Sánchez oficializa proposta para governar sozinho

Documento estratégico do PSOE para o debate de investidura, daqui a duas semanas, rejeita coligação com o Podemos. Terça-feira há reunião entre Sánchez e Iglesias.

Foto
Cristina Narbona, presidente do PSOE, e Pedro Sánchez, presidente do Governo de Espanha EPA/Luca Piergiovanni

A cúpula do Partido Socialista espanhol (PSOE) aprovou esta segunda-feira, por unanimidade, a proposta que Pedro Sánchez vai apresentar a Pablo Iglesias, na terça-feira, e segundo a qual o líder socialista assume, sem rodeios, que quer governar sozinho. Cristina Narbona, presidente do partido, assegurou que o Unidas Podemos continua a ser o parceiro preferencial do PSOE, mas assumiu que essa colaboração só pode ter um desfecho: um “governo de cooperação, não de coligação”.

Em conferência de imprensa, que serviu para a apresentação de um documento intitulado “Proposta aberta de cooperação para um governo social, feminista, ecologista, europeísta e progressista”, Narbona confirmou o apoio total da direcção do partido aos planos de Sánchez de “formar um governo unicolor”.

Tal intenção, referiu a dirigente socialista, não impede a incorporação de “pessoas independentes de reconhecido prestígio, incluindo algumas propostas pelo Unidas Podemos”, nas “instâncias públicas da Administração”. “No Conselho de Ministros não”, esclareceu, confirmando a intenção do PSOE de não satisfazer as exigências de Iglesias, neste ponto concreto.

O documento, de 38 páginas, contém o grosso do manifesto eleitoral do PSOE para as legislativas do passado mês de Abril e servirá de base para o discurso de Sánchez no debate de investidura, agendado para o próximo dia 22, no Congresso dos Deputados. Segundo o mesmo, a cooperação proposta pelos socialistas tem três vertentes – parlamentar, institucional e programática – e pressupõe a criação de uma comissão responsável pelo acompanhamento e apoio na implementação dessa mesma cooperação.

O líder do Podemos já reagiu às declarações de Narbona e à proposta do PSOE, mostrando-se crítico com a postura dos socialistas.

“Negociar um governo é uma coisa séria. Não é sério que o PSOE tome uma decisão e que a filtre aos media, um dia antes da nossa reunião”, disse Iglesias, antes de criticar directamente Sánchez, pelo diálogo com a direita: “É estranho que o presidente esteja a negociar connosco e com a direita, à vez, como se o mais importante fosse ganhar a investidura, independentemente do programa que se quer aplicar”.

Longe da maioria absoluta no Parlamento espanhol, Sánchez ainda não tem os apoios necessários para poder ser investido – tem 123 deputados e a maioria na câmara baixa das Cortes é de 176. Uma aliança com o Cidadãos dar-lhe-ia os apoios necessários para ser investido, mas Albert Rivera rejeita abrir mão do “cordão sanitário” que impôs aos socialistas antes das eleições.

Os contactos entre o ainda presidente do Governo de Espanha e os vários partidos do espectro ideológico espanhol continuam e é nesse âmbito que surge, na terça-feira, a quarta reunião com Iglesias desde as eleições.

O líder do Podemos continua indisponível para aderir ao “governo de cooperação” de Sánchez e já assegurou, mais do que uma vez, que a plataforma de esquerda não vai votar favoravelmente na investidura de um governo socialista. Iglesias e companhia olham, por isso, para o mês de Setembro, para encontrar um compromisso com o PSOE.

Se Sánchez não conseguir ser investido no dia 22, a legislação espanhola estabelece que o líder do partido mais votado tem dois meses – até Setembro – para voltar a tentá-lo. Caso contrário, haverá novas eleições em Espanha.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários