Trump não se desviou do discurso de união, mas os tanques também falaram por ele

Parada militar que comemorou o Dia da Independência foi elogiada pelos apoiantes do Presidente norte-americano e criticada pelos seus opositores como uma deriva autoritária e despesista.

Donald Trump e Melania Trump assistem ao espectáculo
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Donald Trump e Melania Trump assistem ao espectáculo LUSA/AL DRAGO / POOL
Manifestação anti-Trump
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Manifestação anti-Trump LUSA/MOSTAFA BASSIM
Esquadrão da Marinha norte-americana
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Esquadrão da Marinha norte-americana LUSA/AL DRAGO / POOL
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O Presidente dos EUA, Donald Trump, prestou homenagem às forças armadas norte-americanas durante o espectáculo de pompa e patriotismo que marcou mais um Dia da Independência no país, em Washington, perante as críticas dos que o acusam de transformar o importante feriado num comício político.

Trump, que desejava organizar uma parada militar desde que assistiu às comemorações da tomada da Bastilha, em França, há dois anos, desvalorizou essas críticas e também a acusação de que o espectáculo foi um gasto desnecessário de dinheiros públicos.

“A nossa nação está mais forte do que nunca”, disse o Presidente norte-americano num discurso proferido a partir do monumento dedicado ao Presidente Lincoln, um símbolo de união nos EUA.

Ladeado por carros de combate Bradley, Trump manteve-se distante da sua habitual retórica partidária. Numa coreografia bem planeada, o Presidente norte-americano falou sobre cada um dos ramos das forças armadas, antes de os aviões de cada ramo passarem por cima da multidão.

“Celebramos a nossa história, o nosso povo, e os heróis que defenderam a nossa bandeira com orgulho. Os corajosos homens e mulheres das forças armadas dos Estados Unidos”, disse o Presidente norte-americano. “Durante 65 anos, nenhuma força aérea inimiga conseguiu matar um único soldado americano, porque os céus pertencem aos Estados Unidos da América.”

Trump elogiou também as agências de protecção das fronteiras e de fiscalização da imigração ilegal no interior do país, duas agências que têm sido fundamentais para a sua política de “tolerância zero” na fronteira com o México.

E também fez referências a Harriet Tubman e Frederick Douglass, dois afro-americanos que lutaram pela abolição da escravatura há mais de um século. Uma referência que pode motivar acusações por parte dos grupos de defesa dos direitos civis, já que a Administração Trump decidiu, em Maio, não incluir a imagem de Tubman nas notas de 20 dólares. E, em 2017, durante uma reunião na Casa Branca, o Presidente norte-americano deu a entender que Douglass ainda estava vivo, falando das suas acções no presente.

Milhões de dólares

Milhares de apoiantes de Trump, muitos com chapéus com a frase “Make America Great Again”, e também opositores do Presidente norte-americano, começaram a chegar a Washington na manhã de quarta-feira, debaixo de altas temperaturas e chuva intermitente. Ao lado de um cartaz a chamar “traidor” a Trump, os seus opositores encheram um balão com a imagem de um “Trump bebé”.

Num dos momentos mais tensos, um grupo de opositores do Presidente Trump queimou uma bandeira dos EUA em frente à Casa Branca.

Antes do discurso do Presidente norte-americano, os congressistas do Partido Democrata acusaram-no de organizar um espectáculo que não condiz com as comemorações tradicionais do Dia da Independência.

Mas os seus apoiantes tinham uma opinião diferente. “O que Trump está a fazer com os tanques e os aviões é fantástico”, disse Brandon Lawrence, que tinha a cara pintada com as cores da bandeira dos EUA.

Para além dos custos financeiros, alguns responsáveis da Casa Branca temiam que se repetissem as imagens da tomada de posse do Presidente Trump, com clareiras entre a assistência.

No final, não foi isso que aconteceu, mas os seus opositores não ficaram impressionados. “Isto custa milhões e milhões de dólares. E somos nós que estamos a pagar para que o Donald Trump use as nossas forças armadas como se fossem um adereço”, acusou Medea Benjamin, co-fundadora do grupo Code Pink.

Segundo o jornal Washington Post, o Serviço Nacional de Parques, que cuida dos parques públicos em todo o país, tirou 2,5 milhões de dólares do seu orçamento para ajudar a pagar o espectáculo. E vários grupos de apoiantes do Partido Republicano receberam convites para estarem presentes.

Bernie Sanders, um dos candidatos às eleições primárias no Partido Democrata, acusou Trump de desbaratar dinheiros públicos: “É isto que os autoritários fazem. Donald Trump tirou 2,5 milhões de dólares do Serviço Nacional de Parques para se glorificar a ele próprio com um espectáculo com tanques a rolar em Washington.”

“Donald Trump é incapaz de comemorar o que faz da América um grande país, porque ele não sabe o que isso é”, disse outro candidato, o antigo vice-presidente dos EUA Joe Biden.

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