Joalharia da Baixa tornou-se venda de souvenirs e deixou de ser Loja com História

A Barreto & Gonçalves fazia parte do primeiro lote de espaços comerciais reconhecidos pelo programa Lojas com História. A firma continua a existir, só deixou de ter loja aberta ao público. A mudança do ramo de negócio e as alterações interiores levaram a câmara a retirar a distinção.

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A loja actualmente Daniel Rocha
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A loja, como era até recentemente DR

Nas montras do número 17 da Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, já não moram jóias, castiçais e jarras. A loja da Ourivesaria e Joalharia Barreto & Gonçalves, que estava aberta naquele local desde 1920, fechou e deu lugar a uma loja de souvenirs. Galos de Barcelos, ímanes e outras recordações de Portugal povoam agora as vitrines ladeadas pela característica moldura de ferro vermelho.

A firma Barreto & Gonçalves não desapareceu, assegura a sua gerente, apenas deixou de ter loja aberta ao público. “Foi uma opção pessoal. Neste momento, sentimos que tinha chegado a altura”, diz Joana Barreto Leitão, neta de um dos fundadores da casa.

Como a loja mudou de ramo e o novo arrendatário fez alterações à decoração interior, o espaço deixou de ter a distinção Lojas com História, atribuída pela câmara de Lisboa em Julho de 2016. A Barreto & Gonçalves fazia parte do primeiro lote de espaços comerciais reconhecidos por aquele programa municipal, que actualmente tem cerca de 140 lojas distinguidas.

Apesar de a loja já vender souvenirs desde há vários meses, na semana passada ainda constava do site das Lojas com História. Contactada pelo PÚBLICO, a câmara acabou por retirar a Barreto & Gonçalves da lista uns dias depois. “De facto a loja já não é uma Loja com História, uma vez que houve prejuízo dos critérios de distinção, primeiro pela mudança de actividade e depois pelo desmantelamento da mesma”, esclareceu Sofia Pereira, coordenadora da iniciativa.

Segundo a responsável, “as alterações interiores são da responsabilidade dos proprietários do estabelecimento” e apenas “as alterações que carecem de autorização são as efectuadas no exterior”. Recentemente, a actual gerência mandou pintar o exterior de modo a retirar as palavras “Ouro”, “Prata” e “Jóias” que subsistiam na fachada.

Dessa primeira lista de 63 lojas distinguidas em 2016 já desapareceram alguns nomes. A Casa Frazão, que vendia tecidos na Rua Augusta, foi um dos casos mais recentes de encerramento, mas a este se podem juntar os da Camisaria Pitta, na mesma Rua Augusta, ou da Aníbal Gravador, na Rua Nova do Almada. A Tabacaria Martins, que também constava desse primeiro lote de reconhecimentos, esteve à beira de fechar em 2017, mas a intervenção da autarquia acabou por dar um final feliz à história.

Desde há dois anos que está em vigor um Regime de Reconhecimento e Protecção de Estabelecimentos e Entidades de Interesse Histórico, que garante às lojas classificadas o prolongamento automático dos contratos de arrendamento durante cinco ou dez anos.

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