Parlamento europeu cumpre o guião e elege socialista para presidente

O cargo mantém-se nas mãos de um italiano, mas passa da bancada do PPE para o S&D.

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David Sassoli felicitado por uma das suas adversárias, Ska Keller PATRICK SEEGER/EPA

Ao italiano Antonio Tajani, segue-se o italiano David-Maria Sassoli. O eurodeputado eleito pelo Partido Democrático e membro do grupo dos Socialistas & Democratas foi eleito presidente do Parlamento Europeu na segunda ronda da votação, onde conquistou 345 votos dos 630 votos válidos. “É um bom resultado”, considerou Sassoli, que prometeu “fazer mais” na próxima legislatura. “Não podemos contentar-nos em conservar o que já temos; precisamos de novas ideias e do máximo de audácia”, apelou.

Mas a previsível escolha de Sassoli teve pouco de novo e audaz. O facto de não ter contado com a concorrência de um candidato do Partido Popular Europeu e de um representante do grupo liberal, agora rebaptizado Renovar a Europa, provou que o Parlamento Europeu já terá decidido respeitar, em vez de reagir contra, o acordo para a distribuição dos cargos de topo das instituições europeias desenhado na véspera pelos líderes europeus em Bruxelas — que atribuía aos socialistas a liderança do Parlamento.

É verdade que o anúncio da sua candidatura surpreendeu, porque não era do seu nome que se falava no Conselho Europeu como aposta das hostes socialistas. Quando o “pacote global” de nomeações foi apresentado em Bruxelas, no final da épica cimeira extraordinária de líderes, era o búlgaro Sergei Stanishev, presidente do Partido Socialista Europeu, que aparecia no cargo, para preservar o equilíbrio entre Leste e Oeste, e entre países grandes e pequenos, que os 28 tinham apregoado.

Essa “intromissão” terá condenado as suas hipóteses: como sinal de descontentamento com a forma como o Conselho Europeu conduziu as negociações — e com o seu resultado — a bancada social-democrata no Parlamento quis marcar uma posição de independência, o que implicava necessariamente descartar a selecção feita pelos líderes. Stanishev nem sequer formalizou uma candidatura.

A líder da bancada socialista, Iratxe García, avançou então com o nome de David-Maria Sassoli (criando, mesmo se inadvertidamente, uma dinastia de antigos jornalistas televisivos italianos à frente do Parlamento Europeu). Sassoli ocupará o cargo até Janeiro de 2022: a meio da legislatura, os eurodeputados deverão votar para escolher um novo presidente. Se nada entretanto mudar, será Manfred Weber, o cabeça de lista do Partido Popular Europeu que assim consegue salvar a face depois de a sua própria família política ter concordado em prescindir da regra da nomeação de um spitzenkandidat para assegurar a liderança do executivo comunitário.

O “negócio” não caiu nada bem entre os socialistas. Alguns fizeram mesmo questão de manifestar a sua oposição, “desviando” o seu voto de David-Maria Sassoli para a candidata dos Verdes à presidência do Parlamento, Ska Keller — o que levou a decisão para uma segunda ronda de votos. Além da alemã dos Verdes, apresentaram-se ainda o eurodeputado checo Jan Zahradil, em nome do grupo dos Conservadores e Reformistas, e a espanhola Sira Rego, proposta pelo Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde.

No entanto, sem democratas-cristãos e liberais na corrida, a eleição de David-Maria Sassoli estava assegurada à partida. Para muitos, o interesse principal da votação era de poder servir para contar espingardas para a futura eleição de Ursula Von der Leyen, nomeada para presidente da Comissão Europeia, agendada para dia 17 de Julho.

Ou seja, os votos conquistados pelo socialista foram interpretados como “representativos” do actual apoio do Parlamento à solução proposta pelos líderes europeus para o elenco da próxima Comissão. Prenunciaram muitas dificuldades para Von der Leyen: ao contrário da eleição do presidente do Parlamento, por uma maioria dos votos válidos, a presidente da Comissão Europeia terá de ser confirmada por uma maioria parlamentar, ou seja, por 376 votos num total de 751.

Bem menos dramática foi a votação que decorreu à tarde para a eleição dos 14 vice-presidentes do Parlamento Europeu na próxima legislatura. O eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira foi confirmado como segundo vice-presidente por uma maioria de 556 votos — foi o segundo mais votado de um total de 17 candidatos. “Estou naturalmente satisfeito”, disse Silva Pereira, que tal como Sassoli encarou a eleição como um mandato para “valorizar a democracia europeia e reforçar o PE para que a vontade política dos cidadãos expressa nas eleições tenha consequência nas decisões políticas da construção europeia”.

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