais tarde, Acosta disse que pediu a demissão porque “seria egoísta ficar no cargo e continuar a falar sobre um caso com 12 anos, em vez de falar sobre a fantástica economia do país”.

Com a segunda acusação contra Epstein por tráfico sexual de menores, desta vez em Nova Iorque, algumas figuras de primeiro plano nos EUA têm tentado manter-se distantes do magnata, ainda que a relação entre eles esteja documentada.

Na terça-feira, um porta-voz de Bill Clinton veio dizer que o ex-Presidente viajou apenas quatro vezes num dos aviões particulares do magnata, e sempre com a presença de elementos dos Serviços Secretos. E o Presidente Donald Trump disse que não fala com Epstein há mais de dez anos, desde que o proibiu de entrar na sua mansão de Mar-a-Lago, na Florida.

Em traços gerais, as duas acusações são muito semelhantes: os colaboradores do magnata ofereciam a raparigas menores 200 ou 300 dólares para fazerem massagens a Epstein, que depois as recebia nos seus quartos, em mansões na Florida e Nova Iorque, e as forçava a terem relações sexuais. Algumas dessas raparigas acabavam por angariar outras vítimas, num esquema que acabou por envolver, pelo menos, 80 crianças e adolescentes, a maioria entre os 13 e os 16 anos.

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