Teatro Mariinsky, uma “catedral” de São Petersburgo

O leitor Mário Menezes partilha a sua experiência na cidade russa.

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Para qualificar São Petersburgo já se esgotaram os adjectivos. Certamente e justamente, de longe, a mais bela cidade da Europa. A Veneza do Báltico, erguida pelo czar Pedro O Grande, é um local imperdível e encantador. Dos canais do rio Neva, as ruas e avenidas como a Nevsky Prospekt, carregadas de monumentos, fortalezas como a de Pedro e Paulo, palácios como o Tsarco Celo, onde sobressai a sala dourada de âmbar, igrejas como a do Sangue derramado, museus como o Hermitage, que é o maior e mais completo do mundo e muitos edifícios históricos com extraordinária beleza. O metro que circula a mais de 100 metros de profundidade e com estações, acessíveis por escadas rolantes íngremes e longínquas, que são autênticos museus. Uma cidade onde à meia-noite, em Junho, ainda é dia e em Janeiro os canais congelam. Um destino obrigatório e que só se tem mantido no esquecimento dos ocidentais devido ao isolamento imposto pelo regime ditatorial da União Soviética! 

Umas férias na Rússia não são completas sem assistir ao vivo a uma sessão de ballet, mesmo que não sejamos apreciadores e conhecedores dessa arte, daquele que é o espectáculo mais importante por aqueles lados. 

Uma das “catedrais” deste espectáculo é o Teatro Mariinsky, ou Kirov, como era chamado no tempo em que a cidade se chamava Leninegrado. Com ingressos bem mais acessíveis que o seu congénere Moscovita Bolshoi, onde os preços dos bilhetes mais baratos no site oficial alcançavam dezenas de euros e só seria possível adquiri-los por preço relativamente razoável (50€) à porta na candonga dos agentes, ver um espectáculo de ballet no Teatro Mariinsky era possível por cerca de 25€, comprando com antecedência o ingresso na internet. Isto no tempo em que um euro valia quarenta rublos.

No Teatro Mariinsky estrearam-se grandes obras como O Quebra-Nozes, de Tchaikovsky, e brilharam grandes artistas como Mikhail Baryshnikov. 

A sétima arte “hollywoodesca” não esqueceu este grande nome, quando, no tempo da Guerra Fria, quatro anos antes da queda do Muro de Berlim, ali se passou a acção do filme White nights, cujas cenas no seu interior foram na realidade rodadas no nosso Teatro São Carlos. Imortalizado pela sua banda sonora, Say you, Say me , o filme retrata a história de um bailarino soviético exilado nos EUA que  tem um acidente de avião em plena Sibéria. Sobrevive e é aprisionado pelo KGB e obrigado a exercer a sua profissão na URSS. Acaba por conseguir fugir durante um espectáculo em pleno teatro Mariinsky. As cenas do filme passadas no exterior, com Leninegrado como pano de fundo, e que retratam este celebérrimo edifício, com destaque para a fuga final, foram na realidade filmadas fora da URSS e sobrepostas com as imagens recolhidas por uma equipa que andou por Leninegrado a filmar vários locais, incluindo o edifício do Teatro Mariinsky! Afinal o cinema, a sétima arte, é também uma arte da ilusão! 

Mikhail Baryshnikov, que afinal nasceu na Letónia, outrora território soviético e que pertence agora à União Europeia, é hoje um cidadão americano, São Petersburgo jamais se chamará Leninegrado, os russos hoje falam fluentemente inglês, é normal vermos turistas russos em todo o Mundo, e até muitos russos já nasceram em Portugal. Os tempos mudaram desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, mas a grandeza da cultura russa e a beleza do ballet russo nunca deixará de maravilhar os apreciadores, seja no seu próprio país ou nas digressões que as companhias fazem pelo mundo fora, pois os russos são considerados os melhores nesta arte.

Vá ao ballet russo do Mariinsky, mas primeiro delicie-se com a grandeza daquela sala de espectáculos carregada de história, das escadarias de acesso às galerias. No intervalo, vá a um dos requintados foyers brindar com um cálice de champanhe russo! 

Mário Menezes

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