A desumanidade sem fronteiras

A política de repressão fronteiriça da administração de Trump é indigna das tradições democráticas do país e da sua história de nação formada por levas de imigrantes, nas quais está incluída a família do próprio alienígena que governa o país.

Crianças que vivem em jaulas sobrelotadas, sem cuidados médicos, sem poderem lavar os dentes ou tomar banho, sujeitas a pragas de piolhos e a surtos de gripe, como acontecia no centro de detenção de Clint, no Texas, é profundamente desumano. As condições em que viviam estas 300 crianças oriundas de países da América Central, denunciadas por um grupo de advogados, não devem ser diferentes das mais de duas mil que vivem nestes centros de detenção (que a expressão campos de concentração começa a substituir no debate público nos EUA).

A política de repressão fronteiriça da Administração Trump é indigna das tradições democráticas do país e da sua história de nação formada por levas de imigrantes, nas quais está incluída a família do próprio alienígena que governa o país. A fotografia de Óscar e Valeria — pai e filha afogados no abraço do desespero da travessia do Rio Grande — é o axioma dessa política. A tragédia da família salvadorenha é a metáfora cruel da situação em que se encontram os imigrantes que fogem da miséria ou da guerra e que acabam retidos nos limbos fronteiriços do México e EUA.

O pior é que tudo se conjuga para que este cenário desumano se agrave e que mais imigrantes morram por lhes ser negada a protecção que o direito internacional deveria assegurar de antemão. Não só porque Lópes Obrador, o tal que exigiu um pedido de perdão a Espanha pelos excessos da conquista do seu país, reforçou a fronteira com mais 26 mil soldados, o que fez sobre a natural pressão de um Trump em estado de guerra contra a imigração, mas também porque o novo responsável pela segurança das fronteiras dos EUA é, nada mais, nada menos, que um lombrosiano.

Mark Morgan acredita que basta olhar um imigrante nos olhos para perceber se ele é ou não um membro do MS-13 (um gang que protegia os salvadorenhos de outros gangs em Los Angeles). Como não poderia deixar de ser, Morgan foi contratado pelo teor das suas prestações na FOX News, o oráculo predilecto de Trump, nas quais, já adivinharam, defendeu a construção de um muro na fronteira e mais dureza nas acções contra a imigração.

A única boa notícia em todo este drama é a ténue esperança de que o partido democrata, que esta semana terá despertado, ao aprovar no Congresso a atribuição de 3,9 milhões de euros para garantir a salubridade nos centros de detenção, faça do tema uma causa política e esteja disposto a defender, efectivamente, o que é necessário defender em qualquer país do mundo: os direitos humanos mais básicos.

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