Anarquista grego Nikos Romanos libertado da prisão

É um dos principais símbolos do movimento anarquista grego e foi condenado por tentativa de assalto a bancos e atentados terroristas. Romanos presenciou o assassínio de Alexis Grigoropoulos por dois polícias em Atenas, em 2008.

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Nikos Romanos foi detido em 2012 e condenado a 18 anos de prisão efectiva Reuters

O anarquista grego Nikos Romanos foi libertado na quarta-feira. Condenado a 18 anos de prisão por tentativa de assalto a bancos e colocação de explosivos em casas de políticos, cumpriu seis de pena efectiva. Saiu antecipadamente por bom comportamento e pelos dias de trabalho na prisão, onde acabou o ensino secundário, contarem duplamente no cumprimento da pena.

Desde a sua detenção, em 2012, que Romanos, hoje com 26 anos, se tornou num dos principais símbolos do movimento anarquista grego, um dos mais fortes na Europa, apelando à luta armada a partir da cela – não teve impacto na decisão de libertação. Um dos alvos das bombas de Romanos foi o antigo ministro da Defesa Yiannos Papantoniou, do PASOK.

Romanos estava com o anarquista Alexis Grigoropoulos, de 15 anos, quando este foi assassinado por dois polícias numa esquina do bairro Exarcheia, em Atenas, a 6 de Dezembro de 2008. O bairro é o bastião do movimento anarquista na capital grega.

Acusado de homicídio, o polícia Epaminondas Korkoneas foi condenado a prisão perpétua e o seu colega, Vassilis Saraliotis, a dez anos de prisão efectiva por cumplicidade.

A morte de Grigoropoulos teve um profundo impacto na vida de Romanos, radicalizando-o politicamente ao ponto de optar pela luta armada contra o Estado grego – o movimento anarquista grego é conhecido por levar a cabo atentados terroristas. Mas a morte do jovem anarquista assumiu proporções nacionais.

O assassínio do jovem anarquista resultou na maior sublevação da história recente grega. Os protestos começaram em Atenas, mas propagaram-se em poucos dias a todo o país, acabando por se transformar em revolta generalizada. Milhares de jovens saíram à rua contra a violência policial e falta de oportunidades e por lá permaneceram durante semanas, atirando cocktails molotv, queimando caixotes do lixo e carros e ateando fogo a prédios inteiros. A sociedade ficou em choque e a polícia teve grandes dificuldades em controlar os motins.

Na altura, o jornal Kathimerini caracterizou a revolta como a “pior na Grécia desde a restauração da democracia em 1974”. Desde 2008 que todos os anos milhares de jovens, muitos dos quais anarquistas, saem às ruas para relembrar a morte de Grigoropoulos, envolvendo-se em confrontos com a polícia.

Em Novembro de 2015, Romanos, então com 22 anos, apelou numa carta aberta aos jovens gregos para transformarem as manifestações que iam acontecer a pouco mais de um mês num “Dezembro negro”. “Vão para as ruas, partam janelas de lojas, ocupem escolas, universidades e municípios, distribuam textos para espalhar a mensagem da rebelião, coloquem explosivos contra fascistas e patrões, coloquem faixas em viadutos e avenidas centrais, inundem as cidades com cartazes e panfletos, expludam casas de políticas, atirem cocktails molotovs contra a polícia”, lê-se na carta inicialmente divulgada no site Indimedia e rapidamente divulgada pelos meios de comunicação social gregos.

O tribunal que inicialmente recusou a sua libertação não teve em conta o seu bom comportamento. No entanto, a decisão foi revertida pelo Supremo Tribunal. E, com base nesta última deliberação, o Tribunal da Relação, em Atenas, reconsiderou o seu caso e reduziu-lhe a sentença dos 18 para 14 anos.

Ao ter cumprido seis com bom comportamento e ter trabalhado na prisão, onde acabou o ensino secundário, a pena cumprida foi automaticamente duplicada e saiu em liberdade condicional.

“O nosso objectivo deve ser melhorar a luta subversiva em todas as formas que puder ter, para a transformar num verdadeiro perigo para qualquer governante. Parte desde processo passa por reconstruir a nossa memória histórica, para que possa servir de bússola às estratégias que possamos usar”, disse Romanos numa entrevista ao site anarquista Abolition Media Worldwide no início deste ano – o anarquista recusa-se a falar aos meios de comunicação tradicionais. “Devemos começar novamente a falar sobre a organização de diferentes formas de violência revolucionária, as práticas da ilegalidade revolucionária e a necessidade de as difundir no movimento”.

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