CDS-PP com estratégia menos reactiva e mais virada para propostas

Assunção Cristas tem aparecido no espaço mediático muito menos vezes desde a derrota das europeias.

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Assunção Cristas LUSA/MIGUEL A. LOPES

Depois do balde de água fria dos resultados das europeias, o CDS-PP aposta num tom mais suave e menos reactivo, virado para a apresentação das propostas para as legislativas. Assunção Cristas regressa, assim, à estratégia que definiu em 2016 quando foi eleita líder do partido.

Nessa altura, Assunção Cristas empenhava-se em fazer pontes com o PS para tentar ver aprovados os seus pacotes de propostas. À medida que a legislatura foi decorrendo, o tom da líder foi endurecendo, dentro e fora do Parlamento, contra o Governo e o primeiro-ministro em particular. Os inesperados bons resultados nas autárquicas de Lisboa deram o impulso para que, poucos meses depois, Assunção Cristas se apresentasse como candidata a primeira-ministra. A líder do CDS-PP desdobrou-se em iniciativas – nos transportes, na saúde – para tentar fazer uma oposição forte ao Governo. Uma estratégia que chegou a contrastar com o low profile adoptado por Rui Rio, assim que chegou à liderança do PSD, em Fevereiro de 2018.

Mais de um ano depois, o resultado das europeias deixou o CDS-PP em choque. Os 6,2% e a não eleição do segundo candidato, Pedro Mota Soares, levaram a uma reflexão interna, deixando transparecer alguma irritabilidade contra os discursos de campanha ideológicos e mais à direita de Nuno Melo. Foi também apontada a culpa à posição assumida pelo partido na questão dos professores, o que só esta semana a líder assumiu como um “erro” por falha de comunicação.

Assunção Cristas lançou entretanto um livro de cunho muito pessoal, deu duas entrevistas e apresentou medidas a inscrever no programa eleitoral do CDS. A estratégia mudou? “Não há uma mudança de estratégia, mas há um novo calendário. Quando encerrarem os trabalhos parlamentares mais relevantes, vão ser apresentadas mais propostas”, afirmou ao PÚBLICO Adolfo Mesquita Nunes, coordenador do programa do CDS. “Durante quatro anos fomos oposição e – by the way - a única às vezes. Ficámos com esse encargo”, disse.

Alterações na direcção de campanha

“Vamos avançar com um conjunto de ideias que passam pelas alterações climáticas, impostos e funcionamento dos serviços sociais”, assume Diogo Feio, coordenador do gabinete de estudos do CDS. O tom que a líder vai usar, segundo Diogo Feio, é o dos debates quinzenais: “Assunção Cristas lança as suas ideias, que são diferentes das do PS, e faz o debate”. As propostas, garante o dirigente, são “distintivas face às dos outros partidos”.

As europeias ditaram uma alteração funcional no CDS: a direcção de campanha das legislativas que tinha sido confiada a Ana Rita Bessa, do núcleo duro da direcção, passou a ser repartida com João Gonçalves Pereira, vereador em Lisboa. O responsável pela campanha das autárquicas na capital ficou com a parte mais operacional da campanha de Outubro e Ana Rita Bessa manteve a área da comunicação. Um sinal de que é preciso dar atenção às estruturas partidárias.

Foi também com vista à mobilização de militantes e dirigentes locais – depois de se ter ouvido queixas por causa das escolhas dos cabeças de lista para as legislativas - que Assunção Cristas iniciou uma ronda pelas distritais que decorrer ao longo deste mês.

Assustados com os resultados das europeias, os centristas esperam que todas estas afinações cheguem para melhorar os números do partido nas legislativas. E querem acreditar que o resultado será outro, apesar de já verem muito longe a fasquia dos dois dígitos que tinham projectado. 

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