Manifesto X: Independentes e interdependentes

Portugal precisa de uma sociedade civil que seja ferozmente independente a organizar-se e, ao mesmo tempo, verdadeiramente interdependente com todos os que queiram construir um futuro melhor, sem excepções.

Há uns meses, o Pedro Duarte enviou-me uma mensagem para marcar uma conversa. Tinha-o visto três vezes na vida. Já tinha saído a notícia de que ele ia lançar o Manifesto X com ideias para Portugal e tive uma ligeira intuição de que quisesse convidar-me a colaborar. Preparei por isso uma folha, que levei no bolso, com as palavras exactas para sair daquela situação com simpatia: que era independente e não me queria aproximar muito de partidos políticos; que era mais à esquerda do que ele provavelmente pensaria e, finalmente, que estava com muito trabalho.

Durante a conversa falámos sobre temas como a felicidade das pessoas, as touradas, a crise climática e também sobre corrupção e como apertar o cerco aos corruptos. A verdade é que do ‘não’ programado, pedi um dia para pensar. Cheguei a casa e fui ler sobre social-democracia e Sá Carneiro. No dia seguinte, o que era um ’não’ passou a ser um sim.

Desde então, desafiámos 25 outras pessoas a contribuir para esta discussão. A ninguém pedimos credenciais ideológicas ou compromissos políticos. Reunimos independentes que pensam de forma independente, baseados na sua experiência e trabalho sólido sobre os temas que dominam, reconhecendo que nos partidos há boas ideias e más ideias, mas raramente há novas ideias. O compromisso das pessoas que se reuniram no Manifesto X é com a liberdade, de pensar, de discutir, de esboçar propostas que ultrapassem os ciclos políticos e as lógicas eleitorais e estabeleçam uma verdadeira visão de futuro para o país.

O Manifesto X foi agora lançado com as suas 10 metas e 100 primeiras medidas, que podem ser lidas, avaliadas, discutidas e criticadas. É esse precisamente o propósito. Entretanto, as pessoas que contribuem para este Manifesto são elas próprias uma mensagem. E esta mensagem é um repto tanto para os partidos como para a sociedade civil. Por um lado, os partidos precisam de mais abertura para ouvir as ideias da sociedade civil; por outro, a própria sociedade civil precisa de se organizar e aceitar a responsabilidade de dar contributos para os partidos. Precisa de partilhar com eles a liderança do debate. Pedidos de abertura farão sentido, mas serão mais pragmáticos quando acoplados com um trabalho sério de reflexão.

Portugal precisa de uma sociedade civil que seja ferozmente independente a organizar-se e, ao mesmo tempo, verdadeiramente interdependente com todos os que queiram construir um futuro melhor, sem excepções. A independência é um passo, não é o destino. Tal como o ser humano precisa de um self independente e interdependente, também os movimentos cívicos precisam dessa combinação para se fazerem ouvir e conseguirem influenciar políticas públicas.

O processo de influência terá, naturalmente, de ser suportado por um processo de empatia. Será um processo dinâmico, com necessidade de diálogo, questionamento e colaboração. A magia deste diálogo acontecerá quando novos territórios forem explorados e novos significados forem emanados desta interacção.

O Manifesto X até pode servir, um dia, de rampa de lançamento do Pedro Duarte para a liderança do PSD. É um facto, não há como negar. Mas se mais gente dos partidos construir rampas destas, com gente de fora da política (até fugida dela), ganharão os partidos e ganhará o País. É bem desejável que assim seja - o futuro dos partidos e da qualidade da democracia também vai passar pela capacidade de se encontrarem modelos híbridos de interacção entre movimentos partidários e movimentos da sociedade civil.

Os que fogem da política estão também a fugir do eixo de gravidade onde os grandes problemas do mundo se resolvem. Toda a gente critica, mas é na mesa do café que toda a acção fica. O X do Manifesto decompõe-se numa seta que vem da esquerda para a direita ‘>’ e uma seta que vem da direita para a esquerda ‘<’. Estas setas unem-se e tocam-se, pela primeira vez, no centro. E isto é uma metáfora poderosa. No centro está cada um de nós. O centro das ideias para o país tem de ser o bem-estar das pessoas. A política não pode ser uma guerra entre esquerda e direita, nem o parlamento o campo de batalha – ou de mero teatro político, cada vez menos motivador ou mobilizador. As pessoas querem ver discussão de ideias com elevação e honestidade intelectual. É por isso que quem for ao website do Manifesto X poderá deixar as suas ideias para o País, vindo da direita ou da esquerda.
Escrevo este texto consciente que a minha história é parte de uma história mais abrangente e que envolve todos os portugueses. A minha história é a sua também. O tempo está a esgotar-se. Se não for agora, quando será? Se não for o caro leitor a envolver-se, quem será?

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