Casa Triangular: quando um lote se torna o “espelho de uma década”

Daniel Malhão
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Esta casa, construída a partir da projecção do arquitecto Luís Pedro Pinto, podia bem ser o espelho do período de profunda crise económica que Portugal — e o resto da Europa — atravessou a partir de 2008. Mas também um dos antídotos para a tentar vencer. Actualmente, nela habitam Luís e Tânia Campos, bem como as duas filhas do casal. O processo começou algures em 2010, quando o casal, residente nos Olivais, decidiu que estava na hora de se mudar, para dar resposta ao crescimento da família. Na altura, Tânia estava desempregada e a conjuntura económica levava a que qualquer tentativa de compra de casa no centro de Lisboa por uma família da classe média fosse encarada como uma “aventura”. Luís e Tânia decidiram, mesmo assim, arriscar: o dia em que a compra foi consumada coincidiu com a oficialização do pedido de ajuda financeira à Grécia.

O terreno escolhido foi mantido quase em “regime de pousio” até que o momento para iniciar a intervenção fosse mais favorável, algo que acabou por acontecer quase dez anos depois. Daí Luís chamar à construção “um projecto de vida longo”. De facto, a descrição parece mesmo aplicar-se, já que foi com o propósito de esta ser “uma casa para a vida” que o arquitecto a desenhou: “Queria algo que conseguisse responder ao presente e ao futuro”.

No centro destes pressupostos iniciais, os 42 metros quadrados que compõem a Casa Triangular foram talvez a principal dificuldade para Luís; mesmo assim, nada que o limitasse. “O espaço interior era reduzido, mas isso era também um dado adquirido, quase que um ponto de partida”, esclarece Luís Pinto ao P3, por telefone.

A solução encontrada para dar vida ao lote foi, precisamente, respeitar e potenciar as suas características (uma forma triangular), as mesmas que serviriam de justificação para o preço baixo quando comparado com outros terrenos. “Pareceu-nos dentro das nossas possibilidades. Na verdade, [o preço] revelava as limitações do terreno, já que as pessoas achavam impossível fazer lá o que quer que fosse.” Assim surgiu “a sucessão de espaços em altura” — em jeito de distribuição programática —, de modo a “levar ao limite as características da área útil disponível” e desprezando espaços “acessórios”.

A entrada faz-se pelo piso zero, onde se situa o estúdio de Luís e por onde é feita a entrada na casa. A defini-la está um portão metálico que “encerra o espaço privado, configura a intimidade do piso em questão e assegura a iluminação”. No piso imediatamente acima, o destaque é dado às zonas de estar e de refeições, cuja distinção é feita através da mudança de pavimento.

Este mesmo piso está organizado segundo uma lógica de open space que se dispõe por todo o tamanho do lote. O betão é um material que assume especial importância ao longo de todos os pisos, construindo “planos horizontais funcionais”. No piso dois, o espaço é destinado aos quartos, enquanto que o terceiro constitui o terraço, “uma verdadeira sala exterior verde”, que dá “continuidade espacial da edificação”.

Para os que ficaram curiosos e desejam conhecer melhor o espaço, a edição deste ano do Open House Lisboa (que se realiza a 21 e 22 de Setembro), no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa, pode ser uma oportunidade, já que este é um dos espaços contemplados no programa. 

Daniel Malhão
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