Arquitectos e designers de interiores transformam mosteiro em casa de luxo

Até 13 de Julho, as celas do Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, estão transformadas em divisões de uma casa. É a 4.ª edição do Sleep In Porto com muito luxo e novidades.

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Pormenor do trabalho do designer Fabián Conte para o tema "O Amor que Fica"
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Cristina Archer imaginou como seria o quarto de um fotógrafo alemão
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Rui Maciel criou um quarto para dois amantes que vivem um amor impossível
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Pormenor do quarto de Nuska Flemming criou a pensar numa mulher independente
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O quarto do pai da jovem brasileira que vai para Portugal estudar, imaginado por Zaida Mendes
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O trabalho de Miguel Costa Cabral
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Ana e Mafalda Lencastre redecoraram uma das celas do mosteiro
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Pormenor do trabalho do Código Design

Cheira a tinta fresca, ouvem-se berbequins, há mobiliário ainda embalado, almofadas empilhadas, restos de papel de parede no chão. Arquitectos e decoradores dão os últimos retoques nos ambientes que estão a criar nas celas do Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, no âmbito da 4.ª edição do Sleep In Porto, a mostra de arquitectura e design de interiores que inaugura nesta sexta-feira. 

No mosteiro vive-se um ambiente de azáfama, antes da abertura ao público. Em tempos, ali viveram os monges, mas até 13 de Julho o espaço do claustro e das celas transforma-se em quartos, cozinha ou casa de banho como se de uma casa verdadeira se tratasse. O desafio colocado a todos os profissionais é para que decorem os espaços a partir de um tema e para personagens com histórias imaginárias.

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No claustro uma instalação de Vanessa Barragão

O tema é o amor, We Love Portugal. E como amores há muitos, a cada profissional calhou um. Por exemplo, à arquitecta de interiores Zaida Mendes, de Cascais, o desafio é o do “Amor Incondicional”. A criadora imaginou um pai, Tarcisio, e uma filha, Aline Jordão Mendonça, que chegaram a Portugal vindos de São Paulo, Brasil, para a jovem fazer uma pós-graduação em artes. “Além do amor incondicional entre pai e filha, também há o amor entre Portugal e o Brasil”, justifica a arquitecta, apontando para o galo de Barcelos, o tapete com alusões aos azulejos típicos do Porto e as imagens dos santos para o pai rezar.

“[Os profissionais] pensam os espaços ao pormenor e encarnam as personagens”, sublinha Dina Souto Rosa, da organização do Sleep In Porto – um evento no qual os participantes não pagam para estar presentes, nem os visitantes pagam para ver a exposição e outras actividades que ali acontecem. “Não pagam para participar ao contrário do que acontece com outros eventos do género”, declara a organizadora, acrescentando que a iniciativa envolve milhares de euros, entre pinturas das paredes e outros arranjos feitos no espaço. O evento funciona por parcerias com empresas que suportam os custos dos trabalhos e cedem peças de mobiliário e de decoração. “Não seria possível de outra forma”, reconhece Dina Souto Rosa. 

Clientes imaginários para cenários reais

Mais à frente está a decoradora Cristina Archer que confessa que “ter um cliente imaginário é extraordinário, sobretudo quando a Dina [Souto Rosa] dá livre-trânsito” à criatividade dos profissionais. Archer, que participa pela quarta vez, desenvolveu um cenário em tons preto e branco para o fotógrafo alemão Dener Shulz, na casa dos 50 anos, que passa a vida a viajar pelo mundo. “As celas são um desafio porque sabemos a história do espaço e é um privilégio criarmos um ambiente contemporâneo muitos anos depois”, diz.

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Pormenor da criação de Cristina Archer

Quase todas as celas têm vista para a ponte de D. Luís e para o rio Douro, como o espaço do arquitecto Rui Maciel, do Porto, onde o PÚBLICO encontrou o profissional a colar papel francês de parede no tecto da cela para lhe dar um estilo palaciano. Neste quarto luxuoso, tudo é colocado ao pormenor para o arquitecto conseguir cumprir a temática “Amor de Perdição”, à medida da personagem imaginária, a argentina Maria Belén de Muñoz Rodriguez e Mora, filha de um embaixador, que se apaixonou por um músico de rua à porta do café Magestic. O casal vive esse amor neste quarto romântico com uma das paredes forrada de espelho e pufes franceses feitos de arame trabalhado. Por ali há ainda uns pendentes pretos de pele que o arquitecto trouxe, há alguns anos, de Marrocos e vai utilizar pela primeira vez nesta “montra com requinte”, onde já costuma participar. 

Já o designer Fabián Pellegrinet Conte decorou o espaço “O Amor que Fica” para o filipino Jung Kawatsu. O profissional desenhou propositadamente várias peças de mobiliário, como uma cama com 88 torres dos clérigos feitas à mão, inspirada na vista da janela para a Torre dos Clérigos e a ponte D. Luís, descreve ao PÚBLICO. Por ali, há um sofá estofado com tecido francês, inspirado na Torre Eiffel. “Este quarto é uma homenagem ao Barroco, ao Porto e a Paris”, resume o designer que tem uma marca de móveis na capital francesa.

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Da imaginação de Fabián Pellegrinet Conte nasceu uma cama trabalhada

Uns metros à frente, está a decoradora Nuska Flemming a recriar o quarto “Amor Próprio” para a escocesa Corinne Macduff, que pertence a um antigo clã. “Por coincidência, o meu nome também é de um clã escocês, embora eu seja portuguesa”, revela divertida, acrescentando que também se inspirou em Moçambique para os tecidos das almofadas e dos tapetes, as fotografias e as malas antigas e gastas. 

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Quarto de Nuska Flaming

Moda e decoração

A decoradora Ana Aveiro e o arquitecto Nuno Ribeiro dão vida ao quarto “Amor vadio”, onde se pode ver um aquário com peixes, num canto, para transpor o rio Douro para dentro de casa, descreve o arquitecto. “Este é um espaço cheio de arte, com um trompete e outras peças que o morador traz das suas viagens”, imagina Ana Aveiro. A dupla criou este ambiente influenciada pelo filme As Cinquenta Sombras de Grey e imaginou Philippe Guinot, um homem de negócios monegasco, sedutor, com alguns objectos mais eróticos no quarto.

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Trabalho de Ana Aveiro e Nuno Ribeiro

Por ali, há ainda peças do designer e escultor Paulo Ramunni que criou a instalação escultórica “Dualidades”, feita de aço e de cobre, para o exterior do mosteiro, numa das entradas para a exposição. “É quase como estar a fazer uma escultura no ar por causa do peso e da leveza”, elucida o criador, acrescentando que “a ideia é que as pessoas interajam com a escultura ao passarem debaixo dela” quando entram no mosteiro. Recentemente, o escultor criou uma instalação para a fachada do centro comercial Via Catarina, no Porto, com mais de 20 esculturas de homens, mulheres e crianças, espalhadas pela fachada. 

Edgar Gouveia, Miguel Costa Cabral, Ana Lencastre e Mafalda Lencastre, Manuela Pinto, Ana Alves, Margarida Barbosa e Francisco Neves são mais alguns dos profissionais que participam no Sleep in Porto. Há ainda exposições de escultura, pintura, fotografia, arte têxtil e floral. Hoje a designer Micaela Oliveira leva à passrelle do mosteiro coordenados com o tema “Amor em Tempo de Guerra”.

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