Clipper Round: Quem quer dar a volta ao mundo à vela?

Serão 11 meses e 11 veleiros de 70 pés a dar a volta ao mundo em competição. Na regata, que passará por Portimão no início de Setembro, pode participar qualquer apaixonado por vela, tenha muita ou mesmo nenhuma experiência de mar. Só é preciso tempo e dinheiro.

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Brooke Miles Photography

A primeira etapa sairá a 1 de Setembro das docas de St. Katharine, a uma dezena de metros da emblemática Ponte de Londres, e terá como primeira escala técnica a marina de Portimão, a cerca de 1200 milhas náuticas. Porém, a ligação entre o Reino Unido e Portugal será apenas o início da Clipper Round the World Yacht Race 2019-20, prova que durante praticamente um ano vai dar a volta ao mundo em barcos à vela, percorrendo 40 mil milhas náuticas, divididas por seis etapas oceânicas. Mas o que tem esta regata de especial? É a única que permite um desafio desta dimensão a qualquer apaixonado por vela, tenha muita ou mesmo nenhuma experiência de mar.

A bordo dos 11 Clipper 70, barco de 70 pés (21 metros), estarão um skipper e um co-skipper, ambos profissionais. A restante tripulação, até um máximo de 21 pessoas, será formada por quem tiver dinheiro, tempo e, acima de tudo, espírito aventureiro. As candidaturas a um lugar num dos Clipper 70 ainda estão abertas.

A regata foi pensada e idealizada por Robin Knox-Johnston, navegador inglês que fez história em 1969 ao tornar-se no primeiro homem a completar uma volta ao mundo a solo sem escalas e assistência, e, desde 2013, é disputada a bordo de um Clipper 70, um barco menos radical e bem mais acessível a principiantes do que outros, como os VO65 ou os IMOCA 60 que serão utilizados na próxima The Ocean Race, a antiga Volvo Ocean Race.

E é a possibilidade de transformar qualquer homem ou mulher, com muita ou nenhuma experiência de mar, num competidor de alto nível de regatas transoceânicas que torna a Clipper Round the World Yacht Race uma prova única.

Marina Correia, directora-geral da Marina de Portimão e uma das responsáveis por colocar Portugal no mapa da competição, explica à FUGAS que “qualquer pessoa pode inscrever-se” para fazer parte de uma das tripulações, tendo, porém, de fazer obrigatoriamente “um curso de quatro semanas de preparação em Inglaterra”. Concluído o curso, que terá lugar em Gosport, cidade costeira a poucos quilómetros de Southampton no sul do Reino Unido, o aspirante a competidor na Clipper Round the World Yacht Race estará “habilitado a entrar no número de regatas que pretender”.

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“Em vez de haver tripulações 100% profissionais, como acontece numa Volvo Ocean Race, cada barco leva dois skippers com experiência e todos os outros, até um máximo de 21 tripulantes, serão pessoas normais. Sejam médicos, engenheiros, donas de casa, CEO de empresas, instrutores de surf ou apenas aventureiros que queiram participar nesta aventura. O objectivo é permitir que qualquer apaixonado por vela e pelo mar possa participar numa prova desta dimensão”, explica a administradora da Marina de Portimão.

Embora este seja um desafio que exige tempo (quatro semanas para a formação e, no mínimo, igual período para completar uma regata) e dinheiro (pelo menos dez mil euros para os treinos e uma etapa), Marina Correia garante que não faltam candidatos para partir à aventura no mar, mas “ainda há alguns lugares disponíveis em várias regatas”.

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Clipper 70

A singularidade do modelo pensado por Robin Knox-Johnston torna a Clipper Round the World Race, segundo Marina Correia, a competição certa para fazer regressar a Portimão uma grande prova internacional de vela oceânica. “Depois de receber alguns dos circuitos náuticos mais importantes do mundo, como os TP52 ou os WMRT, é altura de Portimão voltar a olhar para a vela oceânica. A Clipper Round the World Race tem uma dimensão global, mas também recorda as viagens épicas dos navegadores portugueses. A maioria deles também eram pessoas comuns lideradas por velejadores profissionais.”

A entrada de Portimão no roteiro da Clipper Round the World Race 2019-20 é, segundo Robin Knox-Johnston, “a melhor forma de começar a uma regata que parte de Inglaterra e dá a volta ao mundo”. O inglês, que em 2014, com 75 anos, participou na mítica regata Route du Rhum, considera ainda que a cidade algarvia ajudará a “definir o tom e o padrão para as paragens seguintes” e “ficará na memória” dos cerca de 700 tripulantes.

Com chegada prevista a Portimão entre 8 e 10 de Setembro, os 11 Clipper 70 vão zarpar para a cidade uruguaia de Punta del Este a 15 de Setembro. Do Uruguai, a frota segue pelo Atlântico Sul até a Cidade do Cabo, na África do Sul; depois cruzam os mares do Sul até Fremantle, na Austrália Ocidental; passam em seguida pelas Whitsundays na costa oriental australiana, rumando à China.

A rota seguinte percorrerá o Pacífico até à costa Oeste dos Estados Unidos, seguindo-se a travessia do mítico Canal do Panamá. A terminar, haverá uma travessia do Atlântico antes do regresso a Inglaterra, no verão de 2020, onde os tripulantes vão desembarcar já como veladores oceânicos comprovados.

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