A maioria das famílias devolveu manuais escolares emprestados

Os directores das escolas constatam também o “trabalho escravo” de quem está a avaliar o estado de conservação de milhares de livros, que têm de ser analisados página a página.

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Até sexta-feira, as escolas têm de dar por terminado o processo de avaliação do estado de conservação dos manuais escolares PAULO PIMENTA

A maioria das famílias está a devolver os manuais escolares emprestados, segundo um balanço dos directores das escolas, que constatam o “trabalho escravo” de quem está a avaliar o estado de conservação de milhares de livros.

Até sexta-feira, as escolas têm de dar por terminado o processo de avaliação do estado de conservação dos manuais escolares que o Ministério da Educação emprestou a mais de 500 mil alunos do 1.º e 2.º ciclos.

No início do ano lectivo, foram distribuídos cerca de 2,8 milhões de manuais que os encarregados de educação tiveram agora de devolver para poder continuar a beneficiar da medida. “Os professores e funcionários têm estado a receber milhares de manuais e a avaliar página a página o estado de conservação. Toda a escola está a trabalhar nisto. É um trabalho escravo”, conta à Lusa Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).

Também o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, reconhece que este é um trabalho hercúleo, mas considera natural que todos participem no processo de reutilização, caso contrário a medida poderá tornar-se economicamente inviável.

Este ano, a distribuição de manuais aos alunos do 1.º e 2.º ciclos custou cerca de 30 milhões. Para o ano, a iniciativa será alargada a todos os estudantes do ensino obrigatório e custará 145 milhões.

O sucesso da medida está dependente da reutilização dos manuais e este é um processo que só funciona se todos participaram, sublinha Filinto Lima.

Aos alunos foi pedido que estimassem os manuais, aos encarregados de educação que apagassem o que tinha sido escrito durante o ano lectivo e agora às escolas cabe a tarefa de avaliar o estado de conservação e colocar as informações na plataforma MEGA, que depois atribui os vouchers aos alunos.

A três dias do fim do processo, os dois representantes dos directores escolares fazem um balanço positivo do processo de reutilização. Segundo Manuel Pereira, “serão muito escassos os casos em que as famílias não devolveram os manuais, até porque foram todos avisados que não receberiam novos vouchers”.

A ideia é corroborada por Filinto Lima, que acredita que apenas os pais dos alunos mais pequenos poderão optar por ficar com os manuais “como recordação dos primeiros livros dos filhos”. Mas também, lembrou Filinto Lima, esses são os manuais mais difíceis de reutilizar, já que são feitos para os alunos escreverem, desenharem e até colarem autocolantes.

Tirando estes casos, o presidente da ANDAEP diz que já se nota uma maior cultura de reutilização. “Vamos aumentar a taxa de reutilização e de certeza que este é um processo que vai melhorar de ano para ano”, defende, reconhecendo que este ano lectivo apenas 4% dos manuais distribuídos pelo ministério eram em segunda mão.

Também Manuel Pereira fala numa “alta percentagem de reutilização”, mas reconhece que existem livros que “não serão muito estimulantes para quem pega neles pela primeira vez”.

“Os professores estão a avaliar caso a caso e a verdade é que nem todos os alunos vivem em apartamentos com todas as mordomias. Há muitos livros com marcas de uso”, explica, garantindo que os professores são sensíveis à situação dos alunos e não querem prejudicar quem tentou estimar os manuais durante o ano.

Nas escolas, o processo de carregar os dados dos alunos para o ano lectivo 2019/2020 na plataforma MEGA termina na sexta-feira.

Os vouchers para o próximo ano lectivo serão disponibilizados a partir de 9 de Julho para a grande maioria dos alunos, com excepção dos alunos que agora iniciam um novo ciclo ( os do 1.º, 5.º, 7.º e 10. º anos) que vão ficar disponíveis a partir de 1 de Agosto.

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