Morreu Rip Torn, o actor que atacou Norman Mailer com um martelo

O actor norte-americano, veterano dos palcos, do cinema e da televisão, tinha 88 anos. As causas da morte não foram divulgadas.

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Rip Torn morreu esta terça-feira. Tinha 88 anos ERIC THAYER/REUTERS

Ao longo de mais de seis décadas, Rip Torn foi uma presença assídua nos palcos e nos ecrãs, tanto da televisão como do cinema norte-americanos. Nascido Elmore Rual Torn Jr. em Temple, Texas, a 6 de Fevereiro de 1931, o actor morreu esta terça-feira, aos 88 anos. A notícia, diz o New York Times, foi anunciada à imprensa pelos representantes do actor. As causas da morte não foram divulgadas.

Formado pelo Actors Studio, Rip Torn foi dirigido, no cinema e nos palcos, por Elia Kazan, responsável pela primeira encenação de Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams, na Broadway em 1959, um papel que valeu a Torn a sua única nomeação para um Tony. O primeiro papel, ainda que não-creditado, de Torn no cinema tinha sido em A Voz do Desejo, de 1956, realizado por Kazan e escrito por Williams. 

Em termos de prémios, o actor viria também a ser nomeado para um Óscar de Melhor Actor Secundário em 1983, pelo papel em Encontro com a Verdade, de Martin Ritt. Foi na televisão, meio em que se estreou nos anos 1950 com papéis em episódios de Alfred Hitchcock Apresenta, que teve mais sucesso nesse departamento. Um dos seus papéis mais icónicos valeu-lhe seis nomeações consecutivas para Melhor Actor Secundário numa Comédia: o de Artie, o produtor, em The Larry Sanders Show, a altamente influente série cómica dos anos 1990. Ganhou esse prémio em 1996. A série clássica da HBO, criada por Garry Shandling, durou entre 1992 e 1998 e foi pouco vista em Portugal. É uma das maiores e mais inexplicáveis lacunas do catálogo da HBO Portugal. Fez um papel parecido na série cómica 30 Rock.

Teve também participações em filmes que vão de O Aventureiro de Cincinatti, de Norman Jewison, em 1966, aos dois primeiros capítulos da saga Homens de Negro, de Barry Sonnenfeld, em que foi Zed, o líder da organização que dá nome aos filmes e um dos seus papéis mais reconhecíveis. Ainda na ficção científica, apareceu em O Homem Que Veio do Espaço, de Nicolas Roeg, em 1976, e, em 1991, fez de um advogado da vida após a morte na comédia de Albert Brooks, Em Defesa da Vida, uma prestação que levou Garry Shandling a contratá-lo para The Larry Sanders Show. Foi também Judas Iscariotes em O Rei dos Reis, de 1961, um épico de Nicholas Ray sobre a vida de Jesus, e, em 1973, teve um raro papel de protagonista em Dia de Pagamento, de Daryl Duke. Já não aparecia em filmes desde 2012, tendo emprestado a voz à série animada TripTank em 2016, o seu último crédito.

Além da carreira no mundo do entretenimento, o seu nome apareceu nas notícias pelo temperamento volátil. Ainda em 2010, com mais de 50 de carreira e notabilidade, foi preso após ter sido encontrado a dormir, ainda sob o efeito de álcool, dentro de um banco no Connecticut que teria confundido com a sua própria residência. Tinha com ele uma pistola carregada. Quando a polícia o encontrou, perguntou-lhes o que é que estavam a fazer em casa dele.

Não era a primeira vez que algo do género acontecia. Terry Southern, o escritor e argumentista que assinou, entre outros, filmes como O Aventureiro de Cincinatti, criou a personagem George Hanson, o advogado sulista de Easy Rider, a pensar no amigo Torn – décadas depois, Southern co-escreveu a comédia de 1988 The Telephone, o único crédito do actor na realização. Só que, quando o actor se encontrou com Dennis Hopper, o realizador, os dois tiveram uma discussão acesa e o papel acabou por ir para Jack Nicholson, que se tornou uma estrela muito por causa disso. Nos anos 1990, no Tonight Show de Jay Leno, Hopper disse que Torn lhe tinha apontado uma faca durante esse episódio. Torn processou-o por difamação, alegando que tinha sido Hopper a puxar da faca. Ganhou.

No final da década de 1960, Torn teve uma infame participação em Maidstone, um filme improvisado realizado e protagonizado pelo escritor Norman Mailer que só viria a sair em 1970. No filme, Mailer fazia de Norman T. Kingsley, um realizador famoso que se candidatava à presidência dos Estados Unidos e que muitas pessoas queriam assassinar. Segundo o actor, que fazia de meio-irmão do protagonista, o realizador pediu a várias pessoas que falseassem tentativas de assassinato, mas só Torn é que aceitou realmente. Sem o avisar, pegou num martelo e os dois começaram a lutar. “Norman T. Kingsley, tem de morrer. Não o Mailer, não quero matar o Mailer, mas devo matar o Kingsley neste filme”, dizia ele. Durante a luta, Mailer mordeu-lhe a orelha.

A carreira do actor também foi marcada pelo activismo. No início dessa mesma década, Torn teve uma reunião com o então procurador-geral americano, Robert F. Kennedy, para tentar começar um teatro nacional integrado, com actores negros e brancos, algo que o pôs na mira do FBI e terá afectado a carreira no cinema. Também protestou contra a Guerra do Vietname, o que terá feito com que disparassem contra a sua casa em Manhattan.

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