Os 103 anos de Olivia de Havilland

De Havilland tem um lugar assegurado na história de Hollywood. Merece um lugar de maior destaque na cultura popular não só pela sua rica filmografia e talento, mas também pelo acto heróico de, em 1944, ter processado vitoriosamente a Warner Bros.

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Nascida, em Tóquio, há 103 anos, Olivia de Havilland comemorou, em Paris, o seu aniversário no passado dia 1 de Julho, assegurando (orgulhosamente, diria) o seu nobre posto de membro mais velho ainda vivo da realeza da velha Hollywood. O seu outrora sedoso cabelo castanho e a sua pela de pêssego tão háptica em technicolor dão hoje lugar a um imaculado cabelo branco e a rugas repletas de histórias, mas os seus expressivos olhos castanhos, pairando entre a doçura e a picardia, ainda são os mesmos. Esses olhos que viram directamente o Hollywood esplendoroso dos anos 30 que hoje pouco mais é que uma memória colectiva sem memória.

De Havilland tem um lugar assegurado na história de Hollywood, não tivesse ela encarnado um papel de destaque no clássico dos clássicos, Gone with the Wind (1939). Aqui, deu vida à abnegada e virtuosa Melanie Hamilton, um papel que moldou fortemente a sua imagem de estrela: polida e educada. A actriz tem ainda a sorte e o mérito de constituir, ao pé do charmoso Errol Flynn, uma das duplas mais lendárias de Hollywood em filmes de aventuras como The Adventurous of Robin Hood (1938). Mas se estes filmes lhe garantem menção num vasto número de livros ou documentários sobre a era de ouro de Hollywood, a verdade é que de Havilland não desfruta de um lugar tão sobressaliente quanto actrizes suas contemporâneas como é o caso de Katharine Hepburn ou de Bette Davis. Embora injusto, isto encontra fácil justificação se atentarmos não só à sua pessoa mais discreta mas também ao facto de os seus filmes mais emblemáticos não a terem como protagonista.

Não obstante, não podemos esquecer que a actriz possui uma majestosa carreira com títulos bastante famosos como To Each His Own (1946) e a obra-prima absoluta do melodrama The Heiress (1949), ganhando merecidamente o Óscar de Melhor Actriz por ambos os filmes. De Havilland merece um lugar de maior destaque na cultura popular não só pela sua rica filmografia e talento, mas também pelo acto heróico de, em 1944, ter processado vitoriosamente a Warner Bros, o estúdio para o qual trabalhava.

Era suposto o seu contrato com o estúdio terminar em Maio de 1943. Acontece que a actriz, durante certa parte do tempo do seu contrato, começou a recusar interpretar papéis que, seguramente, não eram do seu agrado. Isto fez com que sofresse algumas suspensões. Assim sendo, de Havilland foi informada de que ainda teria de trabalhar por mais 25 semanas de forma de compensar o tempo das suas suspensões. Apesar da terrível notícia, a actriz levou a melhor, ao basear-se numa lei da Califórnia, segundo a qual um contrato não pode aplicar-se a um empregado para além de sete anos desde o início do serviço. Felicidade das felicidades, de Havilland saiu vitoriosa: livrou-se do infindável contrato com a WB. A partir daí pôde interpretar papéis que realmente apreciava e chegou a ganhar dois Óscares. Este acontecimento histórico abalou definitivamente o studio system, ao favorecer o fim dos contractos dos atores com os estúdios.

Sem dúvida que, como Victoria Amador observou, de Havilland, ainda que dando vida à dócil Melanie, revelou-se mais ser como uma verdadeira Scarlett O’Hara. A verdade é que o vento nunca levará o seu carisma nem a sua beleza. Nem que amanhã já seja outro dia...

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