O mundo árabe está menos religioso, mas continua homofóbico

A religião está a perder importância na vida dos cidadãos dos países árabes, indica uma grande sondagem feita para a britânica BBC. Mas tal não significa o fim do conservadorismo na região, onde a homossexualidade continua a ser vista como inaceitável.

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Sul de Marrocos Daniel Rocha

Há cada vez mais árabes que dizem não ter religião. Esta é a principal conclusão de uma grande sondagem feita a mais de 25 mil cidadãos de países árabes pelo centro de pesquisa Arab Network para o serviço de língua árabe da britânica BBC, cujos resultados foram divulgados esta segunda-feira, e que também abordou temas como a emigração, a sexualidade ou as questões de género.

Em 2013, havia 8% de inquiridos que diziam não ser religiosos. Essa percentagem aumentou agora para 13%, refere a BBC – e este aumento é sobretudo notado na população com menos de 30 anos, em que 18% dos inquiridos que não se consideram religiosos. Só o Iémen é que registou a tendência contrária.

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Sobre a igualdade de género, na maior parte dos países árabes os inquiridos consideram aceitável que exista uma mulher possa vir a ser primeira-ministra ou Presidente, com quase todos os países a terem mais de 50% a dizer que não se importariam que tal acontecesse (à excepção da Argélia, onde esta posição é minoritária). Ainda assim, o mesmo não se aplica à vida doméstica: a maior parte dos inquiridos, incluindo as próprias mulheres, acredita que são os maridos que devem ter a última palavra em casa. Só em Marrocos é que a percentagem de pessoas que acham que os maridos devem mandar em casa é inferior a 50%.

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Já a aceitação da homossexualidade continua a ser muito baixa em todo o mundo árabe: no Líbano, um país relativamente liberal nos costumes para o padrão regional, apenas 6% dos inquiridos consideram ser algo aceitável. Nos territórios palestinianos, apenas 5%. Na Jordânia e na Tunísia, 7%. Na Argélia, 26% dos inquiridos consideram a homossexualidade aceitável, em Marrocos 21% e no Sudão 17%.

Já os crimes de honra – quando se mata um familiar (normalmente uma mulher) por um comportamento que se entende trazer desonra à família – ainda são vistos com alguma normalidade na Argélia (27%) e em Marrocos (25%). Na Tunísia, no Líbano e nos territórios palestinianos esta percentagem é de 8%.

A grande sondagem indica ainda um aumento da intenção de emigrar em grande parte dos países árabes: concretamente na Jordânia, no Iraque, em Marrocos, na Líbia, na Tunísia e no Egipto. Ainda que a tendência tenha diminuído no Sudão, mais de metade dos inquiridos continua a pensar em fazê-lo. As razões económicas são a principal causa apontada em todos estes países. A Europa continua a ser o principal destino de saída, mas tem-se tornado cada vez menos popular. A América do Norte, os países do Golfo e outros estados do Médio Oriente e do Norte de África têm vindo a ganhar terreno nas preferências dos árabes.

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