Partido de Erdogan reconhece derrota nas eleições para a Câmara de Istambul

Candidato da oposição liderava com nove pontos de vantagem quando estavam contados 95% dos votos. Primeira eleição, a 31 de Março, também foi ganha pela oposição mas as autoridades do país mandaram repetir a votação por suspeitas de irregularidades.

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Ekrem Imamoglu deverá ser o próximo presidente da Câmara de Istambul LUSA/SEDAT SUNA
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A oposição na Turquia garantiu a vitória na repetição da corrida à presidência da Câmara de Istambul, um resultado que representa o maior golpe nos 16 anos de poder do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Ekrem Imamoglu, o candidato do Partido Popular Republicano (CHP), obteve 54% dos votos contra 45% do candidato do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de Erdogan. O candidato da oposição aumentou significativamente a margem sobre o seu adversário face às eleições de 31 de Março, cujo resultado acabou por ser anulado. Na altura, Imamoglu tinha vencido com mais 13 mil votos do que Binali Yildirim, mas agora foi superior a 770 mil, mostrando uma clara penalização eleitoral do AKP.

O candidato vitorioso falou de “uma nova página” na principal cidade turca, com mais de 15 milhões de habitantes, e saudou os seus eleitores: “Vocês protegeram a reputação democrática da Turquia.” Imamoglu dirigiu-se também a Erdogan, garantindo estar disponível para trabalhar “em harmonia” com o Presidente.

O candidato do AKP e antigo primeiro-ministro, Binali Yildirim, concedeu a vitória ainda antes de a votação estar concluída e deu os parabéns ao adversário. “Felicito-o e desejo-lhe toda a sorte. O meu desejo é que Imamoglu sirva bem Istambul.”

Através do Twitter, Erdogan deu os parabéns ao novo presidente da Câmara Municipal de Istambul.

A vitória de Imamoglu está a ser interpretada como uma derrota pessoal de Erdogan, que sempre encarou Istambul como um reduto fundamental para o domínio do AKP sobre a vida política turca - foi lá que o actual Presidente iniciou a sua carreira política, nos anos 1990.

A perda de Istambul “marca o início do fim presidência ao estilo turco e poderá ser difícil à máquina do AKP sustentar-se”, disse à Al-Jazira o professor da Universidade Bilkent, Berk Esen.

Nas eleições locais de 31 de Março, Imamoglu saiu vencedor por uma curta margem, mas o AKP recusou aceitar a derrota e exigiu a repetição da votação, alegando irregularidades.

O conselho de eleições decidiu aceitar o protesto do partido no poder e convocou a repetição da eleição para este domingo, o que motivou críticas da oposição interna e também de vários países ocidentais aliados da Turquia.

A repetição do acto eleitoral era visto como um teste à democracia turca, que vem sofrendo vários abalos nos últimos anos, especialmente no campo da liberdade de imprensa e na separação de poderes.

Erdogan foi presidente da Câmara de Istambul na década de 1990, antes de ingressar na política nacional para liderar o país como primeiro-ministro e, depois, como Presidente.

Os primeiros anos da sua liderança foram de forte crescimento económico, mas nos últimos anos Erdogan tem sido acusado pelos seus críticos de assumir uma postura autoritária e intolerante para com a oposição.

A ser confirmada, a segunda derrota na maior cidade da Turquia causa um grande embaraço ao Presidente e pode vir a enfraquecer o seu poder no país. A curto prazo, a vitória da oposição pode provocar uma remodelação governamental e até alguns ajustamentos na política externa turca – os EUA ameaçaram aplicar sanções à Turquia após o anúncio da compra de um sistema de mísseis à Rússia.

A derrota em Istambul, após uma campanha activa por parte de Erdogan, pode também levar à antecipação das eleições gerais, marcadas para 2023.

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