Surpresa na Baviera: Krüger deixa liderança da BMW

Gestor alemão abdica de segundo mandato e obriga construtor de Munique a procurar sucessor que contrarie quebra nos lucros.

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Harald Krüger, de 53 anos, estava na BMW desde 1992 e era CEO desde 2015 LUSA/PHILIPP GUELLAND

Aqui vai uma pergunta para queijinho: qual é o sítio de maior procura turística em Munique? Esqueça castelos, monumentos ou jardins bávaros porque a resposta certa é a BMW Welt (Mundo BMW, traduzido do alemão), que recebe três milhões de turistas todos os anos. Há dez dias, o chefe do fabricante alemão da Baviera, Harald Krüger, elogiava este número perante centenas de jornalistas de todo o mundo, antes de apresentar uma estratégia para acelerar a electrificação dos carros feitos pelo emblema de Munique. E dizia que era missão dele e de toda a empresa defender essa enorme procura turística pelas instalações que incluem um museu da marca. O que ele não revelou, apesar de já estar na cabeça dele, é que a BMW não iria continuar a contar mais com ele. Essa novidade foi guardada para esta sexta-feira: Harald Krüger decidiu que não pretende exercer um segundo mandato na liderança da BMW. 

“Gostaria de prosseguir novos desafios profissionais”, diz Krüger, numa mensagem divulgada nesta sexta-feira pela BMW. A decisão força a marca a procurar um sucessor que consiga pôr a estratégia em prática e contrariar a quebra nos lucros. “O grupo BMW foi a minha casa profissional durante mais de 27 anos. Após dez anos no conselho de administração e mais de quatro anos como presidente executivo [CEO], quero aproveitar a minha experiência internacional para novos projectos”, diz Krüger, que na semana anterior tinha dado voz e cara à comunicação de que a BMW iria acelerar a transição para um portefólio de carros híbridos ou puramente eléctricos.

Krüger ascendeu à posição de CEO em 2015. Era acusado de ter atrasado a marca na corrida aos carros eléctricos. No fim de Junho, apresentou a estratégia #NextGen, assente no lançamento de 25 modelos electrificados até 2023, dois anos antes da meta inicial de 2025. Krüger já aludia então à “grande transformação” do sector automóvel e volta a fazê-lo na mensagem de despedida, argumentando que as mudanças que afectam a indústria nos últimos anos ultrapassam a transformação das três décadas anteriores.

A vontade de Krüger, de 53 anos, de deixar a liderança de um dos três grandes construtores alemães, a par da Volkswagen e da Daimler (que também mudou de líder recentemente), será respeitada. O conselho de administração, liderado pelo ex-CEO Norbert Reithofer, vai reunir-se a 18 de Julho, para analisar a sucessão do homem que estava na BMW desde 1992 e deixará o cargo de topo em 2020. A imprensa alemã aponta dois possíveis substitutos: Klaus Frölich, responsável de desenvolvimento na marca bávara, e Oliver Zipse, que supervisiona a produção.

A BMW, que gere também a Mini e a Rolls Royce,  teve um resultado líquido de 7000 milhões de euros em 2018. Sob o comando de Krüger, perdeu contudo para a Mercedes a posição de maior vendedor no segmento premium, em 2016. A Mercedes tem, desde final de Maio, um novo comandante, com Ola Källenius a substituir Dieter Zetsche. Källenius é sueco e o primeiro não alemão a liderar o fabricante de Estugarda.

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Oliver Zipse, responsável da produção, é um dos possíveis sucessores, diz a imprensa alemã Reuters/Michael DAlder

A BMW e a Daimler firmaram uma parceria estratégica focada nos carros autónomos, na qual investiriam mil milhões de euros. As duas marcas mostraram pouco interesse na proposta do Governo de Angela Merkel para participarem na formação de um consórcio europeu de fabricação de baterias, de modo a não dependerem do fornecimento asiático.

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