A escola face aos desafios da desigualdade

Se a escola pública é um bem imprescindível para uma sociedade que se pretende mais justa, é crucial dar-lhe meios para que corrija o mais possível a desigualdade de oportunidades entre os seus alunos

Acreditar que o sistema público de ensino seja capaz por si só de resolver o problema da igualdade de oportunidades é uma utopia que o tempo e a realidade se encarregaram de provar. Mas se a escola, principalmente nos primeiros anos da educação das crianças e jovens, não consegue eliminar as desigualdades que nascem da diferença dos rendimentos ou dos níveis educativos das famílias, é exigível que, ao menos, as mitiguem. O estudo do Edulog que o PÚBLICO revela esta quarta-feira dá que pensar precisamente por nos mostrar que esse papel de nivelador social do sistema educativo está longe de alcançar os resultados devidos. Os filhos dos pais com mais formação são os que acedem em maior quantidade aos cursos universitários que supostamente garantem os melhores empregos. Mesmo que na tendência geral haja felizmente excepções (15% dos estudantes de medicina vêm de agregados familiares mais pobres), a regra geral prova que o sistema reproduz a ordem socioeconómica prevalecente e não promove a mobilidade.

Haverá seguramente muitas formas de questionar o modelo que sustenta esta realidade, desde a selectividade no acesso ao ensino superior até aos instrumentos que o ensino básico e secundário tem para garantir que todos os alunos, de famílias pobres ou ricas, possam dispor de condições próximas para obter notas altas. E mesmo que seja injusto e inviável pedir aos professores e às escolas que corrijam nas salas de aula as condições de desigualdade presentes no todo social, é importante que este problema disponha de mais tempo no debate do sistema educativo. Se a escola pública é um bem imprescindível para uma sociedade que se pretende mais justa, é crucial dar-lhe meios para que corrija o mais possível a desigualdade de oportunidades entre os seus alunos.

É por isso que custa a perceber que não haja alternativas na escola às explicações que só as famílias com mais posses conseguem pagar. E custa ainda mais entender como é que, passados tantos anos de estudos a provar o fenómeno da inflação das notas que se repete em algumas escolas privadas, não haja ainda uma resposta para o debelar. São, claramente, pequenos detalhes num imenso problema. Mas se é impossível apagar os efeitos que a pobreza, a desestruturação das famílias ou a iliteracia deixam nos alunos com menores índices de aproveitamento escolar, estes são dois temas que a escola pública e o Estado tinham o dever de debelar. Não resolveria o problema por inteiro, mas, ao menos, deixaria a sensação de que o país está a fazer muito mais para que os filhos dos pobres tenham as mesmas condições de acesso aos cursos que estão na prática reservados aos filhos dos mais afluentes.

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