Refugiados: alemã de 31 anos torna-se símbolo do antipopulismo

Carola Rackete está a apoiar migrantes por ter nascido num país que lhe deu todos os direitos. O seu navio, com pelo menos 40 pessoas, foi interceptado pelas autoridades italianas numa ilha a sul de Itália. Matteo Salvini opõe-se à entrada de migrantes no país.

Carole Rackete salva refugiados em associação com a Sea Watch, nome adoptado para a navegação que aguarda autorização para entrar em Itália
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Carole Rackete salva refugiados em associação com a Sea Watch, nome adoptado para a navegação que aguarda autorização para entrar em Itália EPA/TILL M. EGEN/SEA-WATCH HANDOUT
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Uma jovem alemã que capitaneou um navio de resgate a vários migrantes e se dirigiu para Itália, rejeitou as ameaças de prisão e críticas pessoais proferidas por Matteo Salvini, o ministro do interior de extrema-direita daquele país europeu. Carola Rackete, de 31 anos, diz que a sua principal prioridade é a segurança das 40 pessoas africanas que salvou.

Depois de duas semanas no mar, a germânica tornou-se o símbolo da oposição à autoridade de Salvini, recentemente considerado o “il Capitano” (o capitão) por ter impedido a entrada de barcos de resgate não ligados ao Governo nos portos italianos.

Em declarações aos jornalistas via Skype a partir do barco Sea Water Rackete, disse que se viu forçada a entrar em águas italianas devido ao estado de saúde dos migrantes, retirados dos mares internacionais ao largo da Líbia a 12 de Junho. “A necessidade que temos a bordo é psicológica. É urgente ir para o porto para evitar danos auto-inflingidos”, explicou.

Rackete, uma conservadora que no ano passado apoiou actividades da Greenpeace, diz que se dedica ao salvamento de migrantes para reagir à educação privilegiada que considera ter. “A minha vida era fácil. Sou branca, alemão, nasci num país rico e com o passaporte certo”, disse Carola Rackete. “Quando me apercebi de tudo isso, senti a obrigação moral de ajudar aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades que eu.”

O navio Sea Watch também dá nome a uma organização solidária que gere desde 2014 com o objectivo de salvar pessoas no mar Mediterrâneo.​

O apoio de partidos pró-imigrantes da oposição ao Governo italiano à alemã não pára de crescer à medida que Salvini continua a recorrer ao Twitter. Nessa rede social, o ministro do interior italiano considerou Rackete uma “pirata”, “criminosa” e questionou as motivações da alemã.

“A senhora disse que se voluntariou porque nasceu branca, rica e alemã. Mas toda a gente que é branca, rica e alemã vieram para Itália partir-nos as bolas. Ajuda as crianças na Alemanha!”, atirou Salvini que nesta sexta-feira comparou Rackete a um voluntário de outra organização de caridade que o chamou de “fascista”.

Itália quer ajuda europeia com os migrantes

Salvini diz que só irá autorizar a entrada de Rackete e da sua embarcação no porto italiano quando outros estados europeus aceitarem acolher migrantes em terra firme. Por outro lado, garante que as autoridades italianas irão apreender o navio e acusar a capitã de assistir uma rede de tráfico humano.

No entanto, um oficial da Comissão Europeia, citado pela agência de notícias italiana AGI, disse que a alocação de migrantes pelos estados-membros precisa de ser trabalhada e isso deve, entretanto, permitir a entrada do navio de Rackete.

Depois de aguardar em águas internacionais para um convite de Itália ou de outro estado da União Europeia a acolher o Sea Watch, Rackete decidiu esta semana navegar até à ilha de Lampedusa, no sul de Itália, mas foi bloqueada por forças marítimas transalpinas.

Carola Rackete admite que ainda não leu as críticas que lhe foram dirigidas por Salvini. “Não tenho tempo. Tenho 40 pessoas para tomar conta. O senhor Salvini pode aguardar na fila.”

Rackete já se encontra sob investigação por ter violado as mais rígidas leis de Itália contra navios de resgate não-governamentais. Um promotor no sul da Itália acrescentou que isso foi uma formalidade porque o navio Sea Watch entrou em águas italianas.

O porta-voz do Sea Watch, Ruben Neugebauer, disse que o grupo esperava que Rackete fosse autorizada a atracar o navio ainda esta sexta-feira ou no sábado, mas acabou por considerar uma vergonha que a Europa estivesse a demorar tanto tempo a concluir o processo.

“Estamos muito orgulhosos da nossa capitã, que não hesita em ter consequências pessoais para fazer exactamente a coisa certa, por seguir a lei do mar e por trazer estas pessoas para a segurança”, disse Neugebauer ao canal da Reuters, em Berlim.

A organização Sea Watch pediu ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos que obrigasse as autoridades italianas a permitir que o navio atracasse, mas o pedido foi rejeitado. Em vez disso, o tribunal decidiu que a Itália devia fornecer toda a assistência necessária às pessoas que estão a bordo do navio.

Rackete disse no Twitter esta sexta-feira que estava pronta para enfrentar as consequências da lei italiana. Uma vez informada de que estava a ser investigada, a alemã escreveu: “Eu vou ter todo o apoio dos advogados e da Sea Watch, agora só quero que as pessoas sejam colocadas em terra”.

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