Uma esplêndida baleia

Ao romper com os tratados internacionais de protecção das baleias, o Japão está a dizer ao mundo ser aceitável a captura e extinção não só das baleias, mas também de pandas, coalas, ursos polares.

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Masashi Kato/Reuters

Em 1986 fui ao cinema ver o Start Treck IV com o meu avô. Há data com oito anos, mal sabia estar a vivenciar o nascimento de um movimento à escala global, o movimento ecologista, com um objectivo bastante claro: salvar o planeta.

O filme conta-nos sobre uma ameaça à Terra por uma sonda alienígena em 2286, a qual só comunica com baleias-corcunda. Num mundo onde esta espécie já estava extinta, fruto da caça intensiva e da poluição, o intrépido capitão Kirk e a sua tripulação viajam ao passado de modo a trazer um destes magníficos cetáceos de volta ao presente.

Ora, tendo em conta que uma baleia-corcunda pode medir até 16 metros de comprimento e pesar até 30 toneladas, por aqui podem perceber as peripécias à espera dos nossos aventureiros num dos filmes mais queridos da saga.

Já uma baleia-azul pode medir até 30 metros e pesar 150 toneladas; 30 metros, para que tenham uma ideia, equivalem mais ou menos a um prédio de 10 andares. As baleias são os gigantes dos mares e a baleia-azul, um autêntico santuário vivo, é o maior mamífero da Terra. Só por isso merece o nosso respeito e admiração.

As baleias são mamíferos. Peço desculpa pela repetição de ideias, mas é inevitável. E, por serem mamíferos, é impossível não nos identificarmos com as mesmas. Desenvolvem-se a partir de uma placenta e mamam durante os primeiros tempos de vida. Como nós. Alimentando-se de krill e de outros pequenos animais marinhos, não só são inofensivas como não competem directamente connosco.

No Japão, no entanto, não parecem estar de acordo. Num país onde a caça à baleia remonta ao século XII, esta segunda-feira, 1 de Julho, os japoneses retomaram a matança destes animais, tendo já capturado “uma esplêndida baleia”. E sim, as baleias são esplêndidas, mas vivas, por favor. Assim é que as baleias são esplêndidas, de pouco me importando a tradição e a cultura de um país e do seu povo, sem esquecer os interesses económicos, pois claro!

Ao romper com os tratados internacionais de protecção das baleias, o Japão está a dizer ao mundo ser aceitável a captura e extinção não só das baleias, mas também de pandas, coalas, ursos polares, só para citar alguns dos mais emblemáticos, e consigo toda a fauna e flora da Terra.

Num mundo onde as alterações climáticas são o maior sinal de alerta para a conservação da natureza, o Japão assumiu a sua determinação na extinção do ser humano. Tudo em nome da tradição... A escravatura também era tradição, a discriminação dos outros com base na cor de pele, género, credo ou orientação sexual também era tradição. A Inquisição era uma tradição. As ditaduras são tradição e as guerras sem fim também.

Cúmplice, a comunidade internacional é quota parte responsável por este triste dia. Cabe, por conseguinte, a cada um de nós, questionar os nossos governos e políticos, protestar e votar em conformidade.

Porque, entretanto, 2286 já está ao virar da esquina e esta corrida contra o tempo não é apenas uma corrida para salvar a natureza, é também uma corrida para salvar o ser humano de si próprio.

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