Ministro da Agricultura: “Um Governo que tem uma maioria absoluta é menos constrangedor”

Capoulas Santos diz que a mágoa que leva deste mandato é não ter conseguido aprovar o banco de terras, chumbado pela esquerda e PSD.

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RUI GAUDÊCIO

Capoulas Santos é o primeiro ministro de António Costa a assumir sem rodeios que quer a maioria absoluta nas próximas eleições. Desse modo, o PS não precisaria de “contornar ou torcer” as suas ideias.

Já foi ministro, secretário de Estado e eurodeputado. O que pretende fazer a seguir? 
Enquanto cidadão, pretendo continuar a ser um cidadão tão bem comportado quanto possível. Como político, sigo um princípio que aprendi quando tive uma má experiência na política. Na política, o horizonte é o dia seguinte. Nenhum político deve fazer planos a mais de 24h, porque tudo pode sair furado. Há muitos anos quando houve um Governo de coligação entre PS e PSD fui convidado para secretário de Estado, ia ser ministro da Agricultura o eng. Álvaro Barreto. Fui convidado às quatro da tarde e fui desconvidado às 11h da noite. Foi o maior desgosto da minha vida. Pensei abandonar a política, disse mal da humanidade mas aprendi uma lição. Não vale a pena fazer planos. Se amanhã me disserem “A sua função terminou”, não aumentarei uma pulsação por minuto no meu coração. 

Acha que há condições para o PS melhorar o seu resultado? Gostava que o PS tivesse uma maioria absoluta?
Qualquer partido em eleições luta pelo melhor resultado possível. No limite, e sem que isto queira traduzir-se em alguma vocação totalitária, todos gostariam de ter 100%. É legítimo ao PS assim como a outros partidos lutarem pelo melhor resultado possível. Na contagem de votos, ver-se-á. Gostaria que o PS tivesse um resultado folgado tão amplo quanto possível.

E que lhe permita governar de uma forma mais liberta de constrangimentos como foi nesta legislatura? 
É menos constrangedor um Governo que tem uma maioria absoluta do que um Governo que para tomar qualquer decisão tem que permanentemente estar a negociar essas soluções, e muitas vezes contornando e torcendo as suas próprias ideias. Nesta experiência governativa na Agricultura as coisas correram muito bem, mas houve muitas coisas que foi necessário negociar.

E que gostaria de ter feito diferente se tivesse condições para isso.
Pelo caminho, ficou apenas uma medida importante que até hoje não consigo compreender: como houve uma coligação negativa que foi a criação do banco de terras. No programa de Governo, tínhamos colocado nesse banco de terras todo o património rústico do Estado disperso por vários ministérios muitos deles com mau uso ou uso pouco apropriado para o distribuirmos por jovens agricultores. O objectivo era criar esse banco, arrendar os terrenos a jovens e, ao fim de um comprovado período de boa gestão, o Estado podia vendê-lo. Com esse dinheiro era criado um fundo para se comprar novas terras para continuar a alimentar esse banco. Infelizmente, a esquerda e o PSD chumbaram esta proposta. Espero que um futuro Governo possa repô-la porque é da máxima importância para o país. O rejuvenescimento do nosso empresariado é um dos problemas estruturais mais graves que nós temos. É a mágoa que levo deste mandato. É a segunda vez que isto me acontece. Propus o banco de terras no Governo do eng. Guterres, chegou a ser aprovado em Conselho de Ministros, mas entretanto o Governo caiu. Vamos ver se da próxima vez é possível. Ficarei expectante que o futuro Governo o consiga pôr finalmente em marcha.

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