Na encosta da Graça, cerveja sem cerimónias mas com Gallas

É um bar de cervejas que abriu há um ano na Rua Angelina Vidal, em Lisboa, no local onde antes foi um minimercado. Tem mais de 100 cervejas em garrafa e lata, de todo o mundo.

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Ele é holandês, ela é francesa e moram na Austrália. Mas ei-los agora num passeio da Rua Angelina Vidal, em Lisboa, a beber cerveja e a jogar Uno com vista privilegiada para os turistas ensardinhados no eléctrico 28. Neste fim de tarde de um dia de semana, quando a luz já vai fugindo mas o calor não abranda, são os únicos clientes na esplanada do 21 Gallas.

Quando ele entra para pagar, com a coluna a cantar Arcade Fire, o rapaz atrás do balcão pergunta-lhe como deu com o sítio, que, não estando longe do centro da cidade, não está na sua zona mais turística. “Estamos alojados aqui perto e pesquisei no Google: cerveja artesanal. O vosso bar foi um dos que apareceu logo.

Faz sentido. O 21 Gallas é um bar de cervejas que abriu há um ano na Angelina Vidal, mais perto do Bairro das Colónias do que da Graça, no local onde antes foi um minimercado. Atrás do balcão encontramos Lui Serafim, gerente da casa, que faz as vezes de anfitrião porque o patrão, Gustavo Gallas, não conseguiu estar presente. A história de Gustavo é a chave para entender este sítio. “Ele lá no Brasil fazia umas hamburgadas para os amigos. E de brincadeira começou a fazer cerveja para eles tomarem nessas festas”, explica Lui.

A brincadeira tornou-se séria algum tempo depois de Gustavo se ter mudado para Portugal. A Gallas é hoje uma marca de cervejas artesanais com seis referências em garrafa e várias outras em torneira. Estas – e muitas outras – são servidas neste bar relativamente pequeno com paredes de tijolo, três televisões a passar desporto, algumas mesas e jogos para as pessoas se entreterem. “A gente tem mais de 100 cervejas em garrafa e lata, de todo o mundo. Se a pessoa gosta de cerveja, eu vou achar uma de que a pessoa vai gostar”, garante Lui, brasileiro como Gustavo. “Se não, a gente serve vinho também”, ri-se.

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As estrelas da casa são as cervejas India Pale Ale (IPA), cuja sigla dá o mote para os criativos nomes de cada cerveja, como a CaparIPA, a Dona FilIPA ou a TangerIPA. Mas há mais oferta também com nomes originais. A Manchinha, por exemplo, nasceu depois de uma cadela ter sido assassinada à pancada no Brasil e os lucros revertem para a União Zoófila. A Boris é uma homenagem ao cão de Gustavo, com o mesmo nome, e que costuma estar pelo bar (sim, é permitida a entrada a animais). E há ainda a Simcoe, a All the way to the stout, a Alfacinha e tantas outras.

“Uma vez por mês a gente lança cervejas mais ousadas”, diz Lui. “É um ramo muito legal, tem sempre coisas novas para experimentar. É a parte mais divertida da cerveja, na minha opinião.” Vicente, o mestre cervejeiro, que entra e vai servir-se de pequenos copos de cada torneira talvez para se auto-avaliar, concorda. “O menos maluco aqui sou eu”, atira. “Muitas cervejas nascem de acidentes”, ri-se Lui.

Para lá de uma extensíssima oferta de cervejas (a partir de 1,50 euros), o menu tem ainda algumas coisas para picar. Já que tudo começou com as tais “hamburgadas” de Gustavo, lá está o hambúrguer (7,30 euros), o prego (4,90) e petiscos como bolinhos de picanha, pastéis de bacalhau e bolinhos de alheira (entre os 3 e os 6 euros). A oferta de comes varia muito ao longo do ano. “Durante os Santos a gente teve sardinhas, bifanas e entremeada o mês todo”, exemplifica Lui, acrescentando que no Inverno podem ter picanha e outras carnes mais pesadas.

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Lui Serafim, que está em Portugal há pouco tempo, diz que o país ainda não está tão desperto para a cerveja artesanal como o Brasil, mas para lá caminha. “O brasileiro gosta muito de cerveja. Eu, nas minhas folgas, estou noutros bares de cerveja artesanal.” Vicente, também brasileiro, acrescenta: “O cenário de Lisboa hoje é igual ao que a gente viveu no Brasil há dez anos.”

Ainda assim, parece já haver um nicho específico para estes negócios. “Os turistas estão muito interessados em conhecer a cultura cervejeira portuguesa. Por vezes eu sugiro uma cerveja estrangeira e eles dizem ‘não, não, queremos a vossa’”, relata Lui. “Tem gente que chega, prova todas as cervejas e segue para outro bar.” O casal globetrotter com que arrancamos este texto não parece encaminhado para isso. Mas a primeira coisa que fizeram depois de aterrar foi ir beber uma cerveja…

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