O Anjo da Morte dos Slayer passou por Portugal pela última vez

Os norte-americanos, a fazerem a última digressão mundial, despediram-se dos fãs portugueses num Altice Arena com quase 20 mil pessoas.

Os Slayer despediram-se dos fãs portugueses com um dos maiores clássicos do thrash metal
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Os Slayer despediram-se dos fãs portugueses com um dos maiores clássicos do thrash metal
Gary Holt, guitarrista e compositor principal de outro nome maior do thrash, os Exodus, que rendeu Hanneman após a sua morte, em 2013
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Gary Holt, guitarrista e compositor principal de outro nome maior do thrash, os Exodus, que rendeu Hanneman após a sua morte, em 2013
Gary Holt
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Kerry King
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Kerry King

Foi com o olhar pesado de Tom Araya e de Kerry King, frente a uma ovação de aplausos de uma audiência de quase 20 mil pessoas, que os Slayer se despediram definitivamente dos palcos portugueses. Tinham acabado de tocar Angel of death, música com que fecharam o concerto no Altice Arena, nesta sexta-feira, no segundo e último dia do VOA - Heavy Rock Festival, onde também tocaram os norte-americanos Lamb of God, os franceses Gojira e os Moonspell, da casa.

Despediram-se dos fãs portugueses com um dos maiores clássicos do thrash metal — género que, ao lado de Anthrax, Metallica, Megadeth, Testament ou Overkill, ajudaram a criar há quase 40 anos. Na verdade, em conjunto com outros temas do alinhamento escolhido para a despedida, este é um dos mais icónicos dentro do espectro do heavy metal no geral.

Passaram quase quatro décadas desde que se formaram, em 1981. Desde que o guitarrista e compositor desta malha, Jeff Hanneman, morreu em 2013, dos membros que fundaram a banda sobram apenas Araya (voz e baixo) e King (guitarra). Nesta digressão de despedida contam com Paul Bostaph na bateria — desde 2013 de volta à banda, depois de Dave Lombardo, membro original, ter deixado mais uma vez o lugar à disposição —, e Gary Holt, guitarrista e compositor principal de outro nome maior do thrash, os Exodus, que rendeu Hanneman após a sua morte.

Para alguns dos fãs presentes no recinto, os últimos quarenta anos foram também passados a acompanhar o percurso do colectivo. Outros apanharam-nos a meio e outros tantos foram-nos descobrindo nos últimos tempos — o público do metal está mais velho, mas todos os dias há novos recrutas a juntarem-se à legião.

Há 40 anos a espalhar distorção pelo mundo

Os Slayer são uma banda consensual para os fãs deste género, que muitas vezes torcem o nariz aos grupos que passam para lá da linha onde começa o mainstream. São uma banda de entrada, mas também das que mais seguidores fiéis manteve ao longo dos anos. Será quase impossível existir um metaleiro devoto que não tenha na sua discografia (para os mais novos playlist) um álbum assinado pelos californianos.

Todos os membros já ultrapassaram os 50 anos de idade há algum tempo — Araya está perto de chegar aos 60 —, mas o que se viu neste concerto foi uma banda com a vitalidade das mais recentes que chegam agora ao género, com a experiência de quem já espalhou distorção pelo mundo inteiro.

Somam 12 álbuns desde que lançaram Show No Mercy, em 1983. O último que gravaram foi Repentless, em 2015. Havia quem conservasse a esperança que antes de deixarem os palcos lançassem mais um registo. Não o fizeram e agora já é tarde.

Com uma série de cruzes a inverterem-se à medida que entravam em palco, foi precisamente pelo último álbum que começaram, arrancando com o tema que lhe dá título, uma chapada thrash a remeter para os primeiros anos do grupo. Foi com fogo, suor e fúria que durante uma hora e meia, com um espectáculo visual agressivo, mas sóbrio, com chamas que ganhavam a forma, mais uma vez, de cruzes invertidas, passaram a pente fino a discografia.

“God hate us all”, ouviu-se no refrão de Disciple, de 2001, com letra típica de King, a espicaçar o poder da instituição Igreja, imagem de marca de uma banda que surgiu numa altura em que abordar estes temas era realmente problemático e passível de lhes valer algumas manifestações de crentes mais incomodados com os “perigos” do “som do Inferno”. Curiosamente, Araya, de origem chilena, que dá voz às letras, nunca escondeu ser católico praticante. Com o poder dos evangélicos a crescer nos Estados Unidos e no Brasil fica a ideia que a temática continua actual.

Foram por aí fora, sem travões, com Deus a odiá-los, mas com o público sempre do seu lado, com os riffs sólidos de King e de Holt a criarem uma muralha de aço para amparar o baixo marcado de Araya e a velocidade das baquetas de Bostaph, em temas todos eles hinos de um subgénero do rock a quem já se decretou várias vezes a morte, mas que desde que voltou ao underground, depois de uma fase mais popular entre 1980 e 1990, tornou-se mais forte, mais prolífero, e, longe das pressões editoriais, garantiu um lugar na eternidade.

E é na eternidade que vão ficar temas como War ensemble, Born of fire, Seasons in the abyss, Hell awaits, South of heaven, Raining blood, com uma entrada inconfundível, Black magic ou Dead skin mask, dos cinco álbuns que lançaram na década de 80, até chegarem a 1990, que guardaram para a recta final do concerto.

Terminaram com Angel of death, música de abertura de Reign in Blood (1986), deixando um sabor agridoce nos fãs que, se por um lado aguardavam ouvir este clássico, sabiam que aquele momento marcava a altura em que por uma última vez os Slayer pisavam um palco português. Sabendo disso, o grupo aproveitou todo o tempo que ainda podia ali estar para receber os aplausos que lhes foram endereçados por um público que os tratou bem. “Vamos sentir a vossa falta”, disse Araya.

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