Enjoos da TAP: “dezenas de casos” levam tripulantes a ameaçar fazer greve

Medidas tomadas pela companhia aérea são insuficientes, diz sindicato. Há casos de “confusão mental” e “ardor nos olhos”. Pilotos optam pelo silêncio.

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Os problemas remontam a Fevereiro deste ano Nelson Garrido

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) pondera avançar para a greve se os novos aviões Airbus A330neo continuarem a provocar enjoos, tonturas, ardor nos olhos e situações de “confusão mental” em tripulantes e passageiros.

“Caso a TAP não mostre garantias de que o problema pode ser resolvido em pouco tempo, seremos obrigados a ponderar a convocação de uma greve”, diz um comunicado enviado aos associados do SNPVAC, noticiado no sábado pelo Dinheiro Vivo.

Ao PÚBLICO, a presidente do sindicato, Luciana Passo, fala num “incómodo enorme” e diz que faltam medidas que resolvam ou atenuem o problema, que já afectou “umas dezenas” de pessoas, entre tripulantes e passageiros. A sindicalista não quis comentar se houve pilotos afectados, mas, num episódio relatado pela TSF, pilotos terão sido vistos a usar uma máscara num voo entre Portugal e o Brasil.

Os pilotos da companhia aérea não têm comentado os episódios registados na nova frota. Contactado de novo pelo PÚBLICO nesta segunda-feira, o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil disse não fazer comentários sobre o tema.

“É uma questão a ponderar a seu tempo. [Uma greve] não é com certeza a primeira das medidas a tomar”, mas é uma hipótese, conta ao PÚBLICO Luciana Passo. “As medidas estão a ser tomadas, mas as ocorrências têm-se mantido.”

A presidente do SNPVAC conta que na última semana houve uma reunião com o Ministério das Infra-Estruturas. Na agenda estão ainda previstas mais reuniões com a TAP para esta segunda e terça-feira.

A sindicalista conta que já foram tomadas algumas medidas, nomeadamente a introdução de “um dispositivo que mede a qualidade” do ar, e que os últimos voos seguiram a recomendação da Airbus de aumentar ao máximo a “reciclagem do ar”. Mas as medidas são insuficientes, argumenta Luciana Passo. “Tem de haver uma acção, medidas mitigadoras, mais qualquer coisa”, pede a representante. “E queremos acompanhar essas acções.”

"Confusão mental” e “cansaço extremo"

A situação tem sido registada desde Fevereiro, afirma Luciana Passo. Com “alguma frequência”, membros da tripulação e alguns passageiros da TAP apresentaram queixas de enjoos, tonturas e vómitos em ligações de longo curso com os novos aviões A330neo. Há ainda casos de “confusão mental, cansaço extremo e ardor nos olhos”.

O caso está a ser acompanha pela TAP, Airbus e Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC). No último mês, a TAP confirmou a existência de “casos pontuais de tripulantes com ligeiras indisposições” em alguns voos dos seus A330neo, e admitiu que possam estar associados a “alguns odores do equipamento de ar condicionado”. A companhia aérea garantiu ser uma situação “normal em aeronaves novas”, mas Luciana Passo diz ao PÚBLICO que a situação nada tem de vulgar. Já a Airbus, em declarações ao PÚBLICO, rejeitou responsabilidades.

O problema é frequente, mas “não acontece em todos os voos”, ​o que dificulta a investigação às suas causas. “Porque é que acontece nuns e não noutros?”, questiona a presidente do SNPVAC.

Dez aviões na TAP

Em Novembro de 2018, a TAP tornou-se a primeira operadora comercial do mundo a voar com o novo A330neo, que, segundo a empresa, é “consideravelmente mais eficiente e consome em média menos 17% de combustível por cadeira do que a geração anterior de aeronaves, resultando ainda numa redução muito significativa das emissões de CO2 e ruído”.

Segundo dados disponibilizados pela Airbus disponíveis até ao final de Maio, foram recebidas encomendas de 240 aviões A330neo da parte de 16 companhias aéreas — incluindo da TAP, que já recebeu dez aeronaves deste modelo. Este modelo de avião tem um comprimento de 63 metros e uma autonomia para 13.400 quilómetros, podendo ter entre 260 e 300 lugares sentados.

A entrega destas aeronaves à TAP foi adiada duas vezes. O anterior presidente executivo da TAP Portugal, Fernando Pinto, justificava em 2016 o adiamento com “uma revisão, por parte do fabricante francês, do calendário de entrega dos novos aviões de longo curso”.

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