A equipa de estudantes universitários que começa hoje a jogar a Liga Europa

O clube tem apenas 19 anos, os seus jogadores são alunos de uma das universidades da capital do País de Gales e o treinador é lá professor.

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A festa do apuramento para a Liga Europa do Cardiff Met Matthew Lofthouse/Wales Premier League

É já hoje que arranca mais uma edição da Liga Europa, com sete jogos da ronda preliminar daquela que é a segunda mais importante competição da UEFA, ganha a época passada, pelo Chelsea. Lá mais para a frente, Vitória de Guimarães (2.ª pré-eliminatória), Sporting de Braga (1.ª pré-eliminatória) e Sporting (fase de grupos) também irão marcar presença. Até o FC Porto e o Benfica, consoante o seu desempenho na Liga dos Campeões, poderão vir a disputar jogos na competição. Antes, entra em acção o desconhecido Cardiff Metropolitan University, protagonista de mais uma daquelas histórias improváveis que o futebol teima em oferecer.

Constituída apenas por estudantes de mestrados e doutoramentos, a equipa de futebol da Cardiff Metropolitan University venceu o play-off de acesso à prova continental ao derrotar o Bala Town, no desempate por grandes penalidades, após uma igualdade a um golo no tempo regulamentar e não desfeito no prolongamento.

O guarda-redes Will Fuller foi o herói do jogo, ao defender três penáltis. Neste momento a tirar um mestrado em Psicologia do Desporto, foi um dos principais responsáveis pelo inédito apuramento do Cardiff Met para a Liga Europa.

O feito rendeu um prémio de participação de cerca de 200 mil euros pago pela UEFA. Dinheiro que, de acordo com o treinador Chris Edwards, será destinado à melhoria das infra-estruturas de um clube que joga num estádio com capacidade para 1600 espectadores.

Do quarto escalão à Premier League

Edwards, ex-jogador de Swansea City, Nottingham Forest e Bristol Rovers, orienta uma equipa que é constituída unicamente por estudantes que frequentam diversos cursos na universidade galesa e que não cobram um cêntimo para defender as cores desta ao mais alto nível do futebol europeu. Aliás, têm de pagar do seu bolso, perto de 170 euros de quota anual. O próprio técnico não recebe qualquer vencimento por desempenhar esta função, mas apenas por ser professor na universidade.

As idades dos jogadores variam entre os 19 e os 27 anos, idade do mais velho. Já o clube tem apenas 19 anos - foi fundado em 2000, da fusão entre o Inter Cardiff e o Cardiff Metropolitan University. Só em 2009 adquiriu a actual designação e em 2010 bateu no fundo, descendo para o IV escalão do futebol galês. Mas entre 2012 e 2014 conseguiu duas promoções consecutivas e em 2016 alcançou a Premier League galesa.

Agora, o Cardiff Met atinge outro marco histórico. “Isto não é o nosso fim, é apenas o princípio. Não se trata de uma questão financeira, mas sim de deixar toda a universidade orgulhosa. Nunca vamos pagar aos nossos jogadores, que estão aqui pelo amor à instituição”, declarou Chris Edwards, que recebeu 14 telefonemas enquanto falava com um jornalista do The Guardian para uma reportagem publicada esta semana. “Isto é uma loucura!”, desabafa.

Edwards, contudo, tem as ideias claras quanto às razões do sucesso do Cardiff Met. “Quando os jogadores aparecem aqui não assinam nenhum contrato. O melhor contrato que podem ter é o de quererem estar aqui. A recompensa está noutro patamar, a de forjarem ligações que durarão toda a vida com os seus colegas. Enquanto nos mantivermos conscientes deste compromisso, penso que tudo correrá bem. No momento em que formos contra os nossos princípios e começarmos a distribuir dinheiro, passaremos a ter problemas. Enquanto eu estiver à frente da equipa isso nunca acontecerá”, disse o treinador noutra entrevista, ao The Independent.

Treinador e doutor

Edwards é, ele próprio, um treinador diferente da maioria. Retirado desde 2006, o técnico agora com 43 anos, concluiu desde essa altura uma licenciatura, um mestrado e um doutoramento. Algo semelhante à esmagadora maioria dos jogadores que agora treina. “No início, a equipa era quase toda composta por alunos de licenciatura. Hoje em dia a maior parte são alunos de doutoramento ou de pós-graduação”, revelou.

São vários os contextos pessoais dos jogadores do Cardiff Met mas só dois chegaram a ser futebolistas profissionais antes de ingressarem na universidade. A maioria nunca teve qualquer contacto com o futebol antes. Cinco eram agricultores.

No duelo de hoje, com os luxemburgueses do Progrès, Edwards sabe que não haverá facilidades, embora acredite num bom resultado: “Temos consciência de que será um teste difícil para nós. Mas talvez eles nos subestimem por sermos estudantes…”

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