Encontrada uma nova espécie de lagarto no estômago de um dinossauro

O lagarto teria uma cauda maior do que o corpo e um grande espaço entre os dentes.

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Reconstituição do Microraptor a comer o lagarto Doyle Trankina

No início do período Cretácico, há cerca de 120 milhões de anos, um Microraptor comeu de uma só vez um lagarto. Durante milhões de anos, esse lagarto ficou (quase todo) no estômago desse dinossauro alado. Esta quinta-feira, além de nos revelar esta imagem, uma equipa de cientistas da China desvenda na revista científica Current Biology que o lagarto pertence a uma espécie desconhecida até agora – a Idrasaurus wangi – e que é bem diferente dos lagartos actuais.

Não se sabe bem, mas os fósseis do Microraptor e do lagarto no seu abdómen deverão ter sido descobertos em 2005 (ou ainda mais cedo) por um agricultor local que os terá desenterrado da formação geológica de Yixian (no Nordeste da China) para os vender ao Museu Natural Tianyu de Shandong, também na China.

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O lagarto no abdómen do Microraptor Jingmai O'Connor

Agora, uma equipa conduzida por Jingmai O'Connor, paleontóloga da Academia Chinesa de Ciências, estudou melhor o lagarto dentro do dinossauro e percebeu que é uma nova espécie para a ciência, a Idrasaurus wangi. Idrasaurus é uma referência ao deus Indra da civilização védica, que foi engolido por um dragão e que neste caso é o Microraptor, um dinossauro que tinha penas nas patas dianteiras e traseiras e na cauda, o que lhe permitia planar, segundo um comunicado da Academia Chinesa de Ciências. Já wangi é uma homenagem ao páleo-herpetologista chinês Yuan Wang. “É uma grande pessoa e tem um grande sentido de humor”, assinala ao PÚBLICO Jingmai O'Connor.

Como não foi encontrado inteiro e estava enrolado no estômago do dinossauro, supõe-se que este lagarto teria entre dez e 15 centímetros de comprimento, a cabeça mediria três centímetros e a cauda seria maior do que o corpo. “Deveria ter uma cauda muito longa e estranha, assim como um grande espaço entre os dentes”, descreve a paleontóloga.

Não era semelhante a nenhum lagarto actual. Através de uma análise filogenética a lagartos do Cretácico, verificou-se que era mais parecido com os outros lagartos do Cretácico do que com os lagartos actuais.

Mesmo assim, também era diferente dos outros lagartos do Cretácico. A sua grande característica diferenciadora seriam mesmo os dentes, que eram muito distintos dos dentes dos outros lagartos da Biota de Jehol, conjunto de organismos vivos de formações geológicas no Nordeste da China do início do Cretácico. A equipa sugere que o Idrasaurus wangi tinha assim os dentes porque deveria ter uma dieta diferente dos restantes lagartos desse período geológico.

O quarto com comida

Mas como terá sido feita esta refeição do Cretácico? Como o lagarto estava quase completo, o Microraptor terá engolido o Idrasaurus wangi inteiro e com a cabeça virada para o estômago. “Esta é a primeira vez que encontrámos um fóssil de um Microraptor que tinha ingerido um lagarto – vestígios tão directos de dieta são muito raros no registo fóssil, mesmo nos fósseis excepcionais da Biota de Jehol”, refere Jingmai O'Connor.

Aliás, dos 200 exemplares completos de Microraptor encontrados até hoje, apenas quatro tinham conteúdo no estômago, nomeadamente aves, peixes e pequenos mamíferos. “Já sabíamos que o Microraptor era um predador oportunista, ou seja, comia tudo o que apanhava, mais ainda faz mais sentido termos a prova de que comeu um pequeno lagarto”, frisa a paleontóloga sobre esta refeição com milhões de anos.

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